O programa "Profissão Repórter" da Globo, na terça passada, mostrou o verdadeiro pesadelo que é a escola pública na periferia para alunos, professores, pais e para o próprio ensino. Péssimas condições materiais, violência, alienação, e a mostra de uma juventude que não sabe exatamente o que está fazendo ali, dada a pouca perspectiva de inclusão na sociedade.
Noutro dia assisti tarde da noite ao filme "Diários dos Escritores da Liberdade", baseado numa história real de uma professora americana designada para ensinar Língua Inglesa a uma turma parecida com a mostrada no programa da Globo, e assumiu como desafio educar e civilizar aquela turma esquizofrenizada e estigmatizada como “os sem-futuro” pelos demais professores. Seu método consiste em fazê-los escrever diários onde falassem dos seus cotidianos, e a estabelecer uma correlação entre isso e os Diários de Anna Frank. O filme faz uma interessante correlação entre o flagelo do nazismo contra os judeus com o da sociedade capitalista com os excluídos.
Ainda sobre o tema da excluão nas escolas, a Secretaria de Educação do DF e a RITLA - Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana produziram a publicação "Revelando tramas, descobrindo segredos: violência e convivência nas escolas", obra com 496 páginas que pode ser encontrada na íntegra neste link (há um link no pé da página do site) . Trata-se de uma investigação aprofundada das relações sociais e do clima escolar no DF: conflitos latentes e expressos, percepções de alunos, professores e equipe de direção sobre as escolas, um verdadeiro diagnóstico sobre a convivência escolar. E o mais interessante: além de diagnóstico, apresenta saídas para melhoria do ensino. É bom ressaltar que a escola mais barra pesada do DF é café pequeno perto de uma boa parte das escolas do Rio ou de São Paulo.
Alguns dados interessantes do trabalho: 59,7 % dos alunos não gostariam de dividir a sala de aula com usuários de drogas, e 54,6% rejeitam integrantes de gangues. 27,8% não querem homossexuais, 27,7% não querem filhinhos de papai, 25,2% rejeitam patricinhas, 15,4% não gostam de fanáticos religiosos e 2,1% não querem a companhia de negros. Do lado dos professores, a maior rejeição é a integrantes de gangues (44,0%), usuários de drogas (36,1%) e pessoas que bebem demais (28,3%), seguidas de fanáticos religiosos (20,7%). A pesquisa também mostra que 63,5% dos professores acham que o futuro dos alunos seria deixar os estudos e trabalhar, enquanto a visão de futuro dos alunos é de arranjar um bom trabalho (72,8%).
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