domingo, 8 de dezembro de 2013

UPPs 5 anos: A polêmica eficiência contra o crime

Completando 5 anos desde a implantação da primeira Unidade de Polícia Pacificadora do Rio, no morro Santa Marta, há resultados expressivos justificando para os moradores das áreas ocupadas pela polícia e no entorno delas sua existência. Sumiram as armas acintosamente expostas, os "bondes", as gangues, os homicídios diminuíram, enfim, houve clara relação entre UPP e melhoria da segurança em algumas áreas da cidade. No próprio Santa Marta não houve mais assassinatos.

A ocupação militar das comunidades criminaliza seus habitantes como um todo. É cena comum a polícia entrar em uma favela com o blidado Caveirão atirando em tudo o que se move. E todos os que caem são rotulados de "bandidos", mesmo que sejam crianças. Preto, pobre e favelado continuam sendo tratados como seres humanos de segunda categoria. O desrespeito aos direitos humanos está presente nas torturas policiais e nos desaparecimentos de pessoas, como o caso Amarildo, cujo corpo até hoje não foi encontrado. A polícia dita uma lei mais dura nas comunidades que a vigente nas áreas mais ricas da cidade. Até fazer festas depende da autorização da PM.

Uma crítica importante é a do "deslocamento da letalidade", ou seja, quando uma área é pacificada os armamentos e soldados do tráfico vão para outras comunidades onde fazem o terror e a violência. Nessas a criminalidade cresce.

O tráfico ao longo do tempo ganhou peso político. Traficantes são cabos eleitorais e vereadores, deputados e outros dependem da sua força como liderança para ter votos. Não é qualquer um que pode subir o morro em áreas não pacificadas. Os altos valores envolvidos também permitem corromper funcionários públicos de todos os escalões, inclusive juízes. E fazer lobbies com entidades civis, como ONGs, para detonar a imagem das UPPs, disputando politicamente os territórios.

Outro fato que incomoda é a "remoção branca" dos moradores das comunidades com a legalização dos terrenos, imposição de impostos, cobrança de água e luz que eram fornecidos pela rede criminosa de traficantes ou milícias, e com isso os custos de moradia se elevam, ficando impeditivos para muita gente que vende seu espaço e migra para ocupações em áreas de menor custo. No Morro do Vidigal, no Chapéu Mangueira e outros com vista privilegiada estão se instalando pousadas, restaurantes e pessoas que compram imóveis baratos em relação a outros pontos da cidade.

A distribuição espacial das UPPs parece seguir as estratégias de grandes eventos da cidade, como a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. Toda a região mais rica da cidade (exceto Barra da Tijuca) já tem as UPPs, que avançam em direção a corredores de tráfego vitais, como a Linha Amarela, a Linha Vermelha e certamente deixará o Aeroporto Tom Jobim e seu entorno pacificados, deixando a cidade praticamente dividida em "áreas ocupadas" e "o resto". Niterói sofre com essa política, com o aumento rápido da criminalidade. A Baixada e a Zona Oeste também.

Quanto ao tráfico, o que mudou? Na minha opinião as palavras do Secretário de Segurança José Beltrame são seguidas à risca: "tráfico tem em todo o mundo, mas só no Rio tem ocupação territorial, e esta vai acabar com as UPPs. De fato, as áreas ocupadas agora fazem parte da cidade. Qualquer pessoa pode ir a uma comunidade com menos riscos. Mas o tráfico continua, e sustenta a riqueza de alguns, corrompe a polícia, oprime de forma velada os moradores. Tráfico sem armas expostas, é o novo modelo.

Nenhum grande capitalista do tráfico foi preso nesse período, apenas operadores. Quando um helicóptero de um político pousa na fazenda do político pilotado por funcionário do político com 450 kg de cocaína avaliados em R$ 20 milhões, nada se fala na mídia. Os traficantes mais famosos, daqueles que estão em penitenciárias federais, não têm esse volume de dinheiro para pagar por um volume desses de droga. Alguém graúdo financia, mas não tem UPP para granfino.

A lucratividade do tráfico deve ter aumentado, pois de certa forma agora toda a cidade paga pela segurança das bocas de fumo, que não acabaram. O traficante deixou de pagar uma extensa folha de soldados, olheiros, fogueteiros, soltadores de pipa, armamentos e tudo o que precisavam para impedir a tomada dos seus pontos por outra facção. Hoje quem garante a estabilidade nas mãos de uma facção é a UPP. A FGV em 2009 fez um interessante estudo sobre a economia do tráfico onde esses valores aparecem. http://blogdobranquinho.blogspot.com.br/2009/07/trafico-de-drogas-e-menos-rentavel-que.html

O fato é que o crescimento da candidatura Garotinho preocupa uma boa parte dos moradores do Rio, dada sua tolerância ao crime organizado, que ficou exposta quando seu Chefe de Polícia, Álvaro Lins, foi preso pela Polícia Federal por haver recebido "arrego" de bandidos.  Um novo governo seu poderia ser o enterro das UPPs e o retorno à condição anterior. E para os que criticam as UPPs por racismo há o temor de crescimento da intolerância religiosa com perseguições à umbanda e candomblé , já que Garotinho, sendo evangélico, tenderia a não intervir já que há pastores que convencem os traficantes a expulsar das comunidades os cultos afro. Já pelo menos dois processos em andamento no Ministério Público do Rio sobre tais perseguições. 

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