Do jeito que os golpistas desprezaram o repúdio da OEA e dos 191 países-membros da ONU à quartelada do outro domingo, era mais que previsível que fechariam o aeroporto para impedir a chegada do presidente constitucional Manuel Zelaya ontem. Até ficou barato, porque poderiam derrubar o avião.
Para galvanizar o público interno que vê Zelaya como marionete de Chavez, alardearam que a Nicarágua estaria mandando tropas para a fronteira para intimidar a soberania de Honduras. O país foi base dos "contras" na revolução nicaraguense, e base de apoio dos Estados Unidos na região, daí o receio dos nicaraguenses entre as elites.
O bispo de Tegucigalpa publicou nota pedindo que Zelaya não retornasse, para evitar derramamento de sangue, atitude coerente com o apoio que os bispos católicos vêm dando ao governo ilegal. Já o gorila-mor das forças armadas ordenou que os soldados do aeroporto disparassem contra a multidão que se aglomerava junto ao aeroporto. Nada mais previsível numa república de bananas onde o triunvirato latifúndio-militares-igreja se uniu para evitar qualquer indício de reforma social.
Para ter idéia do nível de gente que deu o golpe, o ministro das relações exteriores do "governo" Michellet, Enrique Ortez, reclamando da intromissão americana nos assuntos hondurenhos, disse que " esse negrinho não sabe de nada". Também esculachou com o primeiro-ministro da Espanha, Zapatero, mandando-o "cuidar dos seus sapatos". O governo americano, depois do episódio de ontem, disse que não vai receber nenhum representante do governo golpista. Se os Estados Unidos e a Espanha resolverem fazer um embargo aos produtos de Honduras, a economia não resistirá. Um sinal disso é que ontem, na transmissão do frustrado retorno de Zelaya, foi noticiado pela Telesur que os empresários de Honduras retiraram o apoio ao governo.
Zelaya criou um fato político mundial, pois toda a ação foi acompanhada ao vivo pela equipe da televisão venezuelana Telesur, que tinha repórteres no avião venezuelano que o transportou, e equipes no aeroporto. Tudo foi transmitido em tempo real, inclusive os tiros do exército na população civil, matando e ferindo pessoas desarmadas. Todos viram também a colocação de caminhões na pista para impedir o pouso, e como as forças armadas locais desprezaram a ordem de Zelaya para permitir o pouso. Acabou pousando em Manágua, na Nicarágua.
Honduras é o segundo país mais pobre da América Central, que vive da agricultura, em especial do café e da banana, e tem nos Estados Unidos o principal comprador dos seus produtos (70%), e também principal parceiro nas importações de bens manufaturados, já que a indústria local é incipiente. Tem 50,7 % da população abaixo da linha de pobreza, e menos de 8 milhões de habitantes. Sua história é marcada de violência militar e caudilhesca, sendo a democracia formal uma exceção, e não se diferencia muito da história de outros países da América espanhola. Só está nas manchetes porque golpes de estado são considerados anacrônicos hoje.
Lula, embora ache inaceitável o golpe e mantenha a posição de não reconhecer o governo golpista, considerou um erro o retorno de Zelaya agora, e quer que a OEA medie a questão. Já Cristina Kirchner, presidente da Argentina, e Fernando Lugo, presidente do Paraguai, estavam a postos para ir a Honduras apoiar Zelaya. Chávez apostou pesado, dando o avião e a equipe de TV, e , claro, muito palpite na mídia, um verdadeiro "Xou do Xavez" de verborragia incontida. Numa entrevista em meio à crise, Chavez disse que o responsável por tudo seria o imperialismo americano. Depois disse que Obama não tinha nada a ver com isso, porque seria refém do império...
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