sexta-feira, 17 de junho de 2011

Fortaleza : Luiziane reprime professores em greve

Tenho grande apreço pela prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins. Lutadora desde muito jovem, foi presidente do DCE da UFC numa época difícil para a esquerda, sob o manto da ditadura Tasso / Ciro, que se não cooptava, destruía lideranças. Juntos travamos uma luta contra forças muito grandes em 1992, quando o PT estadual do Ceará pretendia apoiar para prefeito em Fortaleza um candidato do PSDB, o que seria o fim do partido no estado, pois sua militância aguerrida jamais aceitaria essa incoerência.


E não aceitou: tivemos candidatura própria do PT em Fortaleza, que tive a honra e o desafio de representar. Contra a direita, e as direções estadual e nacional do PT, contando com o apoio de gente que até hoje está no PT fazendo o pouco de democracia interna que ainda resta, tocamos uma campanha que elegeu dois vereadores e conquistou 4,5% dos votos. Pouco no geral, mas suficiente para dar esperanças à militância de dias melhores no PT.

A luta continuou, mesmo derrotada nos anos seguintes, quando o partido apoiou Inácio Arruda (PC do B), até que Luizianne, enfrentando o mesmo processo que resultou na minha candidatura, conseguiu mobilizar a militância e derrotar as direções estadual e nacional novamente, com a sua candidatura. De forma semelhante, foi boicotada pelo partido, que queria a candidatura de Inácio Arruda. Sua vitória foi revolucionária. em 2006. A juventude, em especial, comemorou muito.

Desde então Luizianne conseguiu conquistar espaços no partido e chegou à presidência do PT estadual. Nunca foi aceita pelas elites reacionárias, que usaram de todos os meios para difamá-la. Em janeiro, quando estive em Fortaleza, ouvi muitas baixarias sobre ela, oriundas desses meios, e pensei que o governo dela não deveria ser tão ruim como se falava. A passagem de ônibus mais barata do Brasil diz muito sobre isso. A reeleição, novamente contra tudo e todos, também foi mostra de força. A baixaria tinha que estar poderosa, porque agora tem um coronel desempregado que vive disso, e não se conforma do seu "reich" de mil anos ter acabado pelo voto popular.

Sempre apoiei Luizianne, quando ainda estava em Fortaleza e depois à distância, defendendo-a mesmo sabendo de problemas com a sua base aliada e das dificuldades com alguns gestores do partido, porque a sua postura sempre foi coerente com tudo que defendeu ao longo dos anos. Esse profundo respeito e consideração que tenho pela Luizianne como ser político resiste a todas as calúnias, porque sei que sua postura é de desafio a muita gente poderosa e reacionária, e de respeito aos trabalhadores.

Ontem, entretanto, tive a tristeza de receber a nota abaixo. Considerado o relato verdadeiro, feito por pessoas da minha mais total confiança e de trajetória aguerrida e ilibada no partido, em especial no movimento sindical dos professores, trata-se de uma denúncia gravíssima. Essa atitude repressora, vinda de uma pessoa com a trajetória de Luizianne, que também é professora e não faz parte do grupamento notório por maracutaias que degenerou o partido, representa uma ruptura com tudo que penso sobre sua forma de fazer política. Reprimir professores nivela Luizianne com as práticas dos partidos patronais. Os companheiros e companheiras que protestam através da nota abaixo têm o meu apoio nesse repúdio.

