A tal "carta do Temer" confessando suas chantagens feitas durante o tempo e seus ressentimentos em relação a Dilma por tê-lo contrariado muda o rumo do tal processo de "impeachment". Temer, que até ontem estava calado, soltou a carta e foi fazer palestra para empresários expondo seu projeto "Ponte para o Futuro", que é um programa de governo que já meses propaga preparando o terreno para assumir o governo.
O PT pode até "republicanamente" repetir a cena de Collor com Dilma, assinando o livro da destituição, coisa e tal, mas e as pessoas que estão sinceramente defendendo a democracia e as urnas? Muitos não aceitarão mais esse "acordo por cima", onde a ilusão será a da candidatura de Lula em 2018. Se o golpe vier, Lula será preso por qualquer coisa e terá os direitos políticos cassados. Simples e cruel assim!
Ficou claro que o PMDB sabotava o governo, exigindo cada vez mais espaços controlando dinheiro e cargos, não para ser aliado do governo, mas para manter uma relação parasitária esperando a hora de matar o hospedeiro. Eram doença e "remédio" do governo. Desestabilizavam para vender estabilidade cada vez mais cara. E seguiriam assim se a base do PT não tivesse se rebelado e botado os três deputados da Comissão de Ética para votar contra Cunha. E exigido da maioria dos deputados compromisso contra mais acordinhos com o PMDB. Aí a casa caiu: o modelo do PSDB não prevê que o refém lhes diga: "quer matar, mata logo, porra!".
A partir daí as máscaras começaram a cair. Nada explica que a essa altura da crise política Cunha ainda tenha poder para manipular a composição da comissão que examinará o impeachment e continue correndo da Comissão de Ética que não seja a conivência da oposição, do seu partido, do Ministério Público e do Judiciário, aparentemente todos sócios dessa "joint-venture" golpista. Por muito menos um senador do PT, líder do governo, foi preso no exercício do cargo.
Esqueçam as firulas jurídicas que o PT e Dilma parecem acreditar que são o motivo do pedido de impeachment. Isso pouco importa. Temer assinou os tais decretos sem data assim como Dilma, e no fim das contas isso não é crime de responsabilidade para derrubar governo. Tudo isso é só pretexto para o golpe em curso, e Dilma e o PT acham que o Congresso é o fórum adequado para o julgamento de um mandato democraticamente concedido pelo povo.
O Congresso é uma arapuca repleta de marginais que se vendem por dinheiro, que não falta nas malas cheias que os grupos de interesses poderão prover à vontade. Quanto custa um voto no impeachment? R$ 10 milhões? Ora, com R$ 342 milhões se "elege" o sucessor de Dilma via golpe. Depois vem a cobrança: pré-sal prá um, BB e Caixa prá outro, mais juros, melhores negócios para a mídia, etc. Não se vota golpe, porque é um processo viciado. Se Dilma ganha, o golpe não pára; se perde, o golpe ganha.
Nossas elites ao longo da história se articularam para fazer as mudanças por cima, sem muito derramamento de sangue. Este só rolou quando havia uma ameaça classista, e toda a elite se uniu para matar, perseguir, torturar e prender trabalhadores e a esquerda. Nos demais momentos o que vimos foi um grupo contra outro grupo de elite. Assim foi na Independência, Proclamação da República, Revolução de 30, etc. O momento atual, a não ser que o PT continue com a esparrela de buscar um "acordão" onde cederá mais para não governar, aponta para um desfecho mais parecido com 1964.
Quase toda a esquerda e muita gente independente assumiu o discurso "tenho restrições ao governo Dilma, sou a favor da democracia e contra o golpe". Nesta hora sumiu tudo o que de maldade se fez, por exemplo, no circo da Lava-Jato e nas prisões espetaculares de petistas. Ninguém pensa mais nisso. Se o Moro der na telha de prender o Lula agora, por exemplo, entorna o caldo, porque tudo que se fizer daqui prá frente que tente atingir o governo e Dilma será colocado na conta do golpe. E seus autores vão para a lata do lixo da história, que está generosamente aberta.
