Esse episódio da mídia desconhecer um livro de denúncias sobre a privatização e posteriormente o requerimento de uma CPI sobre o tema, mais o debate de ontem em São Paulo "Privataria Tucana e o Silêncio da Mídia" me reportaram a um período que não tenho nenhuma vontade de revisitar: os anos 70. Como naquele tempo, sinto-me oprimido diante da demonstração de poder ditatorial dos meios de comunicação e de instituições a eles associados que conseguem manipular a realidade, censurar até os fatos, e submeter todo mundo às suas pautas, inclusive governos. Uma violência institucional, anti-democrática, opressora ao cidadão e à nação. As máscaras deles agora caíram e , de repente, nos vemos diante dos fantasmas do passado.
Ali a gente aprendeu a ser paranóico. A não confiar em ninguém ao emitir opiniões. A ver a repressão em todo lugar. A conviver com o medo de desaparecer, ser torturado, morto. A fazer reuniões clandestinas para falar de assuntos que hoje tratamos em qualquer boteco. A ver agentes do DOPS e do SNI nas assembléias estudantis e sindicais, nas greves e quaisquer outras manifestações ou reuniões. A participar de coisas que não apareciam na mídia, porque era censurada. A ver as equipes da TV Globo chegar para filmar as caras das pessoas nos movimentos, sem sair absolutamente nada nos telejornais. E a expulsá-los também.
Aquelas 500 pessoas que estiveram ontem no Sindicato dos Bancários de São Paulo para o debate exalavam a excitação do proibido, do subversivo. O deputado Protógenes chegou a falar que o autor do livro, Amaury Ribeiro Jr, poderia aparecer "acidentado" ou ser "morto num assalto", porque no Brasil ainda se faz isso. As pessoas que ali estavam participam de redes sociais e blogs, fazendo o trabalho capilar, de formiguinha, minando a ditadura da verdade uníssona da mídia. A princípio achei ótimo ver gente diferente participando nisso, usando a criatividade e a tecnologia para combater a ditadura mídia/extrema direita/saqueadores. Depois veio o mal-estar, de voltar a um passado sombrio, cheio de incertezas e riscos.
A diferença é que naquela época o governo e a mídia eram aliados. Quem tinha o poder da repressão, da espionagem, era o estado, e a mídia apenas era uma importante auxiliar, dedurando gente, promovendo o regime. Hoje, em tese, temos um governo que a toda hora é golpeado por uma mídia que assumiu o papel de criadora de fatos, de articulação com partidos retrógrados, com organizações obscuras, com falsários, mercenários denuncistas, arapongas e gente que ficou devendo aos direitos humanos na ditadura. Como é que um punhado de gente consegue exercer um poder tão intenso, contra um governo democrático e quase 200 milhões de cidadãos?
Todo esse esquema é azeitado pelo saque ao estado em proporções gigantescas. Coisa de centenas de bilhões de reais, de privatizações, de dívida externa, de lavagens de dinheiro. Essa grande organização criminosa, uma verdadeira máfia, corrói o estado e as instituições, mas perdeu o acesso fácil à máquina do governo, daí o interesse, a todo momento, de derrubar o PT, Lula, Dilma e a esquerda em geral. Um estado paralelo, violento, manipulador. Em certa medida, pior que a ditadura militar mais recente. Ali a gente sabia quem era o inimigo e como ele agia. Hoje, nem sempre dá para prever o próximo passo da quadrilha.
Aí vem outra sensação desagradável: a de ter elegido um governo que, por erros de direção partidária e mesmo por correlação de forças desfavorável, não soube atender às expectativas que moveram milhões de militantes desde o início dos anos 80 para passar o rodo em todos os que colaboraram com o regime autoritário e nas quadrilhas que parasitam o povo brasileiro. Lula não fez ou não pôde fazer nada. Passou todo o tempo acuado, às vezes parecendo ingênuo perto da truculência da máfia que continuou influindo no seu governo. Essa gente age ora como traficante com domínio territorial, ora como milícia, submetendo pessoas e desafiando o estado.
Por que não fizemos a Comissão da Verdade em 2003, quando tínhamos militância disposta a bancar o enfrentamento? Por que não apuramos os escândalos da privatização, da lavagem de dinheiro pelo Banestado e outros onde governos tucanos e mídia estiveram mancomunados no saque ao estado? O resto da América Latina já apurou as verdades e botou na cadeia torturadores, assassinos, colaboradores da ditadura, mudou a legislação para acabar com a ditadura da mídia e botou na cadeia as quadrilhas que privatizaram as riquezas dos países. Por que não nós? Somos um bando de covardes, incapazes de forçar o governo a tomar atitudes coerentes com as suas expectativas?
O pior é o que vem por aí. Há disposição entre as pessoas para atacar de vez essa máfia, mas falta empenho no PT para jogar luz em tudo isso e definitivamente fazer justiça, punindo exemplarmente os responsáveis pela privatização do estado, combatendo a corrupção de cima a baixo. O poder dessa gente é forte, e somente a ação articulada de governo e povo pode fazer frente a eles, seja na CPI, na Comissão da Verdade, ou na regulamentação dos meios de comunicação, acabando com os cartéis e permitindo o livre acesso aos meios de comunicação. O ano de 2012 pode ser o primeiro de um novo Brasil, se rompermos de vez com o poder que parasita tudo desde 1500. Ou ser mais um ano de oportunidades perdidas, se houve acovardamento diante do poder paralelo.
