As imagens de destruição na cidade de Guaraciaba (SC), devido a uma tempestade ocorrida em 07/09, mostram casas de alvenaria completamente arrasadas, e a coberta de um ginásio novinho completamente retorcida e arrancada. As pessoas entrevistadas pareciam perplexas ao ver que, literalmente, o mundo tinha caído.
Para mim, o que chamou a atenção foi a constatação da nossa ciência meteorológica não ter tido ferramentas para a previsão dos três tornados que passaram na região, nem para documentá-los. Até há alguns anos não se falava na existência de tornados ou furacões na América do Sul. Agora, temos esses fenômenos com relativa frequência. Será que não víamos algo natural e só passamos a registrar agora, ou o que era verdade até ontem acaba de mudar por alguma razão a pesquisar?
Segundo informações mais recentes da meteorologia, os ventos podem ter atingido a velocidade de 200 km/h. A rigor, as construções no Brasil devem obedecer, entre outras, à Norma Brasileira NBR 6123 - Forças devido ao vento em edificações - que estabelece velocidades de cálculo para as diversas regiões do país, e fatores topográfico, de rugosidade, estatísticos e coeficientes de arrasto em ventos de baixa ou alta turbulência. Com esses fatores calculam-se cargas que deverão ser consideradas no cálculo estrutural. De acordo com o gráfico de Isopleta dos Ventos usado pela ABNT, o vento mais forte ocorre numa área próxima a Guaraciaba, com velocidade da ordem de 50 m/s, ou 180 km/h, valor inferior ao que pode ter ocorrido.
As normas baseiam-se em situações limítrofes, sempre a favor da segurança, onde os parâmetros ainda sofrem majorações nos cálculos prevendo falhas de execução, heterogeneidade de materiais, variações em esforços não previsíveis, etc. Se numa região nunca houve registro de um vento acima de 180 km/h, e se a recorrência do fenômeno (tempo onde volta a se repetir) é centenária, considera-se o dado como extremo, e ainda se aumenta o valor por segurança.
É como no conto dos Três Porquinhos, onde o Lobo Mau conseguiu destruir a casa de palha e a de madeira com sopros, mas não conseguiu derrubar a de alvenaria, que deve ter-se tornado parâmetro para normas técnicas por resistir às cargas de vento do predador (se é que lobo sopra...). Por ter resistido, novas casas foram feitas de acordo com o seu padrão, mas o Lobo Mau ficou mais forte, por alguma razão que ainda debatemos, e a derrubou com sopros mais fortes. A engenharia não pode parar para debater por que o Lobo Mau mudou: tem que buscar soluções para novos paradigmas, com mais pesquisas e novas normas.
PS: No Brasil, as normas da ABNT dão respaldo legal a uma grande gama de demandas, mas são inacessíveis ao cidadão, ao contrário das leis, que podem ser acessadas e baixadas em diversas fontes na internet. Se alguém quiser adquirir normas, tem que pagar, e caro, o que torna mais difícil informar à própria comunidade técnica as especificações exigidas, e praticamente impossível ao grande público saber o que deveria cobrar dos seus fornecedores.
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