No dia que foi em cana, pego quando já estava no avião, o ex-todo-poderoso do FMI iria de Nova Iorque para a Europa, onde acertaria com a primeira-ministra alemã Ângela Merkel empréstimos para os países falidos do bloco europeu. Com a prisão, tudo ficou solto, e a crise se aprofundou, com quedas em bolsas de todo o mundo e suspeitas do rompimento de países como Grécia, Itália, Espanha, Portugal e Islândia com a moeda unificada.
Para aderir ao Euro, cada país teve que seguir um roteiro de alinhamento de diversas variáveis macroeconômicas, e abrir mão de políticas cambiais. Alguns países pagaram caro por isso, e imediatamente viram seus produtos e serviços multiplicarem de preços em alguns setores, perdendo a competitividade. Em troca, alguns foram contemplados com investimentos infra-estruturais com recursos da Comunidade Européia.
A Grécia, que está na berlinda porque não terá dinheiro para pagar empréstimos nos próximos dias, pode abandonar o Euro e voltar a ter moeda própria. A partir daí, poderá desvalorizá-la e tornar mais competitiva a sua economia. Essa alternativa extrema seria a resposta à inviabilidade de seguir mais profundamente o plano de maldades do FMI (arrocho salarial, demissões, privatização, enxugamento do setor público, redução de aposentadorias, etc), porque a população está nas praças em manifestações de oposição cada vez maiores.
Se sair do Euro, outros países poderão acompanhá-la e os efeitos seriam imprevisíveis para o bloco europeu, daí o esforço dos países mais ricos para rolar a dívida grega e manter a Grécia na moeda unificada.
A Espanha não está tão mal das pernas quanto a Grécia, mas tem 45% dos seus jovens desempregados, sem nenhuma perspectiva de futuro. Eles estão acampados nas praças exigindo soluções, mas tudo que têm até agora é o surrado plano de ajustes do FMI drenando as riquezas do país e massacrando o povo espanhol. É outro que pode sair do Euro.
Na França os jovens também estão em constante mobilização contra as políticas de arrocho de Sarkozy. Em Portugal, onde se votou na direita contra as políticas de direita dos socialistas, os planos do FMI terão mais velocidade com o novo governo, e logo haverá confrontação social.
Se nos países árabes a chamada Primavera de revoltas contra tiranias teve a juventude e a crise econômica como propulsoras das mudanças (que nem foram tão mudanças assim, até aqui), o mesmo deverá acontecer na Europa neste verão que se aproxima, especialmente quando os jovens saem de férias e viajam pelos demais países, propiciando interações que poderão contribuir para a maior articulação dos movimentos de protesto.
Pena que toda essa energia esteja desprovida de um projeto de mudanças consistente, de ruptura com o capital, limitando-se a ser "contra", ou seja, se tem eleição, vota-se na oposição, não importa quem seja. Daí essas maluquices na Espanha e Portugal de votar na direita contra os efeitos dos projetos da direita em uso por governos ditos de esquerda.
Óptima análise, primo !
ResponderExcluirSó acrescentaria dois pormenores:
- Ao assunto DSK, além de produzir o tal "efeito borboleta", chamaria, também, "nariz de Cleópatra", porque alterará (?) o curso da História;
- A grande emigração de jovens com elevadas classificações, que, mesmo em circunstâncias normais, seriam demasiados para a pequenez do mercado de trabalho.
Cumprimentos
Alberto Branqunho
(Lisboa)
Alberto,
ResponderExcluirObrigado pelo comentário. Sobre a questão da migração, vi há 3 anos um cenário terrível no Uruguai. Na capital Montevidéu não era considerável a presença de jovens. Idosos e crianças ficam por lá, enquanto os jovens mais qualificados migraram para outros países em busca de oportunidades. O pior é que países como o Brasil, felizmente passando ao largo da crise, está aceitando profissionais estrangeiros com mais experiência, daí concluir que a juventude européia, potencialmente, se colocará disposta a lutar por melhorias nos próprios países.