sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Viagem : Quando o câmbio explode

Não é a primeira vez que uma maxidesvalorização de moeda nos pega no meio da viagem. Em dezembro de 1979, estávamos na Argentina quando vimos numa loja de câmbio uma radical modificação da moeda brasileira. Passamos numa outra que ainda não tinha mudado e trocamos dinheiro, minimizando o problema.

Em 1999 vínhamos poupando para ir ao Canadá, e de repente o Real implodiu e o dólar pulou de R$ 1,20 para R$ 3,00 em poucos dias. Já era a viagem, porque os recursos cairam a bem menos da metade.

Agora, com 10 dias de uma viagem de 50, o dólar se valoriza no Brasil. Desta vez estamos mais securitizados, porque o uso de cartão de crédito já estava proibitivo com o aumento do IOF de 2,38% para 6,38% desde abril, e optamos por comprar moeda estrangeira através de cartão "travel money". O uso de cartão de crédito ficou restrito a sites de passagens e hotéis brasileiros, que cobram em reais.

Com o repentino aumento de mais de 10% do dólar, os sites brasileiros passaram a embutir expectativas de aumento do câmbio nos preços em real das passagens e hotéis, inflacionando a viagem. Para quem vai viajar agora, é o pior dos mundos, porque terá que comprar a moeda cara, e ainda pagar no Brasil os preços já inflados. No nosso caso, resta o cartão de euros, e aí começam os problemas.

O cartão em moeda estrangeira não pode ser usado numa transação muito comum que é a de garantia de pagamento. Locação de veículos, por exemplo. No ato da locação, você deixa uma garantia num valor superior ao da locação através do cartão. Depois de devolvido o carro, essa transação é anulada e aí se cobra o valor real, se não houver nenhum problema com o veículo. Insistimos para pagar à vista, mas não aceitaram. O mesmo acontece em alguns hotéis, a não ser que se pague antecipadamente. Já nas lojas, bares, restaurantes e serviços o travel money funciona como cartão de débito. Nos saques, não é todo banco que aceita.

No nosso planejamento uma das condições que os economistas chamam de "ceteris paribus", ou seja, aquelas que são consideradas constantes, é o câmbio. Tínhamos consciência da supervalorização do real em relação ao dólar e ao euro, e que isso era uma instabilidade, daí o governo ter tomado medidas recentes para conter a entrada e para reduzir o "hedge" em moeda estrangeira, e feito a taxação das compras via cartão.

O próprio "travel money" é uma espécie de poupança em moeda estrangeira, já que pode ser gasto em 18 meses e convertido a qualquer momento em reais, sem necessidade de apresentação de passagens, se é que entendemos bem as explicações. Compramos os euros antes de começar a fazer as demais compras, também como cautela para eventuais novas medidas para desvalorizar o Real, que é uma demanda da indústria brasileira, assolada com a invasão de produtos importados mais baratos. O dólar mudou de patamar mas nada de expressivo.

A crise americana não seria o maior problema, porque tudo que se faz agora por lá é eleitoreiro, e de pequena probabilidade de atingir o resto do mundo. O maior incerteza estaria na crise européia, com os calotes de países como a Grécia, Portugal, Itália, etc, que já haviam tomado medidas de austeridade nos modelos de arrocho do FMI (arrocho salarial, demissões, privatizações, redução de aposentadorias, etc), mas só agora elas começam a ser sentidas pela população, trazendo um ciclo de greves e protestos que ninguém sabe como terminará. Essa conjuntura de confronto acontecerá em paralelo com os 35 dias de viagem que nos restam.

O que fazer agora? Há um cenário complicado, mas que considero praticamente inviável, que é o da desvalorização contínua do real a patamares de 50%. Não rola porque o Brasil tem reservas sólidas e pode abafar o mercado de câmbio em meio à especulação, e porque, passado o pânico dos capitalistas, vem a percepção de que não há onde enfiar a montanha de capitais para obter rendas que não seja em países como o Brasil, China, etc.

Eles correm mas voltam, e aí o Real valoriza de novo. Acreditando no cenário de bolha, ou seja, vem o pânico, o dólar sobe por uns dias, depois volta ao patamar que o governo quiser (creio em 1,80 a 1,90, para não surtar a inflação), e por isso a viagem continua com mudança na estratégia de compras. Evitar comprar mais passagens e hotéis no exterior em sites brasileiros, e pagar em travel money é a diretiva agora.

Se o pior cenário acontecer, impedirá novas viagens futuras, com impacto na atual: teremos que viajar tudo agora, correndo mais para fazer o máximo. Isso cria mais estresse, porque a toda hora novas variáveis impoem replanejamentos, e acelerar isso corta o barato de quem veio a lazer.


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