O réveillon jornalístico fica mais ou menos assim |
Ontem no jornal das 18h da Globonews as notícias seguiam uma linha de preparação de festas: réveillon no Rio, São Paulo, Florianópolis, etc. Eis que a apresentadora fala que "já está sendo preparada a festa em Brasília para a posse da presidente Dilma e... aí começou a gaguejar, procurar texto no teleprompter, ler o texto no papel e mudou-se de assunto. Vacilada geral ou a posse de Dilma não poderia ser apresentada num bloco de festas? O assunto voltou depois com o anúncio dos novos ministros.
Antigamente as TVs apresentavam a partir de 9 ou 10 da noite as retrospectivas do ano em extinção. Adorava rever as imagens e as notícias até como forma de avaliar a velocidade dos fatos e surpreender-me com coisas tipo "fulano morreu?" ou "isto foi neste ano mesmo, parece que foi há um tempão...". Hoje botam shows que simplesmente ninguém vê, as TVs ficam ligadas passivamente à espera da contagem regressiva para a meia-noite que em geral não tem ênfase e muita gente perde a noção do ano que começou, passando a se orientar pelo barulho dos fogos e pelos animais que enlouquecem na virada do ano com o ruído.
Antes da meia-noite em todos os canais entram repórteres que tiveram o azar de cair naquele plantão ou novatos que aproveitam a oportunidade para aparecer e desfiam rosários de bobagens, clichês e descrição inútil das belas imagens dos fogos. É nessa hora que os trabalhadores dos meios de comunicação em plantão também dão uma relaxada, tomam suas champanhes e se esquecem que tem uma pessoa falando sem parar enchendo a paciência de quem tenha deixado o volume da TV mais alto.
A edição de imagens acaba ficando com o estagiário, que faz de uma balsa pegando fogo algo que justifique suprimir as imagens das festas por todo o país e incentivar comentários tipo "está tudo sob controle porque as equipes são altamente treinadas para lidar com a situação". Nisso a imagem mostra o incêndio e as pessoas de lá paradas como se não tivessem extintores. Depois de alguns minutos apareceu um barco que jogou água e tudo se resolveu. O mundo todo viu essas imagens, em vez de algo mais interessante para descrever a grandiosidade da festa. E ninguém viu o tal especial de 450 anos da cidade do Rio que apareceu minutos antes da virada. A Globo depois botou uma foto de algo tosco que certamente foi regiamente pago pela prefeitura.
Aí vem a sucessão de shows sacais e as imagens de público que não dança, não se mexe, está lá fazendo outra coisa. E tudo isso gasta muito dinheiro do contribuinte. As autoridades entrevistadas dizem que o show será de alto nível e servirá para que as pessoas fiquem mais tempo no evento evitando a saída simultânea e caos na logística. Tudo bem, mas botar gente para dormir com tais espetáculos é de lascar...
Do que vi o melhor foi o show da Ivete Sangalo, depois da 1 da manhã, na virada do fuso horário normal do Nordeste. Também se na Bahia botassem coisa desanimada seria o fim da picada. O resto, mais do mesmo. Não vi imagens de Recife. Até de Natal e os poucos fogos da ponte mostraram.
Por volta de duas e meia o festival de besteiras jornalísticas continuava para deleite dos novatos e até um respeitável apresentador de telejornal mostrou ter passado da convencional taça de champanhe e parecia animado demais.
Já nas mídias sociais uma espiral de votos de "Feliz Ano Novo" entupia os canos da internet. Um manda para suas centenas de amigos uma mensagem geral, que cada um seria obrigado, a bem da educação, a retribuir, mas também já mandou a todos, inclusive aos que simultaneamente mandaram. Se todos mandassem e todos agradecessem não haveria banda larga que aguentasse.
Lá pelas duas da manhã também começam a aparecer selfies tirados com celulares com problemas, mostrando gente torta, com olhos vermelhos e bem fechadinhos em caras inchadas e descabeladas. E tome foto de taça, de fogos desfocados, etc. As tecnologias ainda têm muito que evoluir, especialmente reconhecendo e alterando caras e atitudes de gente mamada.
Conheço gente que dorme normalmente no dia da virada do ano como se fosse qualquer outro dia. Será que ganham ou perdem com isso?
Vamos aguardar as oferendas da mídia daqui a pouco, na posse de Dilma. Os batalhões de "analistas" criticando e urubuzando o governo, botando defeito até na calibragem do pneu do Rolls Royce oficial...
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