A chegada do novo milênio trouxe embutida a esperança de um mundo melhor, mas logo em 2001 o atentado às torres gêmeas de Nova Iorque trouxe mais guerras, que vão passar para os anos 10 sem solução. Foi a década do terrorismo, da guerra não convencional. Também se estabeleceu o intervencionismo militar, um retrocesso a eras coloniais. Ficou para a próxima década o embrião de novas formas de intervenção, como a de natureza ambiental. A globalização continuou, mas os seus riscos ficaram aparentes no espalhamento da crise econômica por vastas áreas do planeta.
Continuamos reféns do petróleo como matriz energética, mas ainda não aconteceu a grande crise de escassez. Grande parte do mundo tomou consciência da relação entre os estragos feitos pelo homem e as mudanças climáticas, e no apagar das luzes da década fez da COP-15 um marco na consciência ambiental.
O mundo ficou mais velho, pelo efeito conjunto da redução de natalidade com aumento da longevidade por melhores condições de saúde. A gripe suína trouxe a realidade da propagação rápida das doenças pelo mundo, pois as pessoas estão se deslocando muito mais. O genoma humano foi mapeado, e as células-tronco ainda não mostraram seu potencial. Continua sem cura a AIDS
A China passou o Japão no segundo lugar do ranking de maiores economias mundiais, e continua crescendo forte mesmo na crise econômica que marcou o fim da década. Os Estados Unidos perderam espaço tanto na economia como na influência no mundo. A esperança de mudança depositada na eleição de Barack Obama praticamente foi anulada no seu primeiro ano de mandato, com a pouca realização de ações diferenciais do seu governo. Começou a ser colocada em xeque a prevalência do lucro capitalista sobre as necessidades humanas de sobrevivência.
Lula chegou ao governo em 2003 depois de uma eleição disputadíssima, onde a esperança venceu o medo, cercado de desconfianças na sua capacidade de governar. Apesar da grave crise do mensalão em 2006, conseguiu reeleger-se e chega ao final da década como o presidente mais popular do Brasil, acumulando realizações que levaram o Brasil ao papel de potência e melhoraram as condições de vida do povo mais pobre, com 82% de avaliação positiva.
O movimento social construído pelas lutas desde o combate à ditadura foi praticamente todo silenciado pela cooptação e a direita dizimada pelo anacronismo. A reforma agrária avançou, mas a ritmo insuficiente. A corrupção ficou cada vez mais clara, ganhando até videos de flagrante, como os do Escândalo do Panetone de Brasília, que fechou magistralmente a década.
O museu de grandes novidades ganhou novo acervo: televisões com tubo de imagem, videocassete, fax, palmtop, e aparelhos de celular que só faziam telefonar. A telefonia celular se universalizou, a internet integrou instantaneamente os mais longínquos lugares e povos, a capacidade de armazenamento de informações ficou quase infinita e barata, e a velocidade de tudo aumentou. No fim da década tivemos o lançamento das TVs de LED, dos carros elétricos, do livro eletrônico, do GPS em praticamente tudo, da TV digital, do avião espacial Spaceship One e outras tecnologias que se popularizarão na próxima década.
Foi mais uma década onde a mediocridade humana se aprofundou, espalhando-se os "reality shows" e as celebridades efêmeras. Popularizou-se a intervenção estética majoritariamente fútil, com botox, silicone, plásticas, lipo, tatuagens e piercings nos corpos das pessoas em busca de diferenciação social. Também se consolidaram tribos afins de vampiros. Os nerds ampliaram sua área de influência com novas ferramentas de computação, games de gráficos e física muito realista e parafernálias como o Wii e Guitar Hero.
A grande mídia continua forte como determinante para os hábitos e escolhas das pessoas, mas teve que concorrer com as alternativas de blogs, twitter e redes sociais. Ficou mais difícil esconder as atrocidades dos ditadores com a profusão de celulares com câmeras e envio imediato de informação pela internet. Aumentou a influência de ideologias religiosas, e o conflito da ciência com o obscurantismo.
O Brasil foi Penta, o Mengão foi Hexa no futebol. O Brasil ganhou a disputa para a realização da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016, mas continua com pífios resultados nos esportes olímpicos. O Pan-Americano de 2007 no Rio mostrou deficiências que precisarão ser corrigidas logo no início dos anos 10.
Em síntese : os anos 00 não serão lembrados na história como os melhores para um início de milênio no qual se apostaram tantas esperanças. Os avanços civilizatórios foram insuficientes para garantir um futuro com menos incertezas. Muita coisa foi empurrada com a barriga para ser resolvida nos anos 10. Que venha a nova década e que ao final dela estejamos por aqui para fazer um balanço melhor.
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