terça-feira, 12 de agosto de 2014

EURÁSIA 2014 - 003 : Viajando no tempo na Armênia, Azerbaijão e Geórgia

A parte sul das montanhas do Cáucaso tem sido uma das áreas mais estratégicas do mundo ao longo da história. Espremida a leste e oeste pelos mares Cáspio e Negro, respectivamente, tendo ao norte a Rússia, ao sul o Irã e Turquia, desde os tempos mais primórdios foi palco de interesses geopolíticos próprios além de ficar na Rota da Seda, que ligava a China à Europa. Também é onde a mitologia cristã contribui com Noé e sua arca estacionando no Monte Ararat. Alguns também atribuem ao surgimento na região do grupo étnico "caucasiano", que teria se espalhado para a Europa, sul da Ásia e Norte da África.

Essa região viu ao longo dos séculos florescerem povos e ao mesmo tempo presenciou genocídios, limpezas étnicas, migrações forçadas e foi palco para muitas guerras no passado e situações tensas no presente. A Geórgia reivindica as atuais repúblicas da Abkázia e Ossétia do Sul, que têm reconhecimento parcial e apoio militar russo. Armênia e Azerbaijão disputam a região de Nagorno-Karabakh. Armênia e Turquia têm fronteiras fechadas por histórica disputa que culminou com o genocídio de armênios turcos há um século. O Azerbaijão é disputado pela geopolítica da OTAN e russa e tem pretensões expansionistas através da Armênia para unificação com a república autônoma do Naquichevão, interligando os povos turcos desde o Turcomenistão à atual Turquia. Fora dos três países mas na borda norte da Eurásia estão repúblicas que só vemos nos noticiários de guerra, como a Ossétia do Norte, Daguestão, Chechênia, etc.

Tudo que a gente viu de passagem nas aulas de história na escola agora é matéria obrigatória. Por ali passaram impérios de mongóis, persas, hunos, otomanos, bizantinos, gregos, romanos e povos nômades como os alanos que foram até a Península Ibérica a partir da Ásia Central. Fora as guerras civis, a incorporação pela União Soviética e depois as independências que avivaram conflitos étnicos e territoriais.

Planejar viagem nessa área é andar em campo minado, porque dependendo do trajeto pode-se ter surpresas desagradáveis e até ser detido. Ontem fomos em Brasília às embaixadas da Armênia e do Azerbaijão para ter informações mais precisas. Atendimento cordial e afirmações de não haver problemas no trânsito entre os dois países, no entanto, continuam contrastando com os relatos da internet. A rigor a Armênia está em posição de vantagem na questão do Nagorno-Karabakh e a maior disposição bélica partiria do Azerbaijão. Chegar por lá com visto do Nagorno-Karabakh no passaporte é pedir para voltar do aeroporto mesmo. Da Armênia, em tese, não teria problema, mas decidimos não pagar para ver.

O Nagorno-Karabach tem grande maioria da população de armênios e é uma ilha dentro do Azerbaijão. Numa guerra rápida logo após a dissolução da União Soviética conquistaram territórios do Azerbaijão que lhe deram fronteiras com a Armênia e o Irã e de lá para cá houve tréguas e novos conflitos que tornaram a região uma das mais militarizadas do mundo. O acesso é complexo. Tem um aeroporto mas não opera porque as autoridades aeroportuárias do mundo todo só aceitam homologá-lo se houver concordância do governo do Azerbaijão, o que obviamente não terão. O percurso seguro por terra é feito por uma estreita faixa pela Armênia. Avaliamos que o benefício não valeria o custo político e a burocracia e desistimos de ir por lá.

De tudo isso confirmamos nosso roteiro inicial: Baku (Azerbaijão) - Tblisi (Geórgia) e Erevan (Armênia). A Geórgia tem boas relações com o Azerbaijão, Por ela passam uma ferrovia e um gasoduto que chegam à Turquia sem passar por território russo, garantindo à Europa uma fonte segura de energia em caso de represálias russas ao ocidente. Da Geórgia se passa de ônibus, trem e avião, mas os vôos não são diretos e demoram mais em escalas em lugares distantes (Istambul, Moscou, etc), fazendo da opção por ônibus mais rápida. Há também a alternativa das "marshruktas", que são táxis coletivos com roteiros pré-definidos, um misto das nossas vans com lotações. Levam de 4 a 5 horas.

Para a Armênia é exigido visto, mas pode ser conseguido ao chegar ao país em qualquer posto de fronteira e aeroportos. Paga-se uma taxa para ter o carimbo no passaporte. Para o Azerbaijão o processo é mais complicado. No site da embaixada fala-se em ter um convite de alguém de lá como documento necessário. Tipo da coisa sem futuro porque há um mercado de venda de "convites" pela internet. Na embaixada soubemos que isso pode ser substituído por reserva em hotel. O visto é dado a partir da data prevista de chegada ao país. Para a Geórgia não há necessidade de visto.

Em termos de roteiros, a princípio, ficaremos apenas em Baku, capital do Azerbaijão, por 4 noites, podendo num desses dias fazer alguma cidade próxima que espelhe mais a realidade que se esconde por trás dos modernos prédios ocidentais da área nobre da cidade. Sairemos de avião para a Geórgia com previsão de 7 noites no país, sendo 3 na capital Tblisi, duas no litoral em Batumi e duas nas montanhas em Mestia, tendo o carro alugado como transporte para visitar outras cidades e atrações como Mtskheta, Gori, Gudauri, Kutaisi, Zugdidi e Svaneti. Na Armênia, menor dos três países, passaremos 4 noites tendo como foco a capital Erevan fazendo passeios de carro a Khor Virap, onde se vê melhor o Monte Ararat, que apesar de ser o símbolo do país está atualmente na Turquia, e ao Lago Sevan. Dá para ir e voltar no mesmo dia, passando por cidades e vilarejos no caminho. Passaremos para o Irã de avião.

A dificuldade com língua e escrita será maior na Geórgia e Armênia. O Azerbaijão aparenta querer disputar com Dubai uma fatia do turismo de ostentação, embora o fluxo seja pequeno ainda, e aposta na ocidentalização, facilitando ao estrangeiros a comunicação. Em todos os lugares, segundo os relatos, há redes de internet wi-fi de qualidade. Moeda do Azerbaijão é o Manat Azeri, que tem a cotação parecida com a do Euro mas o poder de compra é maior. Na Armênia é o DRAM e na Geórgia o LARI, que podem ser obtidos em casas de câmbio ou no caso de VTM em terminais bancários.

Para conhecer mais sobre o contexto sem muita profundidade o Wikipedia tem materiais nos verbetes:
- Azerbaijão, Abkhazia, Adjara, Batumi, Borjomi, David Gareja Monastery, Geórgia, Marshrutka, Ossétia do Sul, Armenia, Ilkhanate, Khanate, List of Muslim empires and dynasties, Império Mongol, Alexandre O Grande, Império Romano, Império Bizantino, Império Huno, Cáucaso, História do Cáucaso, Conflitos do Cáucaso, Império Otomano, Império Russo e dentro deles os links para outros assuntos correlatos.

No Wikitravel há boas indicações nos verbetes:
- Armenia, Central Armenia, Karki, Nagorno-Karabakh, Nakhcivan, Yerevan, Azerbaijan travel guide, Baku, Batumi, Georgia travel guide, Gori travel guide, Kazbegi, Kutaisi, Mestia, Mtskheta, Svaneti, Tblisi, Ushguli, Vani, Vardzia, Zugdidi, Caucacus travel guide

Há um bom livro do Lonely Planet, em inglês, sobre Armênia, Azerbaijão e Geórgia

Há uma infinidade de vídeos sobre países e cidades no Youtube com cenários, costumes, belezas, aventuras e problemas sociais.

No próximo capítulo abordaremos a Ucrânia e Rússia, encerrando a pesquisa de roteiro.

Capítulo anterior: EURÁSIA 2014 - 002 : Estudando o roteiro da Turquia






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