sábado, 18 de maio de 2013

Revolução capitalista de Dilma provoca golpismo de direita


Nos últimos dias vemos um surto de apologia à violência e intolerância nas redes sociais. Há fartura de materiais pregando golpe militar, assassinatos de pessoas "do mal", ódio religioso, homofobia e principalmente difamação contra Lula, Dilma e o PT. Tem gente surtando a ponto de dizer que Dilma dará um golpe comunista em 2014. O que vemos é justamente o contrário: Dilma poderá se aliar ao capital industrial para golpear o capital financeiro.

A nuvem de fumaça sobre a realidade nos desvia para achar que isso vem da indefinição do julgamento do Mensalão, da ascensão do pastor Feliciano à Comissão de Direitos Humanos, da legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, de crimes bárbaros cometidos por menores ou mesmo do pouco trabalho produzido até aqui pela Comissão da Verdade, que assusta os covardes impunes que sabem muito bem que fizeram coisas hediondas.

Golpes de estado historicamente se associam a interesses econômicos. No Brasil a Independência, a proclamação da república e os golpes de 1930 e 1964 tiveram clara relação com interesses econômicos de elites que se tornaram vitoriosos, nunca por motivos sociais, que aqui e ali serviram apenas de cortina de fumaça para uma transição. Nenhum desses movimentos modernizou de fato a estrutura econômica, e até hoje o Estado sustenta parasitas que, por corrupção ou privilégios, apropriam-de se grande parte da riqueza.

Por que então o golpismo contra Dilma? Tem na sua base de apoio setores identificados com oligarquias que surrupiam o país há 500 anos. Também tem banqueiros que jogam dinheiro nas campanhas da sua base. E industriais que habitualmente patrocinaram golpes e sustentam grande parte da bandidagem política. Aparentemente todos estão ganhando dinheiro nos 10 anos de Lula/Dilma como não ganharam nos períodos anteriores, em ambiente de relativa pacificação social. O Brasil navega numa marolinha enquanto o mundo se acaba. Por que algum deles bateria nos portões dos quartéis para chamar os militares para um golpe?

A resposta está no esboço de revolução capitalista que vem acontecendo no último ano. Revolução porque está mexendo nas bases econômicas, buscando privilegiar o setor produtivo em detrimento de banqueiros e especuladores. Mas não é tudo capitalismo? Sim, é, mas os capitalistas têm interesses diferenciados, e o que se busca agora é romper as amarras do feudalismo econômico que vem das capitanias hereditárias. Lula e Dilma tentaram esse rompimento, que é muito dificultado por um governo de coalizão.

E o que os trabalhadores e o povo em geral ganharia com esse "upgrade" capitalista, que reúne intervencionismo estatal com controle social e aliança com o capital produtivo? Há correntes de esquerda que defendem a chegada ao socialismo por etapas, e uma delas é superar o modo de produção feudal, fazer o capital se desenvolver e com isso acirrar as contradições de classe. Ao tirar os ganhos abusivos do parasitismo econômico, sobra mais para os restantes.

Em um ano Dilma fez uma clara opção pelo capitalismo industrial, executando uma pauta há muito reivindicada pelo setor:
- baixou os juros em mais de 5%, reduzindo a sangria de dinheiro público destinado aos rentistas;
- elevou o patamar cambial em mais de 30%, protegendo a indústria nacional contra importações;
- reduziu tarifas de energia em mais de 20% para a indústria;
- desonerou encargos sociais de alguns setores-chave da produção;
- usou bancos federais para forçar a baixa dos juros em meio ao cartel financeiro;
- mantém a política de ganhos salariais reais, aumentando o poder aquisitivo da população;
- reduziu impostos sobre combustíveis, cesta básica, linha branca, automóveis, móveis, etc.
- investiu em infra-estrutura de transportes através de concessões de aeroportos e portos;
- ampliou a visibilidade externa do Brasil com a eleição de um brasileiro na OMC.

Como esse movimento foi muito rápido, ainda não produziu todos os efeitos previsíveis. Um deles será a mudança da cultura empresarial, acostumada a juros altos e grandes taxas de retornos. Outra será a fuga de capitais da ciranda financeira para financiamento de empresas via bolsas de valores, fundos imobiliários e em investimentos de maior prazo. E uma redução brutal do ganho fácil sem trabalhar, e é aí que mora o perigo.

O setor financeiro controla a mídia. Tem recursos imensos para comprar decisões do executivo, legislativo e judiciário. Não poupará esforços para manter tudo como está, nem que para isso tenham que recorrer ao golpe de estado, amparado em algum argumento ético-moral-ideológico que sua mídia poderá fabricar. E isso que estamos vendo agora em termo de intolerância pode ser a parte visível do que pretendem.

