Hoje os motoristas do Rio retornaram ao trabalho e às 16h haverá nova assembléia para definir os rumos do movimento. Na paralisação de ontem, liderada por sindicalistas de oposição à diretoria do sindicato com o apoio de outros sindicatos (petroleiros, comerciários de Nova Iguaçu, Conlutas), apesar da eficácia do movimento, houve reações bem diferentes das que ocorreram durante a greve dos garis em março de 2014.
Para entender melhor, a greve dos garis foi feita pela base do sindicato, atropelando a diretoria pelega que fez acordo rebaixado não aceito por boa parte da base. O movimento foi espontâneo, não teve quase nenhum apoio de outras categorias, foi duramente criticado pela mídia por acontecer durante o Carnaval, parecia fadado ao fracasso, mas se impôs e fez o prefeito Eduardo Paes, patrão da Comlurb, acatar o reajuste de 40% nos salários. Chamo de "Efeito Gari" ao movimento que passa por cima de pelegos sindicais arregados pelos patrões e obtém conquistas maiores que as institucionalmente conseguidas, fazendo greve pela base.
Como o dinheiro para pagar a nova despesa assumida vem dos contribuintes e não do bolso do prefeito, e havia o risco de emergência sanitária, ficou mais fácil arrancar essa grande conquista. Pouco importou se a greve aconteceu no Carnaval, afinal, foi resultado de rejeição a um acordo feito dias antes. E se não houve apoio explícito da população, como foi o caso da greve dos bombeiros há poucos anos, a sociedade chegou a apoiar o movimento ou pelo menos ficou inerte, sem oposição.
Ontem o jogo foi diferente. O sindicato pelego teve apoio de mídia para "denunciar" infiltração política (o lider do movimento é filiado ao PEN), que havia gente armada forçando os motoristas a parar os ônibus, que havia gente estranha ao movimento quebrando vidros de ônibus, e que o acordo feito há meses de 10% de reajuste era aceito pela maioria da categoria.
O prefeito Eduardo Paes lavou as mãos, disse que era um problema entre os motoristas e o sindicato patronal. Este, por sua vez, disse que o acordo assinado era válido e que não negociaria mais nada. Na população o impacto da greve não anunciada foi de perplexidade e de revolta, instigada pela mídia que só mostrava imagens e entrevistas de pessoas reclamando do movimento, reclamando dos altos gastos com transportes alternativos e a perda do dia de trabalho. A conta da greve foi mandada para o bolso do trabalhador em geral pela mídia. A Folha diz que todos foram vítimas de um racha entre sindicalistas.
O movimento quer 20% de reajuste e o fim da dupla jornada nos ônibus de menor porte, onde o motorista também é cobrador, um absurdo que submete a todos a riscos porque os dois trabalhos são feitos, às vezes, com o veículo em movimento. Isso e mais a cobrança de multas são questões que trazem os motoristas a apoiar o movimento, que foi forte ontem e, ao meu ver, deveria ter sido ampliado hoje para forçar a abertura de canais de negociação. Com a suspensão, haverá tempo para os patrões intimidarem os trabalhadores e para a mídia trabalhar a opinião pública contra a greve. Pode acontecer a reação que houve ontem em Florianópolis, quando usuários entraram em confronto com motoristas em paralisação-surpresa.
Há que se considerar que em greves de motoristas os patrões tentam mandar a conta para o reajuste de tarifas. Neste ano no Rio já houve aumentos acima da inflação, que teriam sido motivo de grandes protestos se não fosse a morte acidental do cinegrafista no protesto na Central do Brasil, causando refluxo nas ações violentas. O prefeito, salvo pressão irresistível, não cederá. O reajuste terá que sair dos lucros dos proprietários das linhas de ônibus. Aí o "Efeito-Gari" não funcionará, porque os patrões, jogando em casa com o apoio dos pelegos do sindicato, endurecerá sua posição e buscará o esvaziamento do movimento através da opinião pública e da repressão.
Várias categorias já se alinham para tentar o "Efeito Gari" no período da Copa. A Polícia Federal pode até conseguir ameaçar, mas a segurança poderá contar, na falta dela, com as forças armadas e empresas de segurança particulares ou terceirizações, por exemplo, de serviços de imigração nos aeroportos, e mesmo reforçar o lobby de empresas estrangeiras interessadas em faturar por aqui na Copa.