O "fator povo" nunca é levado em consideração nos grandes jogos estratégicos das elites. Na hora que querem pagam a oportunistas e à mídia para botar ou tirar povo na rua defendendo o que querem. Funcionou até Cunha tentar a punhalada final. Agora tem "povo gratuito" nas ruas e isso vai crescer ao longo do processo de impeachment.
As elites acham que se o processo demorar eles vão ter como botar "as massas deles" nas ruas, o que parece falso. Com as bandeiras vermelhas ocupando as avenidas os covardes da classe média de direita não aparecerão, mas mandarão paus mandados e polícias para tentar calar os manifestantes. Aí não tem mais freio: o pau come, a rua fecha, o carro pega fogo, a estrada pára, o prédio pega fogo, gente importante não pode mais sair na rua, enfim, a situação fica imprevisível e aí, além de golpe, repressão violenta.
O PT cometeu o erro de submeter o pedido de impeachment ao STF como "chantagem" de Cunha esperando o que? Que algum juiz parasse um golpe no qual o judiciário é interessado? Se fossem isentos já teriam prendido Cunha. Agora se entope de juristas da maior qualidade para dizer que a argumentação do impeachment é inócua. Enquanto isso Cunha e Temer, com os demais ratos da oposição, montam uma comissão viciada que levará a plenário o pedido de impeachment com indicação para afastamento de Dilma.
O PT pode até "republicanamente" repetir a cena de Collor com Dilma, assinando o livro da destituição, coisa e tal, mas e as pessoas que estão sinceramente defendendo a democracia e as urnas? Muitos não aceitarão mais esse "acordo por cima", onde a ilusão será a da candidatura de Lula em 2018. Se o golpe vier, Lula será preso por qualquer coisa e terá os direitos políticos cassados. Simples e cruel assim!
Pelo andar da carruagem os golpistas subiram no telhado e chutaram a escada. Não tem mais retorno. Ou ganham ou ninguém governa. Agora é Temer ou nada! Não tem mais "acordo Caracu de governabilidade por cima"! O PT, Dilma, esquerda e cidadania estão fora do modelo deles. Como o processo pode ser longo, é previsível a escalada da tensão e episódios de violência de lado a lado. Nessa hora gente ferida ou morta vira mártir, e aí pode vir guerra civil.
Dilma não pode vacilar como Jango. Sendo golpe, deve ser tratado como tal dentro da legalidade do respeito às urnas. Não pode se eximir de sinalizar ao povo para reagir legitimamente à usurpação pelos inimigos da democracia. Se Temer e o resto da direita estão montando um governo sem respeito às urnas, Dilma tem o mesmo direito de montar um governo sem o PMDB com programa popular e democrático, apoiado pela força das ruas. Dilma deve aos brasileiros um governo que enfrente os banqueiros, latifundiários, especuladores, sonegadores, corruptos e mantenha e aprofunde os programas sociais numa perspectiva de desenvolvimento. Se o golpe for contido pela força e sacrifício do povo ela ficará devendo mais ainda.
Não acredito em nada disso, conhecendo como a banda toca no PT e suas lideranças mais evidentes. Vão ficar nessa de apostar na derrota institucional do Impeachment como se fosse um turno eleitoral legítimo. Vão buscar alianças com outros setores tão ou mais corruptos que o PMDB oferecendo cargos e ministérios suculentos. Assim, desmontarão toda e qualquer chance de quem não é do PT mas defende a democracia e o fim da corrupção de se armar para rechaçar o golpe. Bom, vamos ver como é que isso se desenrola. Juro que não gostaria de vivenciar uma guerra civil, de irmãos contra irmãos. Como disse Dilma, a unidade nacional passa pela legalidade e esta pelo respeito às urnas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário