O governo chinês anunciou anteontem que irá flexibilizar o câmbio gradualmente, permitindo maior flutuação da sua moeda, o Yuan, que é mantida baixa artificialmente para tornar as exportações mais competitivas. Segundo o economista americano Paul Krugman, o câmbio chinês fixo é uma ameaça à economia mundial.
Considerado o peso da indústria chinesa, a desvalorização do yuan é um verdadeiro "dumping". Isso, mais o baixo custo do imenso exército de trabalhadores industriais, e o baixo custo pela alta escala de produção, fazem o produto chinês ser mais barato que em qualquer lugar do mundo.
Aqui no Brasil é fácil ver o estrago que isso faz, basta ver as etiquetas internas das roupas com cada vez mais "made in China". Noutro dia vi num supermercado que até o tradicional cobertor Parahyba é feito lá. Para o capitalista daqui e de qualquer outra parte do mundo, produzir na China é um grande negócio. Custo baixo de mão-de-obra, boa infra-estrutura, políticas agressivas de introdução dos produtos em mercados de todo o mundo, tudo isso gera uma mais-valia excepcional, que é "rachada" com o governo chinês, que também garante a estabilidade social através do controle dos sindicatos e movimentos.
Esse modelo, que parte da premissa da infinita capacidade de produção de mais-valia com salários baixos e congelados pela disponibilidade da gigantesca classe trabalhadora, começa a dar sinais de cansaço. Após mais de 20 anos de crescimento a taxas na ordem de 9% ao ano, a China multiplicou seu PIB, recebeu investimentos de todo o mundo, aumentou a massa salarial e criou um poderoso mercado interno que demanda praticamente tudo. Enquanto a expansão da capacidade instalada pôde ser mantida com investimentos diretos e os insumos se mantiveram baratos, praticamente não houve inflação. Agora, mesmo com a crise na Europa e Estados Unidos esfriando a demanda mundial, há inflação, e corrosão do poder de compra dos trabalhadores.
Greves na Toyota, na Honda, suicídios na Foxconn (que fabrica produtos para a Apple, Dell, Sony, Microsoft e Nokia, entre outras) estão fazendo mudar essa realidade. Os patrões, fragilizados pelo sistema "just in time" que não deixa estoques, já concederam reajustes em algumas empresas, acuados pelo incipiente movimento sindical independente das centrais sindicais controladas pelos burocratas do PC chinês. A pulverização dos protestos e greves não consegue arrancar dos patrões mais que planos de benefícios adicionais.
A tímida mudança no câmbio animou mercados que não conseguem competir com a China, mas o alívio pode ser muito pequeno. Há uma forte pressão americana para a flexibilização, mas o governo de Pequim vinha se recusando a fazer alterações. Talvez agora com o superaquecimento prolongado, a inflação e a explosão de movimentos sociais fora de controle o governo chinês opte por arrefecer o ritmo da economia para conter preços.
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