O governo socialista corroeu o estado do bem-estar social espanhol : aumentou a idade para aposentadorias, reduziu benefícios sociais, ajudou empresários e bancos com dinheiro público, seguiu a cartilha de arrocho e recessão do FMI para tirar a Espanha do buraco. Resultado: 45% dos jovens estão desempregados. Eles foram à Praça do Sol, no coração de Madrid, e aos principais lugares de concentração pelo país acampar e protestar contra o governo, e pedir que não se votasse nos partidos da coalizão governista. Enfrentaram a lei, que proíbe protestos em período eleitoral. O governo de Zapatero não mandou baixar a porrada, como a direita certamente faria.
Os partidos perderam suas referências, em especial os da esquerda, os ideológicos, em todo o mundo, daí hoje termos o ascenso de lideranças como indivíduos, como ídolos populares, e de seitas religiosas, sem qualquer referência classista. Quem estava à frente do FMI era Strauss-Kahn, nome do Partido Socialista francês que disputaria as eleições com boas chances contra o direitista Sarkozy. Ou seja: quem tocava os planos de arrocho e recessão era alguém afinado com as idéias ditas socialistas ou social democratas. Só lembrando: o nome do PSDB é Partido Social Democrata Brasileiro.
Aqui no Brasil o PT vai no mesmo rumo. Sem aprofundar de forma indelével as conquistas sociais mais recentes, tudo que aí está poderá ruir num governo de direita. Para isso é preciso fazer, pelo menos, reformas mais profundas nas leis do país, e o atrelamento do PT a grupos tradicionais do fisiologismo político não permitirá isso. Com o movimento social apelegado, fica quase impossível mudar alguma coisa aqui. O problema não é só do PT: o PC do B vem colaborando ativamente com os latifundiários através do relator do Código Florestal, Aldo Rebelo, e com os empreiteiros e políticos corruptos, através da relatora da MP 521 Jandira Feghali.
Se o governo de Dilma fracassar, mesmo fazendo políticas de redução de miséria e recuperação do papel do estado como provedor de bem-estar, o povão votará na direita que, como na Espanha, entrará arrebentando os direitos sociais e favorecendo mais ainda o capital, sem qualquer pudor. É por coisas assim que a direita, sem ter o que oferecer além do que aí está, prefere a desqualificação, a baixaria, não para criar massa crítica para as políticas do governo, mas para simplesmente difundir o ódio que os leve ao poder. Os Paloccis da vida servem a isso.
Na Espanha foi mais ou menos assim, e infelizmente a juventude, no seu vigor revolucionário, deu um passo atrás, na ausência de uma alternativa que aponte para a superação da opressão capitalista. O perigo é o crescimento do fanatismo direitista e do surgimento de figuras carismáticas que apontem saídas como Hitler fez na Alemanha destruída e humilhada no fim da guerra de 1919. O fascismo pode voltar em toda essa crise, na falta de uma esquerda revolucionária. Ou a barbárie, a exemplo dos países árabes em escombros, que poderão se perder em guerras tribais.
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