A Caderneta de Poupança é a opção preferencial do pequeno poupador. Apesar da remuneração pouco atrativa, as pessoas conseguem abri-la sem pagar tarifas bancárias, os juros são de TR (taxa referencial de juros - variável) mais 0,5% ao mês, e até R$ 50 mil não tem impostos. Hoje rende algo na faixa de 7,4% ao ano. Tem a garantia do Tesouro Nacional, ou seja, se o banco falir, o poupador não perde nada.
Em 1990 houve um imenso trauma quando o governo Collor fez o confisco temporário das poupanças, ou seja, congelou os saques por 18 meses, numa dessas pajelanças econômicas chamada Plano Collor. A idéia era deixar todo mundo sem acesso a dinheiro para reduzir o consumo e daí os preços pararem de subir, acabando com a inflação. Collor dizia que só tinha uma bala para atirar no tigre da inflação, fez toda a maldade de uma vez.
Collor errou o tiro, feriu o tigre e a inflação veio depois galopando. E o povo não se esqueceu da maldade com as poupanças, o que contaminará a discussão que agora vai se abrir sobre a mudança na remuneração. Falar sobre isso é muito complicado, até porque o assunto vai ser explorado politicamente. Coisas como "Dilma quer roubar a poupança" logo sairão das bocas oposicionistas, apesar de tanto o PSDB como o DEM, por princípio, deverem defender o que se propõe.
Por que mudar? Para baixar de vez a taxa de juros, e romper com os níveis de taxas de juros que extorquem o povo e o governo. Há espaço para mais redução na SELIC, mas a poupança, indiretamente, não permite que a taxa caia abaixo de 8,5%, nível atingido no governo Lula.
A SELIC é a taxa básica de juros para os títulos que o governo lança no mercado para rolar suas dívidas, já que gasta mais que arrecada, quando os juros são computados como despesa. Na realidade, se o Brasil não pagasse juros, seria superávitário num volume de recursos, no mínimo, igual ao que se chama de "superávit primário", que receita menos despesa, desconsiderado o valor dos juros.
Com a SELIC no atual nível de 9,75%, e a inflação em 5,8%, os juros reais, que são a SELIC menos a inflação, está na faixa de 4%. Os países emergentes em mesma situação de risco que o Brasil pagam de juros reais na faixa de 2%, e é essa a meta que Dilma persegue no momento. Algo em torno de 7,8%. Se a SELIC descer a este patamar, haverá uma enorme fuga de capitais dos títulos públicos para a poupança, que não pode ser usada como fonte para financiamento do governo, mas apenas para o crédito imobiliário, e o governo teria um desequilíbrio orçamentário.
Nesse patamar de 7,8%, a poupança ainda sobrevive, mas esse indice bruto aplicados em qualquer outra opção do mercado de títulos, pagando imposto de renda, IOF e taxas de administração, renderão abaixo de 7%. Quem aplica em títulos públicos normalmente tem aversão a risco, e não procurará as bolsas de valores como primeira opção. Correrá para a poupança, que se não mudar a regra se tornará o melhor investimento para o grande capital.
O rendimento da poupança vai cair? Sim, vai. A proposta especulada até aqui é acabar com a parte fixa da remuneração, os 0,5% ao mês. Deve-se usar um indicador baseado na SELIC para completar a remuneração, permitindo que os rendimentos variem abaixo desse valor fixo.
O que o poupador vai ganhar com isso? A aposta do governo é na redução global dos juros. Hoje quem tem perfil de pequeno poupador, se botar R$ 1.000 na poupança e comprar um bem no mesmo valor financiado em 12 meses, receberá da poupança R$ 74 em um ano, e pagará de juros R$ 400 na compra da geladeira. Se a poupança render 5%, e as taxas de juros caírem para um patamar ainda absurdo de 30%, a conta anterior ficaria em renda de R$ 50 e juros da geladeira de R$ 300, ou seja, no frigir dos ovos a diferença compensaria.
Isso mexe com o FGTS ? Ninguém falou nada sobre isso?
E o crédito imobiliário, muda? Idem.
E para o país? Se as premissas se concretizarem, os juros pagos pelo governo tenderão a cair, aumentando o superávit orçamentário, que pode chegar ao superávit nominal, ou seja, pagando tudo, até os juros, o país tem dinheiro sobrando para investir. Se chegar a esse nível, não necessitará de novos empréstimos, reduzindo a necessidade de emitir novos títulos e naturalmente tirando a pressão sobre a SELIC.
