quarta-feira, 28 de março de 2012

Rio : Ponte Rio-Niterói ainda tem lixo da ditadura

O brasileiro parece não ligar muito para a personalização das coisas públicas. Quando não são os Sarneys que botam seus nomes em ruas, praças, prédios, postes, etc, sejam parentes vivos ou mortos, contrariando o princípio constitucional da impessoalidade, são os restos de períodos obscuros da história. Diariamente estão lá, referências geográficas, como que absolvendo as pessoas e fatos que nominam as coisas, igualando-as a grandes vultos e episódios da história.

Florianópolis é um desses casos. Era Nossa Senhora do Desterro o nome da cidade, até que o presidente Marechal Floriano mandou tropas para sufocar uma rebelião para exigir eleições que não realizou, ao arrepio da Constituição, prendeu os revoltosos e os fuzilou, deixando no poder apenas os seus simpatizantes, que mudaram o nome da cidade para Florianópolis. Até hoje ostenta o nome do algoz de alguns dos seus melhores cidadãos.

Em Fortaleza há um resto ditatorial chamado Praça 31 de Março. Muitas tentativas foram feitas para mudar o nome que lembra a "redentora", na boca da direita, mas parece que agora que o logradouro passou por reforma a Câmara Municipal deverá debater se altera para Praça do Futuro, nome proposto pela prefeita Luizianne Lins, ou Praça Dom Helder Câmara, como proposto pelo vereador João Alfredo, do PSOL.

Uma recente pesquisa mostrou que a cidade de São Paulo não tem rua ou avenida com o nome do ex-ditador Getúlio Vargas. A princípio se poderia pensar que não aceitaram batizar nada com o nome do ditador, mas a razão é outra: em 1932, num movimento que alguns consideram separatista, a elite paulista declarou guerra a Getúlio, a pretexto de fazê-lo seguir a Constituição. Recrutaram jovens e se envolveram numa guerra civil, sendo derrotados por Getúlio. Diferentemente de Florianópolis, ninguém propôs dar a algum logradouro o nome do algoz.

No Rio de Janeiro a Ponte Rio-Niterói carrega o nome do ditador Costa e Silva. Coisa da época da ditadura, que a construiu, e resolveu homenageá-lo, na ditadura Médici. Era o início do processo de fusão da Guanabara com o antigo Estado do Rio, que culminou com a imposição de um governador biônico goela abaixo do Rio oposicionista. Estava lá, quietinha, até porque ninguém lembra disso (todos só falam na Ponte Rio-Niterói), quando o deputado federal Chico Alencar (PSOL) resolveu propor a mudança do nome para Ponte Herbert de Souza, o Betinho, cujo trabalho social ficou como exemplo para a história. Já tem militar direitista de pijama chiando, falando em revanchismo, etc, porque algumas pessoas no Brasil não aceitam manter o lixo da história debaixo do tapete.


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