Aí vêm duas meias verdades: o consumidor, num aeroporto, não tem outras opções a não ser as oferecidas pelas lojas locais. Há algum tempo até tinha (não sei se ainda tem) um restaurante malocado em Congonhas, que era o lugar onde os funcionários comiam, com preços mais "normais". Isso se repete nas paradas de ônibus nas estradas, em especial nas de propriedade das próprias empresas de transporte, quase sempre em lugares ermos, sem qualquer opção. Daquelas com a papeleta que cisma de sumir, obrigando o usuário a pagar multa.
Com os shoppings também acontece algo parecido, mas existe alguma concorrência. Primeiro, porque os shoppings hoje estão em áreas urbanas, onde há lojas de rua próximas. O cliente vai lá pela comodidade, segurança, estacionamento, variedade, e paga um preço por esse diferencial.
Tanto nos aeroportos, onde há o monopólio da INFRAERO de todos os espaços, como nos shoppings, onde há em geral uma só empresa dona de tudo, os preços dos aluguéis comerciais situam-se muito acima do mercado do entorno, quando existe. Essa realidade não mudaria com a privatização de aeroportos. Apenas teríamos um novo algoz monopolista, que poderia cobrar até mais, porque o interesse da mídia termina na privatização. Depois, não interessa mais fazer matérias sobre o assunto.
Alguns exemplos: tive acesso a preços de locação de um shopping em Fortaleza, há uns 6 anos, e o espaço para uma carrocinha de pipoca, daquelas que ficam no meio do corredor, era de R$ 2.500,00. Imagine quanta pipoca terá que ser vendida só para pagar o aluguel. Fora outras despesas condominiais. Ou a que preço um saquinho terá que ser oferecido.
Outro, agora com a INFRAERO, num aeroporto do nordeste, pude ver que qualquer coisa num aeroporto rende receitas para o órgão público, desde as taxas de embarque ao uso dos hangares, e principalmente dos espaços comerciais. Até aqueles totens, mídias verticais que ficam pelos corredores com propaganda, pagam uma boa nota para ficarem ali. E os "slots", que são as autorizações para operação de empresas? Só para ter idéia da fortuna que valem esses direitos, a Gol comprou agora a Webjet nem tanto pelas rotas ou pelos aviões, mas pelos "slots" que tem nos diversos aeroportos.
Como é que os preços de aluguéis sobem num aeroporto? Por serem áreas públicas, tem que haver licitação. OK. Mas qual o preço mínimo, estipulado pela Infraero? O preço de monopólio, ou seja, qualquer preço alto, que varia conforme a atividade que determine no seu "mix". Não se pode botar qualquer coisa em qualquer lugar. Lugar de banco é para alugar a banco. Comida é na praça de alimentação. Sai um, entra outro do mesmo ramo.
Como esses espaços são cada vez mais concorridos, com a crescente demanda por viagens aéreas, os participantes de uma licitação dão lances muito altos para garantir seus espaços. E depois, como fica, se paga por metro quadrado num aeroporto muito mais que numa loja de rua ou shopping, como pagar?
Os preços dos produtos terão que subir, é obvio, porque comerciante não é pródigo, quer lucrar com o seu empreendimento. Ele vai colocar o valor do aluguel e das despesas condominiais junto com as de pessoal, insumos, lançar o seu lucro sobre o capital em cima de tudo e aí vai formular a tabela de preços para ter as margens em cada produto. É por isso que uma loja de uma mesma rede cobra mais barato num bairro onde há imóveis mais baratos que no centro da cidade, e menos que num shopping. Os preços são uma função dos custos e do fluxo de clientes.
É nessa que um refrigerante vai a R$ 5,30, um cafezinho expresso vai a R$ 3, 00, um copo de cerveja de 500 ml vai a R$ 12. E a INFRAERO diz que nada mais faz que licitar, seguindo o mercado, que não existe: ela sabe usar o seu monopólio direitinho para arrecadar. Tem mais "expertise" nisso que em serviços aeroportuários propriamente ditos, cuja qualidade muitos já conhecemos ou ouvimos falar. E não é só a INFRAERO: em todo o mundo, mesmo em aeroportos privatizados, como o gigantesco Heathrow, em Londres, as tarifas de embarque são escorchantes e os preços cobrados nas locações empurram as empresas para aeroportos mais longínquos.
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