Com as contas equilibradas, pode-se baixar impostos seletivamente, reduzindo custos de cadeias produtivas que impactam a inflação. Com a queda da inflação, a renda das famílias melhora, estimulando o consumo, aquecendo a economia. Isso pode dar num ciclo virtuoso de queda tanto de juros como de inflação, rompendo a cultura inflacionária de muitas décadas e fazendo o Brasil ter uma economia capitalista com indicadores de país avançado (de antes da crise).
A poupança, nesse cenário, teria os rendimentos cada vez menores, mas pelo menos repondo a inflação, preservando o valor do dinheiro, que é a prioridade um de quem não tem dinheiro para ser investidor.
E os bancos? Com a queda do volume de dinheiro fácil, obtido com a mamata dos títulos públicos de alta remuneração, terão que pensar em ser bancos de verdade, ou seja, emprestar dinheiro. Com todos os bancos procurando clientes ao mesmo tempo, os juros ao consumidor, esses que estão em patamares mínimos de 40%, podendo chegar no cartão a 300%, não vão se sustentar.
Os bancos vão ter que ser competitivos, mais eficientes. Eles vão trabalhar para que a mudança na poupança não aconteça, e se for inevitável, que sejam preservados seus privilégios. Até aqui não vi a mídia contra a mudança, mas isso vai mudar à medida que interesses do grande capital forem contrariados no aclaramento da proposta do governo.
Em 1990 houve um imenso trauma quando o governo Collor fez o confisco temporário das poupanças, ou seja, congelou os saques por 18 meses, numa dessas pajelanças econômicas chamada Plano Collor. A idéia era deixar todo mundo sem acesso a dinheiro para reduzir o consumo e daí os preços pararem de subir, acabando com a inflação. Collor dizia que só tinha uma bala para atirar no tigre da inflação, fez toda a maldade de uma vez.
Collor errou o tiro, feriu o tigre e a inflação veio depois galopando. E o povo não se esqueceu da maldade com as poupanças, o que contaminará a discussão que agora vai se abrir sobre a mudança na remuneração. Falar sobre isso é muito complicado, até porque o assunto vai ser explorado politicamente. Coisas como "Dilma quer roubar a poupança" logo sairão das bocas oposicionistas, apesar de tanto o PSDB como o DEM, por princípio, deverem defender o que se propõe.
Por que mudar? Para baixar de vez a taxa de juros, e romper com os níveis de taxas de juros que extorquem o povo e o governo. Há espaço para mais redução na SELIC, mas a poupança, indiretamente, não permite que a taxa caia abaixo de 8,5%, nível atingido no governo Lula.
A SELIC é a taxa básica de juros para os títulos que o governo lança no mercado para rolar suas dívidas, já que gasta mais que arrecada, quando os juros são computados como despesa. Na realidade, se o Brasil não pagasse juros, seria superávitário num volume de recursos, no mínimo, igual ao que se chama de "superávit primário", que receita menos despesa, desconsiderado o valor dos juros.
Com a SELIC no atual nível de 9,75%, e a inflação em 5,8%, os juros reais, que são a SELIC menos a inflação, está na faixa de 4%. Os países emergentes em mesma situação de risco que o Brasil pagam de juros reais na faixa de 2%, e é essa a meta que Dilma persegue no momento. Algo em torno de 7,8%. Se a SELIC descer a este patamar, haverá uma enorme fuga de capitais dos títulos públicos para a poupança, que não pode ser usada como fonte para financiamento do governo, mas apenas para o crédito imobiliário, e o governo teria um desequilíbrio orçamentário.
Nesse patamar de 7,8%, a poupança ainda sobrevive, mas esse indice bruto aplicados em qualquer outra opção do mercado de títulos, pagando imposto de renda, IOF e taxas de administração, renderão abaixo de 7%. Quem aplica em títulos públicos normalmente tem aversão a risco, e não procurará as bolsas de valores como primeira opção. Correrá para a poupança, que se não mudar a regra se tornará o melhor investimento para o grande capital.
O rendimento da poupança vai cair? Sim, vai. A proposta especulada até aqui é acabar com a parte fixa da remuneração, os 0,5% ao mês. Deve-se usar um indicador baseado na SELIC para completar a remuneração, permitindo que os rendimentos variem abaixo desse valor fixo.
