Amanhã haverá assembléias de bancários por todo o país, onde poderá ser decidida a paralização pois as negociações com os banqueiros não avançam, chegando no máximo à reposição da inflação do período. Para os patrões, os lucros exorbitantes não entram nas contas das negociações salariais, porque não querem seus custos fixos elevados. Preferem as participações nos lucros, bônus e outras verbas que não incluam novos direitos, e podem a qualquer momento ser retiradas. As greves estouram e vão até a definição dos índices de reajustes, sendo os demais itens da pauta coisas menores diante disso.
Várias razões retardaram o momento da greve, entre elas o forte domínio do governo Lula sobre o movimento sindical bancário, onde a maioria das entidades e direções obedecem à política de pacto social seja por afinidade partidária, ou por benesses fisiológicas. Num ano de eleições presidenciais, o mínimo que se deveria esperar de lideranças sindicais seria expor a gritante realidade salarial dos bancários diante dos gigantescos lucros dos banqueiros. Nos oito anos de governo Lula, o máximo que a categoria conseguiu foi repor a inflação do período, sem nenhuma reposição do que foi roubado nos 8 anos de congelamento sob o jugo de FHC. Em suma: FHC e os demo-tucanos roubaram o poder aquisitivo dos bancários de bancos públicos, chegando a um patamar ínfimo, e tudo que Lula fez foi manter o poder aquisivo desse salário de fome.
Uma greve no início de setembro poderia forçar o governo a tomar posição não apenas sobre os salários deprimidos do BB, Caixa, Banco do Nordeste e outros estatais, mas sobre o projeto para esses bancos como instrumentos de políticas do governo. Nem um panfleto com promessas demagógicas aos funcionários ou aposentados desses bancos os candidatos tiveram o trabalho de fazer. Ao não se colocarem como atores políticos, os bancários foram perdendo peso, influência e sucumbiram ao imenso poder econômico e midiático dos banqueiros.
Não tenho dúvidas da greve na quarta. Nenhum militante de qualquer orientação partidária de esquerda terá a coragem de se opor à greve a quatro dias as eleições, afinal, todos defendem seus candidatos e se um for contra, os demais dirão que seus candidatos não prestam. Nesta semana, o noticiário não terá espaços para repercutir o movimento, a não ser que se fizesse algo bem diferente das últimas greves, onde uns fingem que paralizam, outros fingem que trabalham, muita gente tira "férias" e aproveitará um eventual "feriadão" para viajar mais cedo para as suas cidades para votar. Enquanto isso, os terceirizados e máquinas escravas continuarão atendendo ao grande público, e a greve não terá nenhum impacto maior, a não ser sobre os não-bancarizados que vão deixar de pagar suas contas em caixas fechados. E estes serão as matérias-primas dos noticiários, com dramalhões explorados para jogar a população contra os trabalhadores.
A greve deveria ter acontecido no início de setembro. A política dos candidatos para os bancos públicos deveria ter sido fustigada pelo movimento. A denúncia do congelamento de FHC e da continuidade do arrocho por Lula deveria ter sido feita, como forma de pressionar pela solução do arrocho e por planos de recomposição do poder aquisitivo. O saque às reservas dos planos de pensão, com base na ilegal Resolução 26 da CGPC, deveria ter sido colocado a cada candidato para saber se iriam insistir em repassar os recursos das aposentadorias para os lucros dos bancos públicos. Nada disso foi feito. A oportunidade passou, e teremos mais uma daquelas greves por 1% acima da inflação, uns penduricalhos da pauta social e grupos de trabalho que enrolarão por mais um ano. Nada mais previsível. E tudo que é previsível, é vulnerável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário