A degeneração do PT começou quando seus membros eleitos passaram a ter mais poder sobre as decisões partidárias que as instâncias, montando feudos em torno dos seus mandatos. Isso vem de muito longe. E chegou ao ápice com o governo Lula, onde aconteceu a mais devastadora inversão: o partido passou a se submeter sistematicamente aos desejos do Palácio do Planalto, em nome da disputa de poder, como se suas instâncias e decisões democráticas fossem um obstáculo à agilidade necessária à gestão. E assim foi se amoldando aos valores vigentes na política de varejo, esses que estão expostos na crise do senado.
Hoje Lula é o PT, e José Dirceu continua mandando muito nessa relação, mesmo sem os direitos políticos. Lula reclama que a senadora Marina não o procurou para dizer que sairia do partido, assim como não o consultou para deixar o Ministério do Meio Ambiente, pressionada pelos licenciamentos ambientais de projetos como estradas e hidrelétrica, para os quais o Planalto queria soluções políticas e não técnicas. Marina, enquanto senadora, deve satisfações ao PT, e não ao chefe do executivo. Já com o senador Flávio Arns, que disse repudiar a atitude anti-ética do PT ao anistiar Sarney no Conselho de Etica por ordem do Planalto, foi tratado por Lula com desprezo, com se estar no primeiro mandato fosse demérito e ainda como se divergir das ordens dos chefes fosse "criar encrenca" com o partido.
Lula deveria ter mais humildade e respeitar os responsáveis por hoje estar fazendo um dos melhores governos da história: os milhares de petistas que estão nos movimentos e nos cargos públicos trabalhando em meio a imensas dificuldades para mudar a cultura direitista de mais de 500 anos no poder. E ouvir as críticas dos que estão nessa tarefa, e dos "encrenqueiros" que estão no partido mesmo com os erros cometidos porque são os testemunhos do PT original, e querem incomodar ao mostrar as incoerências. Ao se aliar cada vez mais ao PMDB, Lula vai incorporando os valores do fisiologismo e ficando restrito ao toma lá, dá cá do mercado da política de varejo, abandonando a estratégia de mudar radicalmente e de forma irreversível a realidade a favor dos oprimidos. Está deixando de ser uma oportunidade mal aproveitada de fazer o novo para se diluir no atraso histórico.
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