"O Cara" voltou a ser elogiado por Obama, que o acha um exemplo de pragmatismo e faz um bom governo. Bem, para quem viu agência de risco dizer que, por enquanto, os EUA continuam com classificação AAA+, como quem diz que isso pode ser revisto e a solidez americana ser questionada, olhar para o que parece dar certo parece dar algum alento. Assim como Obama, muitos investidores e aplicadores estão acreditando no que Lula diz lá fora sobre o Brasil, e acham que estamos no caminho certo, até trazendo dinheiro para cá.
O fato é que a desoneração de impostos como a CPMF não trouxe benefício aos preços finais. O volume que deixou de ser pago ficou nos lucros das cadeias produtivas. Não é qualquer desoneração que dá bons resultados, como no caso do IPI dos produtos da construção civil e da linha branca, e mesmo dos automóveis, que merece ser revisto a favor da produção de modelos mais eficientes, que deveriam ter menores impostos. O maior imposto que pagamos é a taxa de juros, que sangra dinheiro que deveria ir para investimento para pagar gordas rendas a especuladores. Nem baixando bastante a SELIC vimos resultados bons para os tomadores de dinheiro. O cartel dos bancos continua praticando altas taxas de juros, altas tarifas, penalizando a economia.
Hoje o noticiário mostrou que a arrecadação da Previdência bateu novo recorde, por causa da geração de novos empregos em meio à crise. E que o rombo da previdência ficará em R$ 40 bi neste ano. Esse é o maior programa de transferência governamental, maior que o bolsa família e todas as desonerações a pequenas e micro empresas. E os programas de renda mínima têm contrapartida, combatendo o argumento preconceituoso da elite exploradora tipo "dar dinheiro a pobre gera preguiça e engorda o dono do boteco".
Não é isso que a economia mostra. Aliás, boa parte desse povo que fala contra os programas de renda mínima ou é mal intencionado ou desconhece macroeconomia. Nunca viram o que os R$ 465 do velhinho do Funrural fazem pela economia de um pequeno município do nordeste, quando se considera o agregado. Há lugares onde o dinheiro de aposentadorias que circula no comércio supera o Fundo de Participação dos Municípios, o ISS e o IPTU somados.
Lula está correto quando diz que cada centavo dado a pobre vira consumo. Está falando de menos de R$ 100 por mês! Dinheiro para comprar praticamente nada, mas que é todo gasto, gerando efeito multiplicador na economia desde os mais longínquos pontos da cadeia do mercado capitalista. Isso é melhor que investimentos concentrados em grandes obras, para a economia e para a difusão da riqueza. Ambos têm que ser feitos. E é essa combinação que não deixou o Brasil ir para o atoleiro na mesma intensidade das grandes economias, que não têm como fazer políticas públicas por terem optado pelo tal "estado mínimo" e entregado à "mão invisível" do capital a tarefa de fazer justiça social.
Infelizmente, muita gente pensa como um empreiteiro que desabafou comigo que o Bolsa Família estava encarecendo a mão-de-obra, porque o peão não queria mais trabalhar pela merreca que ele oferecia. De fato, para quem trabalha explorando a necessidade de famintos, tais programas são uma subversão, porque trazem um mínimo de dignidade. Nossos liberais não têm nada de modernos defendendo a desoneração de impostos. Querem isso para eles, impostos para os outros e benesses governamentais para os seus negócios, e muita mão-de-obra indigente de baixo custo e pouca resistência à exploração. Além do mais, quem paga mesmo imposto é pobre, seja no seu salário, seja na comida ou nas tarifas públicas. Rico cria caixa-2, suborna fiscais e lava dinheiro. Nem todos, mas muitos fazem isso porque acham injusto pagar impostos para não darem dinheiro a pobres.
Nenhum comentário:
Postar um comentário