Forçam a barra para aumentar os juros, nem que elejam o tomate como vilão para "provar" que a inflação está descontrolada, que toda a economia deverá se indexar, enfim, que Dilma está acabando com o Plano Real e voltaremos à hiperinflação. O remédio: juros e mais juros, que não têm nenhuma eficácia anti-inflacionária na atual situação. Nem há escalada inflacionária, pois os indicadores já mostram arrefecimento.

Na última reunião do COPOM travou-se o que poderia ter sido a mãe de todas as batalhas dos especuladores contra a queda dos juros. Artilharia pesada em todos os meios de comunicação para vender a idéia pela qual dar dinheiro ao enriquecimento fácil (essa sim é a bolsa-parasita, que não é Louis Vuiton) ajuda a baixar o preço do tomate.

A decisão do COPOM apenas retardou a decisão para o próximo round, ao aumentar em 0,25% a SELIC e não apontar viés de alta. O desespero dos financistas é que as medidas tomadas por Dilma surtam efeito, a inflação recue com mais crescimento e os juros reais se estabilizem em menos de 2%. Eles correm contra o tempo, e a caixa de truques sujos mais pesados já pode estar sendo aberta. Desta vez a "reserva moral" para "consertar o Brasil" deles pode não usar mais farda. Talvez a toga.

Enquanto isso a sociedade assiste inerte ao massacre que a direita vem fazendo nas redes sociais e na mídia. Na busca de espaço ao sol ou por deficiência política muita gente deixa o governo sozinho, joga mais pedras e faz coro com esses perigosos interesses de desestabilização da democracia para manter a hegemonia do financismo vampiresco.

Se houver o golpe todas as conquistas serão retiradas e o liberalismo imporá medidas como as que estão levando ao desespero os povos dos países capitalistas avançados. O mais importante neste momento crucial é apoiar o governo para derrotar de vez o setor financeiro, que suga todo o dinheiro que falta à educação, saúde e à melhoria das condições de vida do povo.

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11 comentários:

  1. Excelente texto. Vou postar em meu blog, com todos os devidos créditos, ok? Saudações.

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    1. Gostei de ler esse artigo...(conseguiu traduzir o que eu estava sentindo!) a medo da inflação, o eminente descontrole da nossa economia, sem entender, se Dilma está fazendo um bom trabalho. Esse texto elucidaste à mim. Ainda bem, que hoje, através do facebook (porque não tenho paciência para ele rs) quebrei a dieta da informação via mídia dominante. (não que eu não saiba que é preciso ler outras coisas, mas as vezes, deixamos de lado, ficamos distraídos com entretimentos que eles fazem tão bem confesso!

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  2. Não conhecia o seu blog até há pouco. Um amigo do Face linkou este seu texto, li, e já em seguida comentei o seguinte, um tanto alongadamente...

    "Puro bom senso, o deste Branquinho que eu ainda não conhecia. Identificação dos dados da realidade pela observação no próprio momento, no lugar de tentar reaplicar modelos de outros momentos. Só posso dar os parabéns.

    Claro que tem outras dimensões que ele não chega a abordar, mas que se fosse desenvolver junto dava um livro. Eu mesmo pretendo há tempos escrever sobre isso, mas cadê tempo? Só menciono os 2 pontos principais:

    (1) A revolução de que Marx fala tem que ser geral, global - ou não será a de que Marx fala (como nenhuma foi até agora). É impossível o convívio, neste planeta tão pequeno, de um campo já revolucionado e outro não. O que fazer até que as condições estejam relativamente homogêneas para isso, na escala mundial?

    (2) Tem marxista que parece pensar que as lideranças burguesas são surdas e cegas e não acompanham com atenção todos os planos que a esquerda proclama abertamente, nem se previnem. Deliram como se as nossas chances num enfrentamento fossem parecidas com as do séc.XIX, ou as 1917, ou mesmo as de 1968. Nos bete-papos de esquerda nunca vejo se levar em consideração a tremenda máquina tecnológica de dominação e destruição que vem sendo construída pelos EUA e seus altos aliados internacionais. Imaginam que "direita" signifique alguma coisa que se esgota ali pelo nível de Aécio Neves, FHC, José Serra. Não avaliam as consequências do quadro global, cor de chumbo, para qualquer meta de transformação que tenhamos.

    LULA enxerga isso. Não sai dizendo porque não é burro. Mas todas as suas ações são pensadas primeiramente dentro da dimensão global, sendo depois elaboradas as consequências para o nível nacional.

