É comum que as pessoas ao morrerem recebam algum tipo de respeito até dos seus adversários, afinal, deixam famílias e amigos. Quando se trata de um escritor como José Saramago, que deixou também uma obra literária que lhe rendeu um Nobel de Literatura, o respeito deve ir além da figura do finado, pois a obra continuará viva na forma de contribuição à humanidade.
Se em Portugal até os que o sacanearam impedindo a indicação do seu livro "O Evangelho segundo Jesus Cristo" para um prêmio literário, razão do seu auto-exílio numa ilha da Espanha há 18 anos, fizeram comentários respeitosos apesar de divergentes, o mesmo tratamento não lhe deram justo os que pregam o perdão: a Igreja Católica.
O jornal Osservatore Romano, do Vaticano, publicou um artigo raivoso, "A (presumível) onipotência do narrador", chamando o autor marxista e ateu de "populista extremista" e de "ideólogo antirreligioso", apenas para ficar nos termos menos agressivos. O Vaticano também ficou irritado quando Saramago foi laureado com o Prêmio Nobel.
A obra de Saramago incomodou o Vaticano, mas sobre ele não puderam recair os tradicionais castigos católicos aos "infiéis", como as fogueiras da Inquisição, que perdeu seu poder. Restou a vingança "post mortem", atacando covardemente a quem não pode se defender, e certamente o escritor português o faria, à altura.
Saramago foi um crítico duro da Igreja, mas sua obra e suas idéias nunca chegaram a prejudicar tanto a imagem da entidade como os pecados dos seus próprios membros. Saramago riria muito desse editorial que corrobora com suas críticas à Igreja.
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