Desde que Lula chegou ao governo, em meio à herança maldita de FHC já havia gente pensando em como seria um projeto de desenvolvimento que se traduziria no tão propalado "espetáculo do crescimento". O país estava sem investimentos, com a infra-estrutura sucateada, a área técnica da administração federal praticamente dizimada, sem capacidade de propor projetos, e o acervo técnico desenvolvido no período do "milagre", disperso.
Para completar o cenário, a Casa Civil, que deveria ser a coordenadora das estratégias para as diversas áreas de governo, estava mais preocupada com a construção da governabilidade nas mãos de José Dirceu que nos projetos de interesse nacional. Lula só começou a inaugurar obras depois que a ministra Dilma Roussef assumiu a Casa Civil, com a queda de Dirceu no escândalo do mensalão.
Apesar disso, em algumas áreas do governo, nas estatais e empresas de economia mista foram feitas iniciativas espontâneas preocupadas com a retomada do crescimento. Em 2004 o Banco do Brasil teve a iniciativa de tentar organizar os recursos da engenharia consultiva pública para oferecer ao governo condições ao deslanche de projetos de desenvolvimento. .
O Ministério das Cidades, a Caixa e outras áreas de governo pensavam num grande plano de construção popular onde a preocupação com a formação de mão-de-obra básica em meio a projetos de mutirão seria uma diretiva, pois os projetos de desenvolvimento careceriam até de operários, dada a estagnação da economia. No mundo acadêmico, o diagnóstico era que a formação de engenheiros e arquitetos estava cedendo espaços a outras, como as da área de informática, que tinham mais opções e pagavam melhor.
Em 2006 o CONFEA lançou o projeto Pensar o Brasil e Construir o Futuro da Nação, através do qual realizou diversos fóruns para diagnosticar os desafios do desenvolvimentos e a preparação dos recursos técnicos para isso, e começou um amplo trabalho de pressão sobre as esferas governamentais e de conscientização da necessidade de promover os profissionais.
Em dezembro de 2008 foi realizada no Brasil a 3a WEC - Congresso Mundial de Engenharia, onde na abertura Lula falou das iniciativas do governo para criar mais vagas em universidades e na expansão das escolas técnicas. Apesar da consciência governamental para o problema, tais profissionais chegarão ao mercado daqui a uns 4 anos, não servindo a resolver o atual gargalo.
Em 2007 ouvi de um executivo da área de desenvolvimento urbano da CEF, num evento da ANEAC - Associação Nacional dos Engenheiros e Arquitetos da CEF, que 85% dos municípios brasileiros não tinham sequer um engenheiro ou arquiteto, inviabilizando os estudos e projetos até para conseguir as verbas de programas de infra-estrutura governamentais. A Caixa já tinha ampliado seu quadro para cerca de 1300 profissionais, pensando em prestar consultorias aos municípios, já que quase toda a verba do Ministério das Cidades para habitação, saneamento e infra-estrutura é de sua administração, e nada sai se não houverem licitações baseadas em projetos.
Em 12/04/2007 a AEABB - Associação dos Engenheiros e Arquitetos do Banco do Brasil - junto com o CONFEA, teve uma audiência com o Ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, onde foi levada a preocupação com a previsível falta de profissionais e o oferecimento de colaboração das entidades para encarar os desafios. Apesar da cordialidade e do cafezinho, ficou no ar a proposta. Dias depois cerca de 25% dos engenheiros e arquitetos mais experientes do BB aderiram a um plano de afastamento antecipado, pelo desestímulo dos baixos salários e falta de perspectivas de carreira, dispersando-se no mercado.
Em dezembro de 2008 a sanção da Lei 11.888 criou mais demanda técnica difícil de ser provida. A lei trata da assistência técnica pública e gratuita para projetos de habitação de interesse social, atendendo a famílias com renda de até 3 salários mínimos. É uma espécie de SUS da engenharia, para fazer cumprir o direito à moradia previsto no art. 6° da Constituição Federal. Só não criou problemas ainda porque foi muito mal divulgada essa conquista social.
Quando saiu o PAC - Programa de Aceleração do Crescimento, a economia como um todo já se levantava e, com ela, a demanda por técnicos, piorando a disponibilidade para os novos projetos, essenciais às licitações. Numa recente disputa política com base em números, a ministra Dilma Roussef disse que 14% do orçamento do PAC estariam executados, enquanto a oposição do DEMO fala em 3% do total de obras concluídos. Eles fazem uma campanha de combate ao governo e à candidatura Dilma através da Caravana da Transparência, que corre o país destilando ódio. Quem diria que viveria para ver esse povo falando em transparência...
Anteontem, li num jornal que o presidente da Funasa estaria sendo pressionado para soltar um grande número de obras do PAC. Além disso, o programa "MINHA CASA, MINHA VIDA" também caiu na responsabilidade da CEF, com mais de R$ 30 bi para empréstimos, piorando a situação que já era crítica. Por fim, os engenheiros e arquitetos da CAIXA entraram em greve há mais de um mês por salários compatíveis com o mercado, por mais profissionais e melhores condições de trabalho. Eles são os principais braços e olhos do governo na execução de milhares de obras de interesse social, e estão sobrecarregados. E o governo não resolve o problema de forma satisfatória, atrasando mais ainda os programas sociais.
Chegaremos ao absurdo de ter orçamento para investimentos e as verbas serem devolvidas por causa do apagão da engenharia. Ou de ver projetos de investimentos privados executados por técnicos estrangeiros. Essa é a triste consequência de várias décadas perdidas no desenvolvimento nacional. Um ufanista diria que, nunca na história deste país, tivemos um "bom problema" como este.
Camarada Branq,
ResponderExcluirAcompanho sempre que posso seu blog.
Para analisar melhor este chamado apagão será necessário verificar se os números refletem mesmo um crescimento ou estamos diante apenas de uma "bolha" passageira.
Caso seja real(rs) está na hora da categoria colocar o "bloco" na rua! Onde estão as nossas entidades: IAB, SENG, SARQ, etc, etc...? Os engenheiros e arquitetos da Caixa já começaram...
Muito bom, Branquinho. O negócio é ser (sobreviver) como ufanista maluco. Seguindo os passos do nosso presidente que disse: Um país que pode achar petróleo a 6 mil metros de profundidade, pode achar um avião a 2 mil. E está inaugurado o nacionalismo trágico.
ResponderExcluirUm abraço
Eduardo Azambuja