Mercados de capitais de todo o mundo tiveram fortes quedas nos últimos dias abalados pelas incertezas da crise grega. Segundo o economista Paul Kruguer, Prêmio Nobel, a Grécia teria três saídas:
- fortes cortes orçamentários, atingindo salários, previdência, serviços públicos e investimentos;
- receber forte ajuda de países como a Alemanha, permitindo sair do sufoco e voltar a crescer;
- deixar o Euro e voltar a fazer política cambial com moeda própria.
O governo grego vem seguindo a primeira opção, que tem como resposta a resistência dos trabalhadores, aposentados e da sociedade civil que será prejudicada pela forte depressão econômica. É a velha receita do FMI, que conhecemos bem dos governos anteriores a Lula.
A segunda opção encontra a resistência do parlamento alemão, já que a Grécia teria falsificado dados para se enquadrar nos quesitos obrigatórios para alinhamento econômico para aderir ao Euro, e não seria confiável para empréstimos de dinheiro do contribuinte alemão.
A última opção seria equivalente ao que ocorreu na Argentina em 2001, quando se descolaram do dólar e recorreram a bloqueios bancários, desvalorização forte da moeda, com imensas perdas para os poupadores e perda do crédito internacional, com uma degeneração econômica que dura até hoje.
A Europa teme a contaminação de outros países que entraram no clube de ricos do Euro e não têm condição de bancar esse "status", como Portugal, Espanha e Itália. A Inglaterra tem mais flexibilidade porque manteve a sua Libra Esterlina, e pode desvalorizá-la se quiser tornar mais atraentes à exportação os seus produtos.
Há também os bancos que podem quebrar com o calote grego e dos demais PIGS. Isso mexe com riscos bancários e aumenta juros. A fila dos que podem entrar em crise tem países do leste europeu, que foram à festa dos ricos para lavar os pratos e agora nem pratos para lavar podem ter mais. As bolsas temem uma nova onda de desvalorizações de ativos, e os especuladores fogem de ações e compram dólares, mais seguros neste momento.
No Brasil a Bovespa teve uma queda de quase 7% na última semana, e o dólar subiu 9,1%, e aumentou a procura por títulos públicos. Como o Tesouro Nacional está até o teto de dólares, vai desovar uma parte para manter a moeda num patamar que mantenha a competitividade dos produtos brasileiros no exterior e iniba a importação desenfreada de supérfluos, podendo aquecer a inflação.
De qualquer forma, o fluxo de investimentos não deve sofrer fortes abalos, porque a imagem de lugar de ganhos fáceis com relativa segurança continua forte. Num primeiro momento as commodities vão sofrer abalos pelas incertezas, perdendo valor, mas sem problemas maiores para os volumes exportados. Essa crise deve melhorar o desempenho da balança comercial brasileira.
Entre os que ganham com a miséria alheia, o Brasil ampliou sua participação no FMI em US$ 286 milhões, para extorquir a Grécia no momento de crise através de juros altos que serão pagos com o sangue do povo grego. Com Lula entramos no seleto clube dos países imperialistas que ganham dos mais pobres impondo-lhes condições aviltantes de submissão. Enquanto o governo apoia a política de arrocho do FMI, mesmo sabendo o que isso significa, as esquerdas brasileiras devem dar o apoio à luta do povo grego contra o governo da elite que endividou o país em troca de migalhas para pertencer, artificialmente, ao "primeiro mundo". Essa conta é deles.
Como não podia deixar de faltar, o jornal O GLOBO colocou um título "Brasil dá US$ 286 bi à Grécia" e na matéria propriamente dita não fala em nada de doação, mas de empréstimo via FMI. Na manipuladíssima página de cartas dos leitores de hoje, estão "opiniões" do tipo " tem dinheiro para dar à Grécia mas Lula quer vetar o reajuste dos aposentados". No resto do jornal defende que Lula vete o reajuste para evitar mais gastos públicos. Imprensa marrom tem dessas coisas.
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