    Os dois pontos acima convergem entre si e com o do Branquinho. O que está sendo construído pelo governo petista atual NÃO é o nosso sonho - mas é provavelmente o mais ousado que se pode realizar no momento atual, sem por todo o futuro a perder. E uma esquerda que repete chavões de décadas atrás, incapaz de identificar as peças em jogo neste momento único, que nunca aconteceu antes, é bem capaz de atrapalhar a conquista deste "menos mal possível" - que se sustenta nas alianças "Sul-Sul" - e nos deixar cair de vez no caldeirão de bruxa do capitalismo totalmente selvagem que hoje cozinha o antigo primeiro mundo, e não desgruda o olho do resto."

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  3. perfeito! uma análise conjuntural dos tempos atuais. Dilma enfrenta com coragem e determinação os "donos do poder" e, desta luta ganham os brasileiros: os excluídos, os incluídos, os burgueses, os trabalhadores, e até mesmo os ricos.
    apoiar o Governo Dilma é ter um projeto para este pais: um Brasil de todos!

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  4. ABSURDOS GOLPISTAS CONTINUAM MAS LA NAVE VA ESSE TAL "GOLPE COMUNISTA" E COISA DE ALGUM GENERAL DE PIJAMA EM DELIRIO ISSO SO FAZ PENSAR QUE VAMOS GANHAR EM 2014 E VAMOS GARANTIR DENTRO DA LEGALIDADE O PROCESSO NÃO TEM NENHUM CANDIDATO A ALTURA DA PRESIDENTA

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  5. Disse tudo. E tem muita gente da esquerdona atacando a Dilma.Uns equivocados.

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    1. Brilhantes, artigo e comentários, dosados e inteligentes. Ainda bem que há pessoas antenadas, repercutindo as coisas que dão a dimensão exata, no mínimo aproximada, de que existem sim, movimentações da direita ou de parte dela, do que o ex-Ministro Delfim Neto chamou de "direita troglodita", tramando, ensaiando para a efetivação de um golpe. Golpe que hoje prescinde da participação ostensiva dos militares, vide o golpe que retirou o Lugo da Presidência do Paraguai e outros casos que vêm acontecendo na Ásia e na África. O novo golpe agora é dado via Congresso e Judiciário.

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    2. A direita é tosca mas já aprendeu que pode controlar um país com menos gente. Bastam 6 votos no STF que você domina um governo. Não precisa contar com a força bruta militar. A farda dá lugar à toga. Em 64, logo após o golpe, a posse foi dada ao vice-presidente, mas em seguida Castelo Branco foi "eleito" pelos militares, que também melaram a eleição de 65 e deixaram os políticos de direita chupando dedo. Os laboratórios golpistas da Guatemala e Paraguai não precisaram de tanto estrago. A questão é que eles acham que o Brasil é uma republiqueta, e um golpe aqui teria repercussões muito maiores.

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  6. Falta nosso povo compreender que a política é o braço forte (e na maioria das vezes sujo) da economia. Os 500 anos do Brasil serviram a pequenos grupos, que enriqueceram violentamente, dentro e fora do nosso país. Naturalmente pretendem retomar o poder, e usarão todo tipo de artifício para obtê-lo. As eleições de 2014 serão violentas, e é bom que a Dilma não durma de toca. Eles não têm um bom candidato, é até lamentável que o único nome de peso seja o pobre desarticulado Aécio. Será um debate cáustico, pautado na ofensa, como já se vê nos ensaios até o momento. E toda essa soldadesca irada — que tem faturado horrores com o Brasil "pós-500 anos" — vai convocar todo tipo de diabo para desbancar a petista. Dilma necessita, neste momento, de uma atitude ousada, criativa, primorosa, caso queira desarmar a gigantesca catapulta de lixo e insultos que vem por aí.

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  7. Acredito que há um sentimento quase que unânime de que o governo Dilma dê certo. O meu é assim, porém, é uma vergonha que o nosso país ainda tenha um Renan, um Sarney, um mensalão feito pizza, um cachoeira de pizza e uma classe política que não anda consoante aos anseios do povo que pede: melhores transportes públicos, melhores vias, melhor saúde, melhores escolas (educação) e oportunidades de empregos com salários que correspondam e que os homens públicos usem os serviços públicos obrigatoriamente (pelo menos hospitais e educação) E que o aumento de salário das pessoas públicas seja determinado pelo aumento do PIB do Brasil. Aumentou? Tenham o direito de ter aumento. Para que haja mais presteza empenho. Não dá pra ter uma classe posando de patrão quando são os funcionários e muito bem pago para fazerem o melhor (o que não fazem)

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