Gostaria de entender de onde vem, na cidade do Rio de Janeiro, a cultura da anarquia urbana, que tem como face mais visível o domínio de amplas áreas pelas milícias ou pelo tráfico, mas está presente nos mínimos atos de muita gente. A pretexto da necessidade de sobrevivência, apropriam-se áreas públicas para fins privados, descumpre-se toda forma de legislação e criam-se "direitos" sobre os dos demais. Coletivamente, tais expropriações são visíveis na forma de máfias setoriais que manipulam mercados de táxis, preços de combustíveis, do pão, do gás engarrafado, da vigilância de veículos e até do fornecimento de internet e TV a cabo piratas.
O novo prefeito, Eduardo Paes, está tentando enfrentar esse problema, mas os primeiros resultados já mostram a inviabilidade de superar a cultura, e a possibilidade de enfrentamentos violentos. Um exemplo disso foi a retirada de dezenas de kombis que ocupavam todas as vagas de estacionamento disponíveis na orla das praias da zona sul, estacionadas permanentemente como depósitos onde comerciantes informais guardam suas mercadorias. No primeiro dia, rebocaram todos os veículos, que voltaram no dia seguinte. Ontem, passando pela orla, vimos um enorme contingente da guarda municipal coibindo o abuso. No dia que relaxarem, tudo voltará ao "normal".
Na favelização, o maior prejuízo é para a Floresta da Tijuca, que vê sua área reduzida ano a ano pela ação de "loteadores" milicianos ou traficantes. Em boa parte da cidade, as calçadas foram "anexadas" a negócios como oficinas, vitrines de comércio, e mexer nesse "usucapião urbano" atingirá os negócios de milhares de pessoas. No ano passado, a Câmara Municipal fez a CPI do "Ilegal, e daí?" , que radiografou o problema mas não teve resultados práticos.
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