Se o acordo conseguido pelo Brasil com o Irã foi um feito memorável para a nossa diplomacia e um passo importante para a paz mundial, todo mundo viu no mesmo dia. O que se sucedeu, entretanto, desmascarou os Estados Unidos e outras grandes potências, cujo intuito não seria exatamente a paz com o Irã, mas mantê-lo permanentemente sob tensão, seja para alimentar a possibilidade da intervenção militar em busca de petróleo, ou para diminuir sua liderança no Oriente Médio no enfrentamento com Israel.
A Secretária de Estado Hillary Clinton, que já havia jogado uma urucubaca em Lula às vésperas da viagem ao Irã, dizendo que não conseguiria nada de concreto, logo em seguida ao acordo jogou uma pá de cal no esforço e foi logo falando em novas sanções. Desautorizou Lula e a Turquia, e deixou todo mundo boquiaberto, exceto Obama, que ficou de boquinha bem fechada, omisso, e tinha suas razões para isso: em carta a Lula, deu o roteiro para o acordo que seria satisfatório para os EUA, e que foi exatamente o que a diplomacia conseguiu. Ou seja, um diz "consegue isso prá nós", e, depois de atendido, vem outro e diz que não era isso que queriam.
A Folha publica hoje a íntegra da carta de Obama a Lula. Quem compara o documento com o acordo feito no Irã, vai ver que é a mesma coisa. E o Irã fez a sua parte, ao entregar a proposta à Comissão Internacional de Energia Nuclear, da ONU, no prazo de uma semana. Será surpreendente se eles recusarem o mesmo que propuseram em novembro do ano passado e o Irã recusou.
A truculência norte-americana, além de deixar patente que as prévias do partido democrata não terminaram há dois anos e existe uma dualidade de poder entre Obama e Hillary, mostra que não querem ficar de fora dos acordos. Ou é feito por eles, ou não presta. Não aceitam perder o protagonismo nas ações internacionais. O feito brasileiro abriu espaço para que outras potências emergentes e mesmo as principais saiam por aí fazendo política internacional ao arrepio da vontade do império americano. Para quem se acha "Number One" do mundo e diz por aí "we are the best and fuck all the rest", o acordo com o Irã foi uma bofetada.
Lula criticou as pressões americanas e o desprezo pelo acordo que conseguiu às duras penas. E principalmente a política do porrete, do "dá ou desce", nas suas palavras. Mais uma vez joga com a contradição das grandes potências, em busca de afirmar a liderança brasileira enquanto país emergente e de mostrar soberania, inclusive de relativa independência em relação a Tio Sam. O jornal New York Times publicou um artigo criticando a rebeldia de Lula, e censurou os comentários que apoiavam a sua atitude , publicando apenas os que concordavam com o articulista.
Cada vez mais a América se revela um gigante com pés de barro: não cumpre acordos onde não dite os termos, censura opiniões contrárias, agride quem quiser na hora que achar conveniente e, principalmente, é uma grande desorganização, onde a economia vai à bancarrota sem regras para a especulação, petróleo vaza mais de um mês num poço sem nenhuma providência, parece ter dois presidentes e, o pior, nenhum deles tem maioria no congresso. Obama até agora já se revelou uma decepção. Tende a ser um desastre.
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