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Dilma no ano passado virou o jogo. Ou ganhou tempo. Com o povo que estava nas ruas aproveitou para aprovar verbas do pré-sal para saúde e educação, liberar recursos para mobilidade urbana e o xeque-mate: propôs um plebiscito para decidir se haveria uma constituinte sobre o sistema político. Nesse ponto a mídia recuou e a violência fascista passou a aparelhar os movimentos, e as pessoas se dispersaram. Nenhum movimento convocado pelo #naovaitercopa conseguiu mais que a adesão de uns gatos pingados a partir dali. E os seus líderes passaram a aparelhar tudo que outros juntassem gente para jogar contra a Copa.
Nesse meio tempo a verdade foi aparecendo. Até a grande imprensa admite que o dinheiro gasto com os estádios não foi do governo Dilma, que emprestou aos estados, portanto não tirou as verbas existentes no orçamento de saúde e educação. E que o valor dos estádios não seria mais que uma quinzena do orçamento da educação. Só de impostos o evento Copa já arrecadou o dobro do valor dos estádios. E se tudo der certo o Brasil terá criado um volume de benefícios à economia da ordem de R$ 140 bilhões, com geração de emprego, elevação do PIB, etc.
Junto com a mídia apostaram que seria fácil não ter Copa a partir da presumida incompetência do governo em terminar os estádios, aeroportos e outras obras de grande porte. Perderam. O que não foi feito não era para a Copa, mas eventos de longo prazo do PAC que foram antecipados. O que temos dá tranquilamente para fazer a Copa das Copas, como anuncia o governo. Como o fracasso anunciado não aconteceu, o jeito é partir para a radicalização, no entender deles.
Sem analisar a conjuntura, vão ficar cada vez mais isolados. Como o movimento minguou nem o governo nem o Congresso se animaram a aprovar uma lei antiterrorismo que criminalizasse os as lutas sociais, o que seria um imenso retrocesso democrático. O forte aparato de segurança será disponibilizado para garantir a realizaçãodo evento a ferro e fogo. Entende o governo que a sabotagem à Copa e o impedimento de qualquer parte da programação custaria alto à imagem do Brasil no exterior. Por isso mesmo as proximidades do evento serão como uma cerca elétrica: chegou perto, vai dar choque.
Outra mudança conjuntural foi a postura da mídia. Se em junho passado propagandeavam os eventos de lutas e transmitiam ao vivo, depois passaram ao apoio sistemático mas discreto (desde que causasse estragos ao governo Dilma) e agora... hora de faturar! O que era um evento criminoso e pecaminoso porque roubaria dinheiro da saúde e educação das crianças, na mídia agora virou uma imensa festa, onde cada estádio contra o qual lutaram virará a Meca para onde se dirigirão os fiéis do futebol.
A Globo não pode mais dar destaque ao anticopa. Ela agora é a Copa! Geradora oficial de imagens que serão vendidas a todo o mundo. Precisa que o povo mude de atitude para melhorar a imagem dos seus anunciantes e de seus produtos. Vão passar da oposição à trégua e ao ufanismo em poucos dias. Por essas e outras o Jornal Nacional de ontem não deu mais que 15 minutos de espaço para mostrar um índio numa manifestação em Brasília flechando um policial.
Quem só viu essa imagem e não a história toda vai criminalizar os índios. O que a mídia não mostrou foi a manifestação dos povos indígenas no Congresso Nacional contra uma PEC que os prejudica na demarcação de terras e por garantia de vagas para representantes indígenas no Congresso Nacional. Faz parte da semana de mobilização que fazem todo ano. Não houve nenhuma repressão a isso. O que fez uma manifestação pacífica e justa dos indígenas por reivindicações virar uma batalha campal? Os índios são contra a Copa? A lógica diz que não deveriam ser, já que os 500 mil gringos que virão poderão comprar artesanato indígena e será uma oportunidade de faturar mais e levar ao mundo a arte nativa.
No meu entender, o movimento contra a Copa entrou num momento de desespero. As pessoas, o povo em geral, querem a Copa. 77% acreditam que o Brasil vai levantar a taça pela sexta vez. Aos poucos o clima de festa vai deixando sem margem de ação as oposições. De repente as pessoas estão saindo da depressão, deixando de lado a lavagem cerebral que incutiu por motivos políticos que a Copa seria algo criminoso ou pecaminoso e começam a enfeitar ruas, trocar figurinhas, fazer bolões, e até os "contra" mais abastados, os tais "coxinhas", já estão com ingressos nos bolsos, dinheiro para pagar os altos preços de bebidas e comidas nos belíssimos estádios sem chiar e mandar "selfies" para as redes sociais. Como quem diz: "estou aqui neste estádio construído pela miséria do povo num evento que boicotei, sabotei e falei mal, para vaiar a presidente que fez isso acontecer porque nunca gostei dela".
Com a perda dos eixos, do apoio de mídia e popular, e principalmente tendo alimentado ódio à Copa nas mentes de alguns militantes, a eles não cabe analisar a conjuntura e reformular as ações. É possível criar fatos políticos para denúncias ou reivindicações aproveitando os 14 mil jornalistas que estarão nos eventos. Exemplo: na greve dos professores no Rio aparelhada pelo "#naovaitercopa" uma professora com um cartaz em inglês mostrando em dólares quanto era um ingresso de jogo e o salário de professor circulou pelo mundo através da BBC inglesa. Há motivos de sobra para protestar, como por exemplo a PEC 65, que poderá aumentar os salários de juízes, e depois do legislativo e executivo em cadeia, em 35%.
A radicalização poderá acontecer, associada a interesses em detonar no exterior a imagem do Brasil. Greenpeace banca a vinda de instrutores de manifestações às vésperas da Copa. Entidades internacionais de direitos humanos estão de olhos atentos no Brasil. Em julho as 5 potências emergentes criarão o Banco dos BRICS acertando negociações sem dólares que tiram poder dos EUA. Temos uma fortuna inestimável de petróleo que causa a cobiça dos Estados Unidos e outras potências. E um governo que se coloca como obstáculo a todos esses interesses e que vai ser combatido com tudo. Um desastre na Copa repercutindo pelo mundo, entendem eles, seria a bala de prata para matar o vampiro brasileiro.
Se o povo não está nem aí mais para as questões políticas, se a mídia agora só quer faturar, se não conseguem mais juntar gente para lutar contra a Copa uma forma perigosa de criar fatos midiáticos pode ser a incitação ao martírio. Dos outros. Empurrar para a cerca elétrica os movimentos sociais justos que reivindicam em meio à Copa, sem se preocuparem se haverá cadáveres midiáticos a serem explorados pelos que patrocinam outros interesses. Isso não é mais ação de movimento social, já é coisa de seita extremista.
Todo apoio aos povos indígenas, aos rodoviários, aos professores e a todos os que lutam por uma vida melhor é o correto, com ou sem Copa. O #naovaitercopa perdeu o sentido e os militantes sérios que insistirem nisso passarão por pastores que pregam o apocalipse, virando motivo de escárnio pelo povo.
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