quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Catadores de lixo geram mais valor social que banqueiros

Quanto vale o trabalho? O mercado diz que o valor vem da oferta e da procura, primeiramente, e das habilidades, posturas, conhecimentos, habilidades e experiências. E cada organização capitalista diferencia salários de acordo com as funções que entendem agregar mais valor à atividade fim. Nessa lógica o trabalho braçal, de pouca formação, deve valer menos que o do profissional de nível superior ou que o gerador de negócios. E o retorno social do trabalho de uma dona-de-casa, de um catador de lixo, dos professores, do assistente social, onde fica nessa sociedade orientada ao retorno do capital?

Estudo da ONG inglesa New Economics Foundation (NEF) publicado hoje busca uma nova abordagem para estimar o valor do trabalho, comparando o que é pago a diversas profissões em comparação ao que contribuem para a sociedade. Usam princípios e técnicas de análise de Retorno Social de Investimentos (SROI) para quantificar o valor social, ambiental e econômico que algumas profissões produzem, ou em alguns casos, degradam. Esse estudo, entitulado "A Bit Rich : Calculating the real value to society of different professions" pode ser baixado do site da instituição neste link (em inglês). A NEF também tem uma publicação sobre o uso do SROI na tomada de decisões das organizações.

Abordando seis profissões, concluem que os altos funcionários de bancos da City londrina, que ganham entre R$ 1.500.000 a R$ 30.000.000 por ano, por levarem o sistema financeiro à beira do colapso, destruiram 7 reais de valor social para cada real recebido. Por outro lado, uma babá gera até 9,5 reais de valor social para cada real pago de salário, por prestar relevante serviço às famílias e à sociedade, permitindo que os pais trabalhem enquanto cuidam dos seus filhos.

Outra profissão que penaliza a sociedade, no entender do estudo do NEF, é a de executivos de propaganda, por estimularem altos gastos ao consumidor, criando aspirações insaciáveis, sentimentos de insatisfação, inadequação e stress. Com salários anuais de até R$ 36.000.000, esses profissionais destroem 11 reais de valor social para cada real que geram. Os contadores tributaristas são outra profissão que destrói valor social, ao auxiliarem os mais ricos a pagar menos impostos. A relação entre o que destroem de valor social e o que ganham é na proporção de 47 para 1, segundo o modelo do NEF. Por outro lado, a contribuição social positiva dos recicladores de lixo é de 12:1, e a dos faxineiros de hospitais, de 10:1. Abandonando a lógica do retorno para o capital pela do retorno social, o trabalho dos recicladores de lixo tem mais valor que o dos banqueiros.




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