Hoje a imprensa faz uso de declarações de "auxiliares diretos de Lula" e de "altas fontes no Planalto" para dizer que o Presidente está irritado com o Ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que vem prometendo represálias a empresas que estão demitindo. Esse tipo de jogo, muito comum, quer fragilizar o discurso oficial, e tentar impor, pela opinião pública, os reais interesses do capital neste momento de crise: reduzir direitos trabalhistas ou provocar renúncias tributárias dos governos num ambiente de sazonalidade, sem retorno quando a crise passar. Ou seja, desejam avançar na superexploração de mais-valia e na manutenção de lucro sugando tetas governamentais.
Se ontem a imprensa insistia que os empresários queriam a redução de jornada com redução de salários, sem garantia de emprego, hoje usam dos bons serviços de Paulinho da Força Sindical para buscarem obter do governo reduções de impostos e de "spreads" de juros bancários, além da redução da contribuição previdenciária das empresas de 20% para 14%. Triste papel para o representante de trabalhadores, esse de pedir esmolas a mando do patrão.
Há oportunismos graves nessa crise. As causas do desemprego não são pela crise em si, em boa parte. Por exemplo, mesmo sem crise, seria previsível a queda da venda de veiculos pois os fabricados a partir de 2009 devem incorporar novas exigências tecnológicas obrigadas pelo Contran, aumentando os preços. Outras já vinham mal das pernas, a exemplo da GM, Ford e Chrisler, que produzem veículos de baixa competitividade no mercado, e agora passam o pires no tesouro americano.
Há os problemas de sazonalidade, que normalmente desempregam de dezembro a março, todos os anos. E há as safadezas, como as 1686 demissões anunciadas pela Casa e Video, que foi flagrada numa operação de contrabando em novembro e agora joga o preço para os trabalhadores.
Lula vai receber as entidades sindicais no dia 19, e todas as negociações com os patrões estão suspensas. Se o ânimo dos sindicalistas seguir o de Paulinho da Força, toda a sociedade contribuirá com seus impostos para garantir aos empresários as mesmas altas rentabilidades a que se acostumaram ao longo de décadas.
No Brasil não existem reservas de lucros para momentos difíceis. Quando há lucro, este é rapidamente repassados aos acionistas, ávidos por uma rentabilidade atrativa, acima das altas taxas de juros de títulos governamentais praticadas pelo BACEN. Quando este cai, joga-se o diferencial para a chantagem com trabalhadores e governo. Vamos ver se o governo terá peito de encarar, com todos os instrumentos de que dispõe, ou se vai novamente ceder às chantagens do capital, prejudicando à grande maioria.
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