Com a tranquilidade que as UPP trouxeram à região onde moro no Rio, tomei coragem para conhecer incríveis pontos turísticos que, em linha reta, distam 2 km da minha casa, mas como ficam em áreas historicamente dominadas pelo crime, eram muito perigosas para se transitar. O Morro do Borel, que fica no vale do Rio Maracanã, na Tijuca, sempre foi um tabu, pelas lendas que corriam dos marginais que deram péssima fama ao local.
O supermercado Carrefour foi vítima
disso: abriu uma loja em frente ao Borel,
numa rua que não era adjacente, e teve que fechá-la porque as pessoas não tinham coragem de fazer compras lá. Além do mais tinha uma esteira rolante com vista panorâmica para o Borel que fazia as pessoas se sentirem como patinhos de tiro-ao-alvo de parque de diversões... Havia também as guerras com os bandidos do Morro da Formiga, que fica na encosta do outro lado do vale, com batalhas campais e arrastões nas ruas próximas.
Essa expedição exploradora radical também foi facilitada pelo meu ve
ículo de aventuras, um Escort 91 com motor 1.8, de lataria camuflada para parecer carro de pobre, sem o qual não conseguiria subir as íngremes ladeiras bem pavimentadas de concreto, com frisos que ajudam na aderência. Não tente fazer isso com um carro 1.0, porque pagará mico. Para chegar ao topo do morro só com Kombi, moto, pequenos caminhões e carros com motor de, pelo menos, 1400 cilindradas.
Depois de uma parada no mirante do Morro do Cruz, que fica no topo da Rua Maria Amália, contraforte do morro que divide a Tijuca do Andaraí, subi pela rua feita num desses projetos de urbanização de comunidades carentes e, com muita adrenalina mais por causa das rampas íngremes que por receio de bandidos, cheguei ao local chamado Chácara do Céu, que era estratégico para o crime, mas onde hoje há uma das UPPs e está sendo urbanizado pela prefeitura, com a construção de quadra de esporte. O local é a linha de cumeada do morro que separa a Tijuca do Andaraí e Grajaú, com vista excepcional da zona norte da cidade, do centro, da Baía de Guanabara, Serra dos Órgãos, ilhas, etc.
Cruzando a praça e descendo para o lado do Morro do Borel, há uma bela
vista de toda a região da Rua Conde de Bonfim entre a rua Uruguai e a Usina, e o vale da estrada do Alto da Boa Vista. Desci a pirambeira bem pavimentada até sair na Rua São Miguel, na entrada principal do Borel. O único sufoco foi manobrar quando vinha carro no sentido contrário, porque é quase impossível dar uma marcha-a-ré naquele aclive. Tem lugares tão íngremes onde não dá para parar para tirar fotos, porque mesmo como freio de mão acionado e marcha engatada, é preciso coloca pedras sob as rodas para evitar o deslizamento do veículo.
No mais, tudo tranquilo. O Borel que a gente vê não tem a desordem urbana de outras favelas. Praticamente tudo é pavimentado, e não há a superlotação de casas de outras comunidades. O serviço de limpeza da Comlurb é frequente, não havendo lixo acumulado ou espalhado. Crianças brincam nas ruas, e em boa parte das casas há algum veículo, antenas de TV por assinatura, ar condicionado e outros confortos.
As pessoas parecem tranquilas, sem medo. Há muitas obras de contenção de encostas, mas há habitações precárias com risco de desabamento em caso de tempestades. Não vi em nenhum lugar pessoas em atitudes suspeitas, nem nenhum lugar com características de boca-de-fumo, que já vi em outras áreas pacificadas.
Bem-sucedido nessa empreitada, resolvi pegar outro caminho outrora temerário, que passa pela comunidade da Casa Branca, e vai de novo à Chácara do Céu por outro contraforte do morro. Mais uma vez o sufoco é com a rampa, nada que um carro 1.8 não tire de letra, mas a impressão que dá é de estar subindo uma parede. Na descida para o Morro do Cruz, há bares com mirantes, outrora de uso exclusivo da bandidagem, que agora teria coragem de parar e tomar uma cerveja apreciando a paisagem. Da próxima vez, vou a pé.
c é meio exagerado, talvez sua veia cômica ocupe o lugar desse tal exagero, mas como morador desse COMPLEXO, DESDE 1967 posso lhe garantir que seu exagero só pode ser CÔMICO. contudo, PARABÊNS PELO tour. grande abraço!
ResponderExcluirestamos vivendo na paz estamos libertos desses marginas
ResponderExcluirParabéns pela excelente matéria jornalística fazendo o Diário do Rio nos anais da imprensa popular. E acrescento: "Defende a paz quem é da paz, e defende a guerra urbana, a violência quem é violento e incapaz socialmente. Pois a sociedade é formada por três camadas sociais: cidadão, polícia e marginal." Radialista Geraldo Aguiar
ResponderExcluirSeu texto ficou muito bom, mas em partes dele eu (como morador do cruz) percebi que você é como um rico nu perdido na floresta da tijuca. A vista realmente é muito bonita, porém você exagerou em algumas colocações de passar a ideia de que as comunidades sequer teriam calçadas antes da UPP e que em qualquer beco se via montanhas de lixo. Valeu pelo passeio, mas sua visão é um tanto arcaica.
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