segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Viajando sem conhecer a língua local




Este relato deveria ir para a série "Herrar é umano"daqui do blog, mas como está ligada à viagem em andamento, preferi colocá-la neste contexto. O sentido é de desmistificar a barreira de comunicação para pessoas que têm potencial de sobreviver nesse tipo de viagem, mas por receio acabam desistindo. É arriscado, por isso não recomendo a ninguém fazer viagens assim.

Acredito que a necessidade acelera o aprendizado. Hoje fui ao supermercado aqui em Bratislava e fiz a silenciosa leitura do ambiente. Rapidinho você vai aprendendo, pelas coisas que estão escritas nos setores e nas prateleiras, como é padaria, cereais, carnes, etc. Depois vai para as prateleiras e vê os produtos similares e aprende como é café, cerveja, pão, manteiga, presunto, queijo, etc. Uma hora de supermercado é uma grande lição.

Nisso você vai se ambientando com os preços. Em Euro, uma conta de cabe

ça simplificada é dividir por 4, que é muito fácil, e multiplicando o resultado por 10. Por exemplo, algo que custe 2,4 euros custará, em reais, (2,4 /4) x 10 = 6 reais, aproximadamente. Se não for bom de tabuada para dividir por 4, divida por dois duas vezes e multiplique por 10.

Claro que haverá coisas que você não entenderá de jeito nenhum. Nesse caso, se puder, fotografe ou anote, e no hotel abra o Google Tradutor e bote lá para pegar a tradução, e anote numa caderneta que leve consigo para uso futuro. Nesse aplicativo, no canto inferior direito há um ícone de teclado. Depois que você seleciona as linguagens de entrada e saída, clique nesse ícone que transformará, enquanto estiver usando o programa, o seu teclado no apresentado na tela. Assim você poderá colocar símbolos como ľ,š,č,ť,ž,ý,ň, que estão na escrita do eslovaco, e outros que aparecerão em checo, polonês, etc. Sem eles nas palavras o tradutor não será tão eficiente.

Nos livros de conversação pegue o basicão : bom dia, boa noite, obrigado, por favor, desculpe, quanto custa, como vou para, números, dias da semana e o que puder para sobreviver. Se tiver mais tempo, vá acrescentando ao vocabulário o que vir nas placas, lojas, etc. Ontem numa loja de roupas vi sobre umas roupas uma placa onde estava escrito:

kožená bunda od 79,95

Olhe para a foto e tente entender. Tudo que entende é que são jaquetas, mas há duas palavras. No Google a gente aprende que "bunda"para os eslovados é jaqueta. kožená quer dizer couro. A mensagem é "jaqueta de couro a partir de 79,95 (no caso, euros, mas no supermercados há nas etiquetas o preço na moeda anterior como "slk". Deixo a critério dos leitores as especulações inevitáveis que resultarão desse aprendizado.

Como as mercadorias estão globalizadas e as propagandas idem, você não precisa nem ler para saber o que é uma caixa de sabão em pó ou uma margarina. Aqui e ali você vê uma fruta ou legume que não tem a menor idéia do que seja, mas são exceções. Até na nota de supermercado há o que aprender. Veja a foto. Se passasse um mês aqui aprenderia a ler. Falar e entender é outra coisa.

Ainda no mercado vi a outra situação: diversas placas, mesma mensagem, seta desviando alguma coisa. Do texto, a única palavra que dava sentido era "rekonštrukciou", ou seja, mudaram alguma coisa por causa de obra. Como o caminho para os caixas estava bloqueado, entendi. Esse foi um caso sem maiores riscos, mas vai que fosse um desvio numa estrada? Ou uma indicação tipo "caiu a ponte adiante" e você não dá bola? Veja a foto e a tradução:
Zona de dinheiro
Caros clientes
Pedimos desculpas para as condições de compra devido à dificuldade de reconstrução

Tudo ia bem no supermercado. Passei no caixa, embalei (aqui ainda tem sacolinha plástica, o que já é proibido em outros países ou pago (caro) à parte), paguei em dinheiro, peguei as compras e ouvi a caixa tentando desesperadamente me falar algo como"vráti". O cliente seguinte também. Olhei as sacolas, a carteira, e só entendi quando o cliente mostrou o troco em cima de uma plataforma. Na falta de saber como se agradece, mandei um "thank you" a todos e fui embora refletindo sobre o ocorrido.

Chegando ao hotel, peguei o livro de frases e vou devorá-lo até seguir daqui a pouco para a Bulgária, onde a situação será bem pior: lá tudo é escrito em alfabeto cirílico, e praticamente ninguém sabe inglês.

2 comentários:

  1. Muito bom! Muito bom! Tamo aqui na leitura. Você está colocando no Facebook também?

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  2. Obrigado, Lúcio. Não cultivo o Facebook, estou lá só para constar, deve estar crescendo mato no meu perfil.

    Sobre as análises que pediu, está difícil. Em ambos os lugares não deixaram, até onde andamos, nenhuma referência ao período socialista. Como a comunicação está sendo mais com jovens, de uma geração pós-guerra fria, que falam inglês, não temos bom retorno. Quando escrever o artigo sobre Sófia, cidade que ainda não tenho uma opinião mais consistente, apesar de estar achando ótima, vou colocar mais alguma informação sobre isso. Aqui ainda está menos globalizado, e aqui parece haver uma resistência cultural à invasão de valores estrangeiros. Parecem ter parado no caminho entre o fim do socialismo e a adaptação ao capitalismo.

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