O que o poupador vai ganhar com isso? A aposta do governo é na redução global dos juros. Hoje quem tem perfil de pequeno poupador, se botar R$ 1.000 na poupança e comprar um bem no mesmo valor financiado em 12 meses, receberá da poupança R$ 74 em um ano, e pagará de juros R$ 400 na compra da geladeira. Se a poupança render 5%, e as taxas de juros caírem para um patamar ainda absurdo de 30%, a conta anterior ficaria em renda de R$ 50 e juros da geladeira de R$ 300, ou seja, no frigir dos ovos a diferença compensaria.
Isso mexe com o FGTS ? Ninguém falou nada sobre isso?
E o crédito imobiliário, muda? Idem.
E para o país? Se as premissas se concretizarem, os juros pagos pelo governo tenderão a cair, aumentando o superávit orçamentário, que pode chegar ao superávit nominal, ou seja, pagando tudo, até os juros, o país tem dinheiro sobrando para investir. Se chegar a esse nível, não necessitará de novos empréstimos, reduzindo a necessidade de emitir novos títulos e naturalmente tirando a pressão sobre a SELIC.
Com as contas equilibradas, pode-se baixar impostos seletivamente, reduzindo custos de cadeias produtivas que impactam a inflação. Com a queda da inflação, a renda das famílias melhora, estimulando o consumo, aquecendo a economia. Isso pode dar num ciclo virtuoso de queda tanto de juros como de inflação, rompendo a cultura inflacionária de muitas décadas e fazendo o Brasil ter uma economia capitalista com indicadores de país avançado (de antes da crise).
A poupança, nesse cenário, teria os rendimentos cada vez menores, mas pelo menos repondo a inflação, preservando o valor do dinheiro, que é a prioridade um de quem não tem dinheiro para ser investidor.
E os bancos? Com a queda do volume de dinheiro fácil, obtido com a mamata dos títulos públicos de alta remuneração, terão que pensar em ser bancos de verdade, ou seja, emprestar dinheiro. Com todos os bancos procurando clientes ao mesmo tempo, os juros ao consumidor, esses que estão em patamares mínimos de 40%, podendo chegar no cartão a 300%, não vão se sustentar.
Os bancos vão ter que ser competitivos, mais eficientes. Eles vão trabalhar para que a mudança na poupança não aconteça, e se for inevitável, que sejam preservados seus privilégios. Até aqui não vi a mídia contra a mudança, mas isso vai mudar à medida que interesses do grande capital forem contrariados no aclaramento da proposta do governo.
Excelente! Gostei muito da explicação! Faz todo o sentido!
ResponderExcluirDesculpe-me branquinho. Essa asertiva é a assertivo da mercado financeiro. Países em desenvolvimento com inflação próxima da nossa cobram juros inferiores ã inflação do próprio país. O Nível de endividamento do Brasil não é sequer preocupante se considerarmos que grande potências econômicas devem um PIB ou mais e praticam juros civilizados na faixa de 2% aa.
ResponderExcluirO que ocorre no Brasil é a velha prática de espoliar o espoliado para garantir os tubarões. A poupança por décadas foi o pior investimento do mercado. O governo, FHC, Lula e agora Dilma, nunca se lembrou de aumentar o rendimento para favorecer o pequeno. Essa balela de que se a poupança não tiver reduzidos seus "rendimentos" a inflação não pode cair não resiste a nenhuma análise econômica séria. De fato, o que está acontecendo é q Dilma, como fez Lula e FHC, continua a privilegiar a banca e, em sendo assim, precisa compensá-los por qualquer queda nos lucros. Se Dilma quisesse poderia alterar a legislação e permitir que a poupança fosse aplicada em outros investimentos, além do financiamento da área imobiliária. Até pq, nenhum banco nunca cumnpriu a legislação de aplicar esses recursos no financiamento de moradias e nunca foram punidos por isso.
Além disso, a tal auditoria da dívida, bandeira trombeteada pelo pt em suas crises foi esquecida pelos cumpanheiros. Paíse que auditaram suas dívidas tiveram reduções absurdas e os bancos ednvolvidos entubaram tão bem que nem O Globo e a Folha divulgaram. O resto, é uma questão de opção e hoje sabemos o que o PT queria e o viés econômico que adotou. A tucanada agrdece!
Jusemar
Não esquecendo que a poupança só é isenta de IR até 50.000,00, o lucro dos grandes investidores seria taxado como nos outros investimentos, o que diminuiria a atração.
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