sexta-feira, 10 de setembro de 2010

EUA : tolerância com a intolerância religiosa

Mais uma vez uma iniciativa sectária religiosa ameaça vidas pelo mundo. Desta vez um pastor evangélico, que tem uma igreja com 30 seguidores, propõe que neste 11 de setembro se queimem exemplares do Corão, livro sagrado dos muçulmanos. A idéia é marcar a passagem dos 9 anos do atentado contra as torres gêmeas em Nova Iorque, e contra a construção de uma mesquita próxima ao local.

Por conta desse ataque, o ex-presidente George W. Bush invadiu e destruiu o Iraque, e atolou vários países numa guerra sem fim no Afeganistão, que se espalhou para o Paquistão. Bush não atacou nenhum símbolo religioso, nem uma religião especificamente. Usou o pretexto da "guerra contra o terror " para se apossar de reservas de petróleo. O mundo islâmico não se opôs fortemente a tudo isso. Agora é diferente. Mexeram com algo sagrado para eles, e a reação será proporcional ou maior à ação irresponsável do tal bispo.

Os cerca de 1 bilhão de muçulmanos pelo mundo estão alvoroçados com a provocação do pastor. O governo se esforça no sentido de dizer que ele não fala pelos americanos, e até o secretário de defesa dos EUA ligou para o pastor para pedir a ele que reconsiderasse a proposta. No Brasil, o provocador já estaria enquadrado por intolerância. Em 1995, o pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, Sérgio Van Helde, no dia de Nossa Senhora de Aparecida, ofendeu com palavras uma estátua da virgem e a chutou, perante fiéis. A cena foi gravada e o pastor foi processado e condenado por crimes de discriminação reliosa, vilipêndio a imagem e incitação ao preconceito religioso.

Para quem já tem ódio ao imperialismo americano, o chamado do clérigo à destruição de símbolos que são sagrados para 1 bilhão de pessoas é um prato cheio para as manifestações de hostilidade. Bandeiras americanas começam a ser queimadas, e as tropas de ocupação no Iraque e Afeganistão entram em alerta. Turistas, embaixadas e empresas podem ser alvos do ódio religioso em reação ao sectarismo irresponsável.

O mundo não está a fim de uma nova Cruzada. Até agora não se sabe de islâmicos pregando a queima de Bíblias. O estado americano é laico, assim como o brasileiro, e o governo deveria intervir para fazer valer o respeito ao direito de opção religiosa, até porque há milhões de seguidores do Corão em território dos Estados Unidos. Mais uma vez a violência religiosa pode causar vítimas.

O governo Obama, em nome talvez da liberdade de expressão, fica olhando as coisas acontecerem, só se rebaixando e dando holofotes ao provocador, que aproveita seus 15 minutos de fama para impor condições para abrir mão dessa insanidade, como impedir a construção da mesquita. Se hoje não fazem nada, amanhã não poderão reprimir outros tipos de intolerância, como a pregação neo-nazista.


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