Em São Paulo a situação do abastecimento de água para 8 milhões de pessoas na região metropolitana da capital está crítica. O principal reservatório está quase seco, mas a SABESP, empresa do governo paulista responsável pela água e esgoto, não toma a medida que seria mais prudente: iniciar uma ampla campanha de economia com racionamento. Como isso tem repercussões políticas, empurra-se o problema com a barriga na expectativa de novas chuvas que possam salvar a pátria tucana. Diante do descaso, a
Agência Nacional de Águas, que monitora os sistemas de todo o país, determinou que os outros sistemas de abastecimento serão acionados para reforçar o abastecimento, solução que não durará muito tempo pois os outros reservatórios são menores.
|
Gráfico do Jornal Nacional |
Para poder preparar o clima para o racionamento em terras tucanas, a Globo passou a investir na "criação" do apagão elétrico. Estamos terminando o verão, com recordes de calor e falta de chuva e de equipamentos de ar condicionado, e nenhuma ocorrência séria de falta de energia sistêmica foi registrada. Mesmo assim a Globo quer criar o clima com mentiras sobre o sistema elétrico. Foi assim quando Dilma baixou as tarifas de eletricidade no ano passado:
previram um caos que assustou os empresários e não aconteceu. Um prejuízo enorme à economia pelo irresponsável terrorismo político.
|
Gráfico do Jornal da Globo |
A primeira delas é tentar comparar os níveis de reservatórios de hidrelétricas de fevereiro de 2014 com o do mesmo mês de 2001, quando o governo FHC mergulhou o país num racionamento por falta de investimentos agravado pela falta de água nas barragens. Isso apenas no sudeste e centro-oeste, que abastecem o sudeste e centro-oeste (70% do consumo).
Através de um gráfico, o Jornal Nacional tentou mostrar que os níveis eram praticamente iguais para o expectador ver que estamos numa pior. Pelo menos tiveram a decência de mostrar que em março já houve recuperação. No Jornal da Globo, que é mais barra pesada em críticas com a tropa de choque da direita, a barrinha de março sumiu, para reforçar que estamos próximos do caos elétrico. Na audiência desse jornal tardio estão empresários e outros em quem se incute a desconfiança no governo para travar investimentos.
|
Em azul, 2013. Em verde, 2000 |
Eis que o site do Operador Nacional do Sistema (ONS) nos mostra uma outra realidade: fevereiro de 2001 foi um dos valores de máximo de nível de reservatórios em meio a valores péssimos do ano anterior. Hoje temos mais energia armazenada que em 2001. De lá para cá mais hidrelétricas foram construídas, linhas de transmissão permitem transferir cargas de um sistema a outro e há termelétricas capazes de segurar mais de 20% da demanda, acionáveis em caso de falta. O sistema hidrelétrico e de novas alternativas em períodos normais segura a demanda.
Mesmo com as chuvas irregulares hoje temos uma situação energética bem mais confortável que no apagão e racionamento do governo FHC. Mas a Globo incute a incerteza na forma de desconfiança no governo e apóia a iniciativa de alguns grandes consumidores para participar das decisões sobre energia, ou seja, tirar poder do governo para as decisões no setor. Na prática, dizem que o governo mente e não vai fazer o racionamento que acham necessário para não ter desgaste político.
O rol de mentiras e meias-verdades não para por aí. É preciso parar hidrelétricas para criar mais tensão, daí empurrarem goela abaixo a versão do Greenpeace e outros de que as cheias em Porto Velho são consequências da construção das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, que estão a montante da capital de Rondônia. O Ministério Público, OAB e outros emprenharam pelos ouvidos com essa versão e
já tomam medidas para embargar obras e parar a geração. Esconderam o fato causador das cheias recordes:
chuvas descomunais nas nascentes do Rio Madeira na Bolívia. Mais de 500 mm em poucos dias, o que é um dilúvio, considerada grande área da bacia de captação.
Se no Ministério Público, OAB e outros houvesse uma consultoria de engenharia, talvez tivessem evitado essa medida equivocada. Barragens servem para regular as cheias dos rios, perenizá-los e criar potencial hidráulico para geração de energia. Não se construía hidrelétricas desde a ditadura, e as feitas por Lula e Dilma levam em conta preocupações ambientais como a redução das áreas alagadas por reservatórios, tanto que em alguns casos a geração de energia será suspensa por falta de água, como será o caso de Belo Monte. Trabalham praticamente com a água corrente, ou seja, é absurdo supor que as hidrelétricas gerem água. O correto seria supor que elas são favoráveis à contenção de cheias, e nesse sentido foram desligadas 11 turbinas da usina hidrelétrica de Santo Antônio para que haja acumulação de água para aliviar a situação de Porto Velho.
Essas coisas não são fáceis de explicar num ambiente contaminado por interesses contrários ao desenvolvimento nacional, internos e externos, políticos e pouco técnicos. Mas com a Globo tudo vira verdade. Para dar mais substância à campanha pelo racionamento elétrico visando tirar pontos eleitorais de Dilma, o Jornal Nacional botou mais um gráfico "mostrando" que o preço cobrado pelo mercado livre de energia das termelétricas quadruplicou em um ano, como se toda a energia tivesse aumentado. Só que isso não chegou ao consumidor, porque 80% da energia é hidrelétrica, muito mais barata, e mesmo com 20% fornecidos por térmicas o impacto nas contas não aconteceu. Mas a Globo pinçou nas declarações do ministro Edson Lobão que "a conta pode ser do consumidor".
Para azar deles, está chovendo muito nas nascentes dos rios que abastecem os principais reservatórios de hidrelétricas, e pouco em São Paulo. Os números da ONS em março serão bem melhores que os de fevereiro, enquanto os do sistema Cantareira podem não ser tão bons assim, porque o clima está atípico. A tentativa de tomar na marra o comando do sistema elétrico não resistirá às atuais chuvas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário