No debate da Band da semana passada, Dilma Roussef (PT) esquivou-se de apoiar claramente a luta pela redução da jornada de trabalho e de redução do latifúndio afirmando que não cabe ao governo substituir os movimentos sociais. Estes é que têm que se organizar para reivindicar e conquistar com as suas próprias forças, segundo Dilma, e que seu governo estará aberto ao diálogo com os movimentos e, a exemplo de Lula, não usará cassetetes para tratar a questão social.
Ainda nesta semana li diversos analistas políticos tentando explicar por que a campanha Dilma consegue mais doações de empresas que a de Serra, que seria, pela lógica, o candidato do capital, pois tem plataforma neoliberal e apoio da direita conservadora. A mídia burguesa "descobriu" que o sucesso de Lula / Dilma entre o empresariado está no controle do movimento social pelo PT, constatando que nos 7 anos deste governo houve poucas greves e uma redução importante do risco de desestabilização social que poderia prejudicar seus lucros.
Se os tucanos voltassem, mesmo que não fizessem nenhum ataque frontal aos movimentos, mas tão somente por não terem a capacidade de cooptação de lideranças sindicais e sociais, a realidade seria outra, com a escalada dos enfrentamentos realimentada pela truculência policial do estado. Esse é um cenário indesejado para o capital, e, pelo visto, a garantia da "paz social" é o compromisso que devem querer de Dilma, além do apoio do estado aos seus negócios.
Quem ouve Dilma falar de autonomia dos movimentos sociais e não conhece a prática que degenerou as entidades sindicais e populares na Era Lula até pensa que vivemos num país onde todas as forças se expressam livremente. Essa "compra da paz" pelo governo tem um preço que passa pela distribuição de cargos e benesses a lideranças, pelo peleguismo sindical descarado e por pequenas reformas sociais e programas de transferência governamental de renda, como Bolsa Família, aumento real do salário mínimo e de aposentadorias, etc.
Eleger Dilma é necessário para termos um ambiente de diálogo movimentos/governo num patamar muito superior ao de Serra e seus cassetetes. A maior tarefa para os movimentos sociais será retomar a luta autônoma e independente, fugindo à armadilha prática do discurso "democrático e isonômico" do governo. Isso será difícil, basta ver que em 7 anos e meio, os aliados do governo no movimento social não perderam espaços, mesmo com todo o peleguismo. Dilma, a exemplo de Lula, não fará um "governo dos trabalhadores" de cima para baixo, sendo essencial o preparo para o confronto.
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