Em 1999 vínhamos poupando para ir ao Canadá, e de repente o Real implodiu e o dólar pulou de R$ 1,20 para R$ 3,00 em poucos dias. Já era a viagem, porque os recursos cairam a bem menos da metade.
Agora, com 10 dias de uma viagem de 50, o dólar se valoriza no Brasil. Desta vez estamos mais securitizados, porque o uso de cartão de crédito já estava proibitivo com o aumento do IOF de 2,38% para 6,38% desde abril, e optamos por comprar moeda estrangeira através de cartão "travel money". O uso de cartão de crédito ficou restrito a sites de passagens e hotéis brasileiros, que cobram em reais.
Com o repentino aumento de mais de 10% do dólar, os sites brasileiros passaram a embutir expectativas de aumento do câmbio nos preços em real das passagens e hotéis, inflacionando a viagem. Para quem vai viajar agora, é o pior dos mundos, porque terá que comprar a moeda cara, e ainda pagar no Brasil os preços já inflados. No nosso caso, resta o cartão de euros, e aí começam os problemas.
O cartão em moeda estrangeira não pode ser usado numa transação muito comum que é a de garantia de pagamento. Locação de veículos, por exemplo. No ato da locação, você deixa uma garantia num valor superior ao da locação através do cartão. Depois de devolvido o carro, essa transação é anulada e aí se cobra o valor real, se não houver nenhum problema com o veículo. Insistimos para pagar à vista, mas não aceitaram. O mesmo acontece em alguns hotéis, a não ser que se pague antecipadamente. Já nas lojas, bares, restaurantes e serviços o travel money funciona como cartão de débito. Nos saques, não é todo banco que aceita.
No nosso planejamento uma das condições que os economistas chamam de "ceteris paribus", ou seja, aquelas que são consideradas constantes, é o câmbio. Tínhamos consciência da supervalorização do real em relação ao dólar e ao euro, e que isso era uma instabilidade, daí o governo ter tomado medidas recentes para conter a entrada e para reduzir o "hedge" em moeda estrangeira, e feito a taxação das compras via cartão.
O próprio "travel money" é uma espécie de poupança em moeda estrangeira, já que pode ser gasto em 18 meses e convertido a qualquer momento em reais, sem necessidade de apresentação de passagens, se é que entendemos bem as explicações. Compramos os euros antes de começar a fazer as demais compras, também como cautela para eventuais novas medidas para desvalorizar o Real, que é uma demanda da indústria brasileira, assolada com a invasão de produtos importados mais baratos. O dólar mudou de patamar mas nada de expressivo.
A crise americana não seria o maior problema, porque tudo que se faz agora por lá é eleitoreiro, e de pequena probabilidade de atingir o resto do mundo. O maior incerteza estaria na crise européia, com os calotes de países como a Grécia, Portugal, Itália, etc, que já haviam tomado medidas de austeridade nos modelos de arrocho do FMI (arrocho salarial, demissões, privatizações, redução de aposentadorias, etc), mas só agora elas começam a ser sentidas pela população, trazendo um ciclo de greves e protestos que ninguém sabe como terminará. Essa conjuntura de confronto acontecerá em paralelo com os 35 dias de viagem que nos restam.
O que fazer agora? Há um cenário complicado, mas que considero praticamente inviável, que é o da desvalorização contínua do real a patamares de 50%. Não rola porque o Brasil tem reservas sólidas e pode abafar o mercado de câmbio em meio à especulação, e porque, passado o pânico dos capitalistas, vem a percepção de que não há onde enfiar a montanha de capitais para obter rendas que não seja em países como o Brasil, China, etc.
Eles correm mas voltam, e aí o Real valoriza de novo. Acreditando no cenário de bolha, ou seja, vem o pânico, o dólar sobe por uns dias, depois volta ao patamar que o governo quiser (creio em 1,80 a 1,90, para não surtar a inflação), e por isso a viagem continua com mudança na estratégia de compras. Evitar comprar mais passagens e hotéis no exterior em sites brasileiros, e pagar em travel money é a diretiva agora.
Se o pior cenário acontecer, impedirá novas viagens futuras, com impacto na atual: teremos que viajar tudo agora, correndo mais para fazer o máximo. Isso cria mais estresse, porque a toda hora novas variáveis impoem replanejamentos, e acelerar isso corta o barato de quem veio a lazer.
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