O presidente francês Sarkozy parece mais preocupado em demonstrar as qualidades dos aviões Raphale e Mirage em cenário de guerra que com qualquer iniciativa virtuosa em relação ao povo líbio, e quer um naco do petróleo e gás, pois seu programa nuclear pode ser questionado após o problema japonês. Também diz que o objetivo é derrubar Kadafi, mesmo com os rebeldes acuados numa cidade a 1000 km de Tripoli. A Itália disputa com a França a primazia de negócios de petróleo e gás na Libia. Quer que a OTAN assuma o comando da operação. A Inglaterra também tem jazidas de óleo em decadência, e quer a sua parte.
A Liga Árabe, que apoiou a resolução da ONU, protesta contra os ataques generalizados. Enquanto isso, o ditador Kadafi deita e rola como vítima de intervenção internacional, e quer ir à ONU protestar contra a violação das resoluções sobre autodeterminação dos povos e direitos à cidadania. Os rebeldes comemoram os ataques a Kadafi, mas continuam perdendo terreno em cidades menores. As tropas do governo escondem-se nos grandes centros, fazendo a população civil de refém dos ataques aéreos.
Está tudo errado na Líbia. Primeiro, a oposição escolheu errado a hora da rebelião, entrando na onda das revoltas do Egito e Tunísia, infladas por potências que queriam uma alternativa a Kadafi para chegar ao petróleo barato e próximo à Europa. Erraram na avaliação das forças de Kadafi, e a guerra prolongada levou à exaustão dos seus recursos. Não conseguiram convencer o ocidente dos seus propósitos, porque o Conselho tem diversas tendências, inclusive fundamentalistas. Kadafi demorou a entender que os que chamava de "cães infiéis", de "drogados" e "agentes da Al Qaeda" eram mais poderosos que pensava, e que suas declarações de lealdade às potências não valia nada, pois queriam sua cabeça. Demorou a reagir com a imensa superioridade militar, avançando facilmente sobre os territórios perdidos assim que se reorganizou.
Parece que as potências também acreditaram na força da oposição, e ficaram de fora do processo até que Kadafi chegou aos subúrbios do último reduto dos rebeldes. Aí já não estava mais na ordem-do-dia a reversão do cenário de derrota da rebelião, mas a proteção de civis e evitar o massacre de milhares de pessoas acuadas pelas forças do governo. A resolução da ONU é por uma zona de exclusão aérea, ou seja, tirar a capacidade de Kadafi fazer bombardeios indiscriminados sobre Benghazi e massacrar o povo. Os ataques das potências, entretanto, visam alvos diversificados em todo o país, inclusive a residência de Kadafi e prédios do governo.
Embora a mídia trate a Líbia como terra de ninguém, o fato é que tem um governo, mesmo nas mãos de um ditador, como em vários outros países árabes e na África, que não merecem da ONU a mesma preocupação diante de massacres a opositores. As potências desde o início do conflito dizem a Kadafi para sair, em claro apoio aos rebeldes. O mesmo não se viu no Egito nem na Tunísia, e nada se falou da intervenção da Arábia Saudita com tropas para sufocar a rebelião no Bahrein.
A hipocrisia e os interesses conflitantes entre os saqueadores em busca de petróleo fortalecem Kadafi e todos os demais ditadores que já estão sufocando as rebeliões violentamente.
Pior: com a intervenção de alguns países, o que era uma operação para fazer as forças do governo pararem para começar uma negociação sobre liberdades e respeito aos virtualmente derrotados, agora virou fôlego para a continuidade, pelos rebeldes, de uma guerra civil sangrenta. Kadafi agora ameaça com terrorismo, incentivo à migração clandestina para a Europa e sabe-se lá onde foram parar aqueles mísseis que apareciam nas paradas militares, que podem chegar a alvos na Europa.
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