O PSDB veio para ser o partido de doutrina liberal para contrapor, no campo de classes, ao Partido dos Trabalhadores. Seria o partido de ideologia dos patrões do século XX, do capitalismo moderno. Há tucanos que acreditam nisso, assim como há no PT os que ainda alimentam o projeto socialista.
Num cenário onde é previsível o rolo-compressor do governo nas eleições, qual a melhor tática de sobrevivência para um partido de oposição, sabendo que perderá espaços? Deixar a onda passar, e depois ressurgir sobre as fundações do que for demolido. Preservar sua identidade, doutrina, ideologia é a estratégia para realimentar o crescimento em melhores condições conjunturais.
Por que o PT durante muito tempo alimentou candidaturas próprias e chapas puras em todos os níveis? Para fazer a discussão dos seus pontos programáticos em todas as frentes de combate, mesmo que seus candidatos fossem para o sacrifício. Essa foi uma estratégia que fez o partido crescer sempre, e se capilarizar cada vez mais, mesmo sob fogo cerrado dos inimigos.
Parece-me que o PSDB agora faz o mesmo. Dando como perdida a batalha de Serra, resta agora preservar as disputas estaduais e as bancadas parlamentares. A candidatura própria para presidente é chave nesse processo, defendendo o programa puro do partido, sem mediações para coligações.
No caso, se o PSDB aceita alguém do DEM para vice, terá que distorcer seu programa próprio para encaixar visões que não são suas, e mesmo que combate na extrema direita. Para seus adversários, fica mais fácil encaixar duros golpes com base 500 anos de domínio das elites conservadoras que têm o DEM com herdeiro direto mais visível, que combater projetos políticos.
Quantas candidaturas majoritárias do PT, PSOL, PSTU, PC do B e outros não nasceram mortas, com a exclusiva finalidade de dar visibilidade à identidade do partido? Eu mesmo fui candidato a prefeito nessas condições, para fazer bancada, para defender as principais idéias, sabendo do massacre que viria. Valeu a luta, porque ali preservamos o partido e sua base das investidas dos adversários, e sobrevivemos para dar o troco, ganhando a prefeitura de Fortaleza em 2004 com Luiziane Lins.
Não vejo outra explicação para bancarem Álvaro Dias, um dos tucanos mais radicais, e até indigesto para o DEM, como vice de Serra. Vão deixar o DEM aos leões, sem poder de decidir os rumos da campanha majoritária. Ao DEM e aos outros do campo de alianças do PSDB restará o apoio gratuito, pois até os recursos que serão angariados via campanha majoritária não irão fortalecer as campanhas dos aliados dos tucanos.
Com chapa pura, todo recurso obtido em nome da credibilidade de Serra será carreado para as campanhas dos candidatos do PSDB, num esforço de preservar bancadas ou ampliá-las em cima dos espaços abertos pelos próprios aliados. No mais, resta ao DEM espernear, porque não creio que o PSDB vá abrir mão da ética de bote salva-vidas: eu sobrevivo, você não.
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