Os professores também fazem suas apostas, mas o cacife é mais baixo, porque educação nunca foi levada a sério pelos governos, e não será na Copa que haverá sensibilidade. Idem para os profissionais de saúde do sistema público. Pela lógica, quem gastou o dinheiro da saúde e educação com estádios não estará nem um pouco preocupado com a paralisação dos servidores.
Para entender melhor, a greve dos garis foi feita pela base do sindicato, atropelando a diretoria pelega que fez acordo rebaixado não aceito por boa parte da base. O movimento foi espontâneo, não teve quase nenhum apoio de outras categorias, foi duramente criticado pela mídia por acontecer durante o Carnaval, parecia fadado ao fracasso, mas se impôs e fez o prefeito Eduardo Paes, patrão da Comlurb, acatar o reajuste de 40% nos salários. Chamo de "Efeito Gari" ao movimento que passa por cima de pelegos sindicais arregados pelos patrões e obtém conquistas maiores que as institucionalmente conseguidas, fazendo greve pela base.
Como o dinheiro para pagar a nova despesa assumida vem dos contribuintes e não do bolso do prefeito, e havia o risco de emergência sanitária, ficou mais fácil arrancar essa grande conquista. Pouco importou se a greve aconteceu no Carnaval, afinal, foi resultado de rejeição a um acordo feito dias antes. E se não houve apoio explícito da população, como foi o caso da greve dos bombeiros há poucos anos, a sociedade chegou a apoiar o movimento ou pelo menos ficou inerte, sem oposição.
Ontem o jogo foi diferente. O sindicato pelego teve apoio de mídia para "denunciar" infiltração política (o lider do movimento é filiado ao PEN), que havia gente armada forçando os motoristas a parar os ônibus, que havia gente estranha ao movimento quebrando vidros de ônibus, e que o acordo feito há meses de 10% de reajuste era aceito pela maioria da categoria.
O prefeito Eduardo Paes lavou as mãos, disse que era um problema entre os motoristas e o sindicato patronal. Este, por sua vez, disse que o acordo assinado era válido e que não negociaria mais nada. Na população o impacto da greve não anunciada foi de perplexidade e de revolta, instigada pela mídia que só mostrava imagens e entrevistas de pessoas reclamando do movimento, reclamando dos altos gastos com transportes alternativos e a perda do dia de trabalho. A conta da greve foi mandada para o bolso do trabalhador em geral pela mídia. A Folha diz que todos foram vítimas de um racha entre sindicalistas.
O movimento quer 20% de reajuste e o fim da dupla jornada nos ônibus de menor porte, onde o motorista também é cobrador, um absurdo que submete a todos a riscos porque os dois trabalhos são feitos, às vezes, com o veículo em movimento. Isso e mais a cobrança de multas são questões que trazem os motoristas a apoiar o movimento, que foi forte ontem e, ao meu ver, deveria ter sido ampliado hoje para forçar a abertura de canais de negociação. Com a suspensão, haverá tempo para os patrões intimidarem os trabalhadores e para a mídia trabalhar a opinião pública contra a greve. Pode acontecer a reação que houve ontem em Florianópolis, quando usuários entraram em confronto com motoristas em paralisação-surpresa.
Há que se considerar que em greves de motoristas os patrões tentam mandar a conta para o reajuste de tarifas. Neste ano no Rio já houve aumentos acima da inflação, que teriam sido motivo de grandes protestos se não fosse a morte acidental do cinegrafista no protesto na Central do Brasil, causando refluxo nas ações violentas. O prefeito, salvo pressão irresistível, não cederá. O reajuste terá que sair dos lucros dos proprietários das linhas de ônibus. Aí o "Efeito-Gari" não funcionará, porque os patrões, jogando em casa com o apoio dos pelegos do sindicato, endurecerá sua posição e buscará o esvaziamento do movimento através da opinião pública e da repressão.
Várias categorias já se alinham para tentar o "Efeito Gari" no período da Copa. A Polícia Federal pode até conseguir ameaçar, mas a segurança poderá contar, na falta dela, com as forças armadas e empresas de segurança particulares ou terceirizações, por exemplo, de serviços de imigração nos aeroportos, e mesmo reforçar o lobby de empresas estrangeiras interessadas em faturar por aqui na Copa.
Os professores também fazem suas apostas, mas o cacife é mais baixo, porque educação nunca foi levada a sério pelos governos, e não será na Copa que haverá sensibilidade. Idem para os profissionais de saúde do sistema público. Pela lógica, quem gastou o dinheiro da saúde e educação com estádios não estará nem um pouco preocupado com a paralisação dos servidores.
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