Na entrevista coletiva do Ministro da Defesa Nelson Jobim na última quinta-feira, quando ainda não havia qualquer pista do paradeiro do avião e poucos destroços tinham aparecido, algum repórter perguntou se os eventuais destroços estariam em águas territoriais brasileiras. Jobim respondeu que sim, e disse que hoje o Brasil tem soberania sobre 200 milhas do oceano para efeitos de subsolo e de coluna d'água, ou seja, pesca e riquezas sob o fundo do mar são exclusivamente nossas. E disse que logo teremos uma extensão de soberania por mais 150 milhas de subsolo, e, nesse caso, as águas dentro dessa área não serão de nossa exclusiva soberania.
Com a nossa soberania sobre tamanha área oceânica, que precisa ser guardada pelo poder militar, em especial pela Marinha e Aeronáutica, o que vemos nas buscas ao AF 447 é o baixo poder de resposta das forças armadas. Navios militares levando 3 dias para chegar a um local dentro do nosso território, e poucos aviões com autonomia para buscas nessa área mostram que, se estivéssemos sendo invadidos por forças estrangeiras, praticamente chegariam ao nosso litoral sem nenhum obstáculo. Apesar do grande esforço da FAB e da Marinha, que têm mostrado capacidade técnica humana e profissionalismo no trabalho de resgate, faltam equipamentos e efetivos à altura do desafio de guardar as águas territoriais. O detalhe é que qualquer potência que nos queira ameaçar por mar virá pelo Atlântico norte, tendo como porta de entrada exatamente a região onde hoje temos dificuldades até de autonomia de aviões para chegar lá. Nossos ""amigos" americanos reativaram a Quarta Frota para patrulhar o Atlântico Sul e o Caribe, a pretexto de combater o tráfico de drogas e fazer missões de ajuda humanitária...
Quando militares vêm a público denunciar problemas para a segurança territorial, geralmente referem-se à Amazônia e, via-de-regra, são do Exército. Assim foi no recente episódio da reserva indígena Raposa Serra do Sol. A probabilidade de uma ação hostil de país vizinho com efetivo atingimento de alvos estratégicos, via Amazônia, é praticamente zero, dada a distância a percorrer em território brasileiro para atingir a primeira grande cidade, que é Manaus. Além disso, o SIVAM, Sistema de Vigilância da Amazônia, informaria sobre a invasão bem antes de qualquer ataque importante, que poderia ser dissuadido se tivéssemos bons aviões de combate.
Um ataque vindo da Argentina ou da Bolívia também seria detetado e poderia ser interceptado antes de atingir alvos estratégicos como refinarias, oleodutos, centrais nucleares, indústrias de base, etc.
Vindo pelo Oceano Atlântico, um ataque seria devastador, com potencial de atingir todos os grandes portos, estaleiros, plataformas de petróleo e gás, usinas de Angra, as capitais litorâneas e até capitais mais ao interior, como São Paulo e Porto Alegre, através de mísseis lançados por navios e bombardeios por aeronaves baseadas em porta-aviões. Em poucos dias o Brasil seria dominado pelo agressor, que, considerada a perspectiva de ataque em busca de recursos como o petróleo, certamente não seria um dos nosso vizinhos pobres, mas uma superpotência. Perto da importância estratégica do petróleo, as ameaças sobre a Amazônia são fichinha. Além do mais, se continuar a ganância dos ruralistas sobre as terras amazônicas, logo não haverá Amazônia para mais ninguém, pelo menos do ponto de vista da sustentabilidade ecológica.
Quando da descoberta de petróleo na camada pré-sal, Lula disse que os recursos dessa riqueza deveriam servir para a erradicação da miséria e para o reequipamento militar de defesa das águas territoriais. A oposição vem bloqueando a criação do marco regulatório para o pré-sal como forma de atrasar a sua exploração e, talvez, aguardar que um governo do estilo FHC ganhe em 2010 para entregarem tudo sem ninguém precisar vir aqui ameaçar. É o neocolonialismo travestido de neoliberalismo do DEMo e dos tucanos. A CPI da Petrobrás também tem o mesmo sentido de travar a exploração soberana e a criação, ainda neste governo, das bases para ambos os programas propostos por Lula.
O Brasil precisa continuar um país pacífico, mas isso não quer dizer indefeso. Os recursos do pré-sal devem financiar projetos sociais de combate à miséria com ênfase para a educação, e o reequipamento e a adequação de contingentes para termos uma força de dissuasão rápída, eficaz, que iniba qualquer plano de potências entrangeiras se apossarem das nossas riquezas, com ênfase para o pré-sal e a Amazônia, como previsto na Estratégia Nacional de Defesa, recém-lançado pelo governo federal.
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