A Hungria foi um império poderoso, e teve um papel importante na geopolítica do Leste Europeu por séculos. Resumindo a fase mais recente, faziam parte do Império Austro-Húngaro quando este entrou na Primeira Guerra Mundial aliado com a Alemanha. Terminada a guerra, a derrota custou à Hungria a perda de importantes territórios, como a Transilvânia, a Eslováquia e sua saída para o mar na Croácia.
Os comunistas húngaros, liderados por Bela Kun, chegaram ao poder em seguida, com o apoio do Exército Vermelho da recente União Soviética, mas foram golpeados e expulsos pela extrema-direita. A partir daí, os governos dos chamados "húngaros brancos" buscaram apoio na Alemanha de Hitler para reconquistar os territórios perdidos. Através da corte internacional de Viena, reconquistaram alguns territórios, com o apoio diplomático de Hitler, mas não resolveram todas as questões. Quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial, os húngaros invadiram e reconquistaram mais áreas.
O preço do apoio de Hitler foi o envolvimento da Hungria ao lado das tropas nazistas na invasão da Rússia, que até a batalha de Stalingrado parecia moleza. Quando as perdas aumentaram muito para o lado dos húngaros, o governo fascista começou a negociar com os aliados (EUA, URSS e Inglaterra), fazendo jogo duplo com os nazistas. Sabendo disso, Hitler mandou suas tropas invadirem a Hungria, colocando no poder um governo local de extrema direita, que não ficou só na criação de leis contra os judeus, mas apoiou a deportação para campos de concentração e massacres em plena Budapeste.
As tropas soviéticas, lideradas por Stalin, os comunistas húngaros e as forças aéreas dos Estados Unidos e da Inglaterra derrotaram os alemães na Hungria, depois de batalhas tão sangrentas quanto as de Stalingrado. Derrotados os fascistas, no pós-guerra os comunistas chegaram ao poder, com o apoio do Exército Vermelho, que manteve tropas em território húngaro.
O governo dito comunista, além de ter que arcar com a reconstrução do país arrasado, começou um programa de reformas que envolvia a expropriação de bens, a reforma agrária e a industrialização forçada. Num ambiente de guerra-fria, tendo boa parte da população colaborado com o nazismo, a delação e os julgamentos arbitrários, marcas do estalinismo, entraram no cotidiano. Acabaram-se as liberdades democráticas. A burocratização, subserviência aos soviéticos e idolatria do governo a Stalin agravaram os desvios do que seria o socialismo.
Em Budapeste foi erigido um enorme monumento a Stalin, com palanque onde os burocratas do PC Húngaro faziam as grandes manifestações de apoio ao seu governo. Em 1953, Stalin morreu, e no PC Soviético começou um período de revisão dos crimes do estalinismo, com consequências nos demais partidos comunistas do mundo. No Brasil a tensão entre os estalinistas e os revisionistas deu no racha que criou o PC do B. Nos países do Leste Europeu o debate chegou às ruas, através de manifestações pela democracia, e teve seu ápice no levante húngaro, em 1956.
Em 23 de outubro de 1956, manifestantes invadiram a rádio estatal de Budapeste exigindo que fosse lido no ar um manifesto por liberdades democráticas. Tropas foram mandadas ao local para retirá-los, mas acabaram aderindo. Em todo o país começaram a se formar barricadas, e a reivindicação principal era a retirada das tropas soviéticas do país. A grande estátua de Stalin foi quase completamente destruída, restando-lhe apenas as botas sobre o pedestal. A tentativa de revolução foi duramente reprimida pelo Exército Vermelho, e as lideranças foram aniquiladas.
Como Stalin já não era mais uma referência unânime, primeiro o pedestal ficou lá, só com as botas. Depois tiraram tudo, e não repuseram a estátua. Até as peças de decoração que ficavam na base do pedestal foram retiradas. Depois do fim do governo dito socialista em 1989, a prefeitura de Budapeste resolveu recolher todas as peças alusivas ao período do pós-guerra e recentemente foi criado o Memento Park, bem longe do centro, como memória do período, onde foi reconstruído um pedestal sobre o qual foram colocadas as botas de Stalin.
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