Fernando Branquinho
Rio de Janeiro, 17/06/11

DECLARAÇÃO DE MILITANTES PETISTAS EM DEFESA DO PISO, DO DIREITO DE GREVE E CONTRA A REPRESSÃO À GREVE DOS PROFESSORES
LUIZIANNE, DEVOLVA NOSSA ESTRELA
Nós, militantes do PT, diante dos lamentáveis fatos ocorridos durante a greve do magistério do Município do Fortaleza, decidimos nos dirigir ao Diretório Nacional, ao Diretório Estadual do Ceará, aos professores e ao povo de Fortaleza para expor o que se segue.
1. Como em outros 10 estados, e em vários municípios do país, os professores de Fortaleza, se servindo de seu sindicato, o SINDIUTE-CE (filiado à CUT), recorreram à greve para fazer valer a Lei do Piso, recentemente declarada constitucional pelo STF. Tal recurso se deveu à negativa dos governos, entre os quais o do Município de Fortaleza, de aplicar a legislação.
2. Que governos como os do PMDB, PSDB, DEM, PSB, entre outros, violem a Lei e recusem o Piso, não é aceitável, mas é compreensível, dado sua natureza de administrações patronais. Mas que a Prefeitura de Fortaleza, encabeçada pela Presidente Estadual do PT, Luizianne Lins, faça o mesmo, é inaceitável e incompreensível. Afinal, como os próprios professores em greve dizem: “a Lei do Piso é do PT”! O próprio voto dado duas vezes ao PT pelo povo da rebelde Fortaleza indica que o mandato da Prefeita é o de defender as conquistas do povo trabalhador, e não o de atacá-las.
3. Se já é inaceitável a recusa de aplicar a Lei do Piso, o que dizer do massacre protagonizado pela Guarda Municipal à manifestação dos professores no dia7 de junho, na Câmara Municipal? Na ocasião, enquanto o Presidente da Câmara, Acrísio Sena, presidia uma sessão convocada ao arrepio do Regimento da Casa, para votar uma mensagem que burla o Piso, a Guarda Municipal, que age sob comando da Prefeita, na pessoa de seu responsável, Arimá Rocha, filiado ao nosso partido, reprimia os professores usando gás de pimenta, bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha e o proverbial cassetete. Entre os atingidos, além de professores e vereadores de outros partidos, o vereador Salmito Filho, vereador do PT, que se conservou ao lado da categoria, da Lei do Piso e das conquistas e, portanto, da história do partido.
4. Não bastasse tudo isso, a Prefeita pediu a ilegalidade da greve e ameaçou com o corte do pagamento de 40% do 13º, pago tradicionalmente no mês de junho.
5. Trata-se de uma atitude que ataca a história do partido, que arrasta no chão a bandeira vermelha do PT, que joga o partido contra a base social de onde surgiu e que o tem sustentado inclusive nas duas eleições de Luizianne Lins. Não se pode permitir que a ruptura da Prefeita com as bandeiras que estiveram na base de sua eleição duas vezes arraste o partido para a antipatia popular. Não se pode ficar quieto em face da destruição do PT que essa política provoca.
Por isso nos dirigimos às direções partidárias, aos professores e ao povo de Fortaleza para dizer que:
- Como petistas, nada temos em comum com a política e a ação da Prefeita, do Presidente da Câmara e do Chefe da Guarda Municipal.
- Ao contrário, julgamos que essa política conduz à destruição de nosso partido, o que seria uma perda e um prejuízo de décadas para a classe trabalhadora de nosso país.
- Por isso mesmo, como petistas, fieis às bandeiras originais do partido, dispostos a mantê-lo vivo como instrumento dos trabalhadores, seguiremos levantando a bandeira do Piso e defendendo o direito de greve, legítima arma de luta de nossa classe.
- Continuamos afirmando que a atitude da Prefeita não se coaduna com a de uma militante do PT, não se identifica com sua história e nem com o mandato que lhe foi dado duas vezes pelos fortalezenses.
Acreditamos e esperamos que o lugar do PT é o de defender o Piso e o direito de greve, ao mesmo tempo que o de intermediar uma solução que garanta a preservação dessas duas conquistas que o partido ajudou a criar em nosso país.
Primeiros militantes petistas signatários: Francisco Wellington Soares Monteiro, Sandra Helena Rodrigues da Silva, Francisco Vanderli Pereira (Vando), Patrícia Forte de Almeida, Matheus, Ramilen Marçal Ramos, Ana Cristina Guilherme, Kamila Amora Gomes, Paulo Carvalho de Mesquita, Antonimar de Sousa Catunda, Suzana Vaz da Costa, Maria do Socorro Malaquias, Cecília Gonçalves Vieira, Ana Maria Ferreira, José Silvano Sousa Araújo, Marco Vinícios Mota Maciel, Márcia Maria Andrade de Araújo, Gardênia Pereira Baima, Maria do Livramento Osterno, Valdecir Abreu de Paula, Cleide Martins, Damião Nogueira Maia, Roberto Luque de Sousa, Sandra Mota, Rômulo Jerri Andrade, Antônio Marcos Pinheiro, Eliseu Souza, Josemar Martins, Murilo Maciano, José de Assis, Evaldo Varela, Cleuda Marçal, Luana Marques, Aloísio Bastos, Vereador Helio (PT - Limoeiro do Norte), Eudes Baima, Leda Vasconcelos.

2 comentários:

  1. Este episódio em Fortaleza só vem constatar e se somar a mais um fato que clareia para quem quizer enxergar que a muito tempo que esta estrela já se apagou para a luta da classe trabalhadora. A maioria deste partido já determinou o seu rumo político burguês e quem permanece nele,infelizmente e independente de sua vontade e contestação só reforçará seu carater de traição aos principios de fundação do PT que já foram a muito tempo para a lata de lixo da história.

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  2. Fernando Saraiva,

    esse diagnóstico que você faz do PT é feito desde a sua fundação praticamente.

    Lembro de um movimento de saída de 1985. Lembro da saída da CS que construiu um novo Partido em 1991.

    A cada saída a cada tempo de cada grupo vai sim fazendo com que essa "verdade", desde a fundação do PT, se concretize.

    Talvez daqui a cem anos construiremos algo parecido com o que foi o PT.

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