Anteontem vi a entrevista coletiva do ministro Nelson Jobim, onde detalhava num telão a operação de busca de destroços do avião do vôo 447 da Air France, em águas territoriais brasileiras próximas aos penedos de São Pedro e São Paulo. A impaciência do ministro com a ignorância de alguns repórteres deu margem a momentos de sarcasmo pela autoridade, incompatíveis com a natureza do assunto tratado. "Você não aprendeu na escola o que é raio do círculo?", disse Jobim a uma pessoa que não entendia muito de geometria. Depois perguntaram a ele quanto é uma millha náutica, e ele disse que não sabia (Jobim é advogado) e passou a questão aos subordinados que depois de algum tempo informaram uma distância já convertida.
Jobim comanda o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, que não têm mais "status" de ministérios, como na época da ditadura. Jobim representa a autoridade civil sobre o poder militar. Pode não ter nada a ver, mas, no meio da entrevista, afirmou categoricamente que os destroços encontrados pela FAB seriam do Airbus. Achei precipitado, porque tem muito lixo nos oceanos e, sem uma coleta para verificação, seria temerário dar uma informação vital como essa se não fosse respaldada na certeza dos seus subordinados que estão fazendo o trabalho de campo.
Ontem um oficial subordinado a Jobim informou que os destroços capturados pela Marinha não são do avião. Imediatamente, a mídia botou Jobim na fritura, fazendo crer que o material colhido era o mesmo avistado dias antes pelos aviões. Questiono: passaram uma informação falsa ao ministro para comprometê-lo, ou a mídia distorceu a informação do Brigadeiro para criar crise entre ele e os subordinados, e entre a opinião pública e o ministro? Aguardo para os noticiários de hoje algum vestal da oposição dizendo que vai chamar o ministro para dar satisfações no Congresso. Tal divergência de informações desqualifica as autoridades brasileiras na busca aos destroços. Só falta alguém propor que os franceses venham fazer esse trabalho, a partir da suposição da incapacidade dos militares brasileiros o fazerem.
Ainda no contexto de fritura, O GLOBO de hoje traz manchete na página 15 "Lula não vai à missa hoje no Rio", reforçando a sua "desumanidade" ao parecer não dar atenção aos parentes das vítimas e ontem, no Espaço M, da Globonews, quicou uma bola entre os apresentadores no sentido de que Lula deveria largar tudo e ficar com os parentes das vítimas para dar um "fim harmonioso" ao episódio trágico, já que possivelmente não haverá corpos a enterrar. Hoje é o Dia Mundial do Meio Ambiente, a direita acaba de aprovar uma Medida Provisória para facilitar a destruição da Amazônia a partir de benefícios à grilagem, o Ministro Minc está com a cabeça a prêmio e o PT quer que Lula vete projetos lesivos ao desenvolvimento sustentável. Com um pauta dessas, de fato, não tem como ir a missa nenhuma, nem para pedir ajuda para aguentar tanto problema.
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