O Brasil assumiu compromissos de realizar dois grandes eventos de espectro planetário com apenas 2 anos de espaço entre eles, numa conjuntura onde havia dinheiro sobrando no mercado, o turismo bombava e tudo permitia inferir que o cenário para os próximos anos seria de céu azul, garantindo retornos para investimentos privados e grande interesse em investir nessas competições.
A crise mundial, que vem queimando a economia americana e agora a européia, mudou tudo isso, porque o turismo deve arrefecer, os investimentos fogem do risco, e possivelmente quem vai ter que arcar com grande parte do ônus das grandes obras será o contribuinte brasileiro. Na falta de investidores privados, prefeituras, estados e o governo federal serão atraídos a tirar o escasso dinheiro da infra-estrutura para fazer estádios e privilegiar a infra-estrutura para os eventos, mesmo que depois fique com elefantes brancos.
Como se isso não fosse grave, a demora em definições técnicas apertou os cronogramas e a FIFA e o COI, mais que um FMI, irá mandar suas missões ao Brasil para submeter as autoridades aos seus ditames, como se nada mais importasse ao país que cumprir as metas do negócio esportivo mundial. Também graves são a burocracia brasileira, que apesar do aparente rigor das leis não consegue estancar a corrupção, e o ritmo de crescimento da economia, que está revelando gargalos em várias áreas que, sem Copa nem Olimpíada, já criariam grandes crises nos próximos anos. Para completar, a área de engenharia e consultoria está carente de profissionais.
O alinhamento desses fatores propicia a corrupção em larga escala, principalmente em obras e serviços de engenharia, onde já se percebe da parte das autoridades a vontade de simplificar os processos licitatórios, às custas da definição de projetos, criando incertezas que não permitirão a clara orçamentação e fiscalização das obras. Além disso, a forte demanda por alguns materiais ensejará a criação de cartéis, como há denúncias de ter ocorrido na Copa da África do Sul.
Recentemente o Confea e diversas entidades da área tecnológica lançaram o Manifesto Anticorrupção da Engenharia, Arquitetura e Agronomia , como resposta aos anseios da sociedade de criar mecanismos para conter a perda de preciosos recursos na forma de corrupção, execução de obras e manutenções de baixa qualidade a preços superfaturados, e promover uma mentalidade de fiscalização e controle social sobre a aplicação de recursos nessa área.
A exemplo do sucesso da Lei da Ficha Limpa, que mobilizou a sociedade com a coleta de milhões de assinaturas e pressionou o executivo, legislativo e judiciário a aprová-lo em tempo recorde, considero necessário o engajamento da área de engenharia e demais entes da sociedade no acompanhamento rigoroso dos eventos que envolverão grandes quantias na Copa 2014 e Olimpíada 2016, tanto na divulgação entre os profissionais dos preceitos éticos desejáveis, como atuando junto aos organismos públicos de fiscalização para efetivar providências necessárias à perfeita aplicação dos recursos.
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