As recessões alteram os preços relativos de forma que os recursos para a produção tenham seus custos reduzidos, entre eles o da mão de obra. Nos EUA e na Europa os balanços praticamente obrigam os empresários a demitirem em massa para depois recontratarem com salários mais baixos e menos vantagens, para manterem a taxa de mais-valia elevada como nos últimos anos, por exigência de investidores vorazes. Esse surto demissionário atinge principalmente os trabalhadores dos países centrais do capital, que custam bem mais caros que os brasileiros da mesma empresa. Logo, a prioridade para o capital não é demitir no Brasil, onde mesmo com a crise está mantido o alto retorno dos invesimentos.
Por lá, também baixam as taxas de juros para verem se o mercado reage "no tranco", ou seja, desestimulam a aplicação em títulos públicos para estimularem o consumo ou o investimento. Já no Brasil, não é isso que a turma de banqueiros encabeçada por Meireles faz: baixa-se a SELIC, aumenta-se o "spread", que está na casa de 27%, quando o real deveria ser de 4%, encarecendo o tão necessário crédito para a continuidade dos investimentos e consumo.
Aqui também as demissões e os acordos de redução de salários foram além da conta, e o que é pior, empresas ajudadas com créditos governamentais não tiveram pudor em usar do desemprego como forma de manterem os níveis de exploração e a rentabilidade. Moral da estória: em alguns setores, a demanda continua forte, não há estoques, e começam as filas e o ágio. Claro que existem incompetências na aferição dos reflexos da crise, e muito conservadorismo para a preservação da rentabilidade, mas começa a aparecer um viés político disso tudo.
Ainda ontem Lula reclamava que empresários que ganharam muito em 2008 estão demitindo e pedindo ajuda ao governo sem qualquer pudor. E os bancos, inclusive os do governo, continuam buscando resultados como nos anos anteriores, pouco se importando com a necessidade de crédito, já que mamam no financiamento da dívida pública e nas altas tarifas.
O que parece se esconder por trás dessa nuvem de fumaça da crise é a sucessão de 2010. Sem o país mergulhar numa profunda recessão, com redução de poder aquisitivo e muito desemprego, Lula elegerá até um poste, usando do seu prestígio pessoal. Então, o que resta à oposição é apostar na desgraça, na terra arrasada, o que também é um equívoco, porque, em momentos difíceis, as pessoas querem lideranças que mostrem o rumo, e essa habilidade nenhum dos pretendentes à presidência em 2010 tem demonstrado. O tiro pode sair pela culatra e um terceiro mandato para Lula pode entrar na discussão.
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