Ali a gente aprendeu a ser paranóico. A não confiar em ninguém ao emitir opiniões. A ver a repressão em todo lugar. A conviver com o medo de desaparecer, ser torturado, morto. A fazer reuniões clandestinas para falar de assuntos que hoje tratamos em qualquer boteco. A ver agentes do DOPS e do SNI nas assembléias estudantis e sindicais, nas greves e quaisquer outras manifestações ou reuniões. A participar de coisas que não apareciam na mídia, porque era censurada. A ver as equipes da TV Globo chegar para filmar as caras das pessoas nos movimentos, sem sair absolutamente nada nos telejornais. E a expulsá-los também.
Aquelas 500 pessoas que estiveram ontem no Sindicato dos Bancários de São Paulo para o debate exalavam a excitação do proibido, do subversivo. O deputado Protógenes chegou a falar que o autor do livro, Amaury Ribeiro Jr, poderia aparecer "acidentado" ou ser "morto num assalto", porque no Brasil ainda se faz isso. As pessoas que ali estavam participam de redes sociais e blogs, fazendo o trabalho capilar, de formiguinha, minando a ditadura da verdade uníssona da mídia. A princípio achei ótimo ver gente diferente participando nisso, usando a criatividade e a tecnologia para combater a ditadura mídia/extrema direita/saqueadores. Depois veio o mal-estar, de voltar a um passado sombrio, cheio de incertezas e riscos.
A diferença é que naquela época o governo e a mídia eram aliados. Quem tinha o poder da repressão, da espionagem, era o estado, e a mídia apenas era uma importante auxiliar, dedurando gente, promovendo o regime. Hoje, em tese, temos um governo que a toda hora é golpeado por uma mídia que assumiu o papel de criadora de fatos, de articulação com partidos retrógrados, com organizações obscuras, com falsários, mercenários denuncistas, arapongas e gente que ficou devendo aos direitos humanos na ditadura. Como é que um punhado de gente consegue exercer um poder tão intenso, contra um governo democrático e quase 200 milhões de cidadãos?
Todo esse esquema é azeitado pelo saque ao estado em proporções gigantescas. Coisa de centenas de bilhões de reais, de privatizações, de dívida externa, de lavagens de dinheiro. Essa grande organização criminosa, uma verdadeira máfia, corrói o estado e as instituições, mas perdeu o acesso fácil à máquina do governo, daí o interesse, a todo momento, de derrubar o PT, Lula, Dilma e a esquerda em geral. Um estado paralelo, violento, manipulador. Em certa medida, pior que a ditadura militar mais recente. Ali a gente sabia quem era o inimigo e como ele agia. Hoje, nem sempre dá para prever o próximo passo da quadrilha.
Aí vem outra sensação desagradável: a de ter elegido um governo que, por erros de direção partidária e mesmo por correlação de forças desfavorável, não soube atender às expectativas que moveram milhões de militantes desde o início dos anos 80 para passar o rodo em todos os que colaboraram com o regime autoritário e nas quadrilhas que parasitam o povo brasileiro. Lula não fez ou não pôde fazer nada. Passou todo o tempo acuado, às vezes parecendo ingênuo perto da truculência da máfia que continuou influindo no seu governo. Essa gente age ora como traficante com domínio territorial, ora como milícia, submetendo pessoas e desafiando o estado.
Por que não fizemos a Comissão da Verdade em 2003, quando tínhamos militância disposta a bancar o enfrentamento? Por que não apuramos os escândalos da privatização, da lavagem de dinheiro pelo Banestado e outros onde governos tucanos e mídia estiveram mancomunados no saque ao estado? O resto da América Latina já apurou as verdades e botou na cadeia torturadores, assassinos, colaboradores da ditadura, mudou a legislação para acabar com a ditadura da mídia e botou na cadeia as quadrilhas que privatizaram as riquezas dos países. Por que não nós? Somos um bando de covardes, incapazes de forçar o governo a tomar atitudes coerentes com as suas expectativas?
O pior é o que vem por aí. Há disposição entre as pessoas para atacar de vez essa máfia, mas falta empenho no PT para jogar luz em tudo isso e definitivamente fazer justiça, punindo exemplarmente os responsáveis pela privatização do estado, combatendo a corrupção de cima a baixo. O poder dessa gente é forte, e somente a ação articulada de governo e povo pode fazer frente a eles, seja na CPI, na Comissão da Verdade, ou na regulamentação dos meios de comunicação, acabando com os cartéis e permitindo o livre acesso aos meios de comunicação. O ano de 2012 pode ser o primeiro de um novo Brasil, se rompermos de vez com o poder que parasita tudo desde 1500. Ou ser mais um ano de oportunidades perdidas, se houve acovardamento diante do poder paralelo.
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