Hoje pela manhã, em meio à notícia de um possível atentado contra o presidente do Irã, Ahmadinejad, a Globo deitou e rolou na crítica a Lula, que anteontem ofereceu asilo a uma iraniana condenada à morte por apedrejamento por adultério. Seguiram a linha do artigo do colunista Jackson Diehl, do Washington Post, inimigo mortal de qualquer diálogo com o Irã. Mirian Leitão captou bem o espírito da coisa no seu blog, dizendo que Lula errou duas vezes no episódio.
No seu artigo de ontem, "Lula Apedrejado", Diehl tenta colocar na intenção humanitária de Lula o adjetivo de ingênua, e ainda tacha o presidente brasileiro de "amigo de ditadores". E ainda que Lula mais uma vez foi humilhado por Ahmadinejad, pois o governo iraniano teria tornado letra morta a proposta de acordo nuclear promovida pelo Brasil e Irã, logo após a histórica reunião de Lula com Ahmadinejad em maio. Já o Departamento de Estado americano mostrou-se simpático à iniciativa de Lula, esperando que seu prestígio junto a Ahmadinejad consiga resgatar a mulher.
A Globo vai mais ainda. Quer reacender a imagem do "Lula ignorante", que sempre cultivaram mas, diante da popularidade acachapante do presidente, vinham maneirando. Tentam trabalhar a dicotomia Lula X diplomacia brasileira, ao dizer que a proposta de asilo seria pessoal e não do governo. Colocam a proposta em confronto com a atitude do governo brasileiro diante dos prisioneiros cubanos, e como mais um erro de política externa. Citam a condenação uníssona da imprensa americana e israelense a Lula, mas não falam da repercussão positiva na Europa, menos submissa a Israel, que informa sobre a iniciativa favorável aos direitos humanos.
Os filhos de Sakineh Ashtiani fizeram uma campanha mundial contra a sua condenação, que teve o apoio de artistas brasileiros como Chico Buarque, Caetano Veloso, do ex-presidente FHC e de Yoko Ono. A declaração de Lula veio no sentido de apoiar o movimento.
A proposta de Lula conseguiu abrir espaços na fechada mídia iraniana e dar destaque em todo o mundo para a barbaridade do apedrejamento em obediência à Charia, base do direito islâmico, de natureza religiosa, que coloca a mulher num patamar muito inferior ao do homem. O apedrejamento da adúltera também está no Antigo Testamento. No Brasil o adultério foi considerado crime pelo Código Civil até 2005.
Apesar da negativa do Irã, Lula insiste na proposta, deixando o Irã em posição desconfortável, pois a execução de Sakineh poderia abalar a relação com o Brasil, um dos poucos países que tenta evitar o total isolamento iraniano e abrir caminho para a intervenção EUA - Israel. Anteontem o governo Obama disse que retirará boa parte do contingente do Iraque, podendo recolocá-lo em outro "front", como o Afeganistão. Ou começar uma nova aventura no Irã, como já antecipou uma alta autoridade americana.
Branquinho,
ResponderExcluirvocê que conhece bem o Lula,
acha que ele faria esse movimento sem ter uma sinalização positiva do presidente do Irã?
Abraço,
Lucio Faller
Vitória-ES.