Roubo de equipamentos de rádios e tvs, censura à imprensa, proibição do direito de reunião, cerco à embaixada brasileira, prisões sem mandato, toque de recolher. Esta é a Honduras de Michêletti, ou melhor, da face visível da ala militar que deu o golpe e terceirizou sua representação com esse civil sem caráter e sem compromisso com a democracia. Tudo avalizado pela Suprema Corte, outro aparelho das elites. Ameaçam invadir a nossa embaixada, cortaram luz, água e telefone, os jornalistas brasileiros não conseguem ir à própria representação. Isso é democracia ou a defesa dela? Nada disso. É a ditadura nua e crua. Conhecemos bem esse filme.
A afirmação induzida pela mídia brasileira, sempre no sentido de desgastar o governo e promover a idéia da salvação nacional por "pessoas de bem", é rápida e rasteira: o que o Brasil ganha com isso? Por que estamos nessa confusão, se a nossa tradição é pacífica no cenário internacional. Os que pregam isso são os mesmos que há dois anos queriam que mandássemos tropas para proteger os bens da Petrobrás na Bolívia. A questão para eles não é de intervir ou não: é de ganhar dinheiro ou evitar de perdê-lo com o enfrentamento. No caso de Honduras, não há dinheiro a ganhar, "apenas" defender o respeito à democracia, o que, para eles, não interessa.
Honduras está parada com tantos toques de recolher, desabastecimento, barreiras militares e indecisões quanto ao futuro. A rodovia Pan-Americana, que vai do Chile ao Alaska, está praticamente interrompida em Honduras, congelando o comércio regional. O prazo de 10 dias dado ao Brasil e energicamente rechaçado por Lula para entregar Zelaya ou tirá-lo de lá está correndo. Os emissários da OEA foram expulsos, e o regime ditatorial parece radicalizar. Qual a saída?
Guerra civil? Isso acontece quando civis de ambos os lados pegam em armas, o que não deverá acontecer, já que a elite que apóia Michêletti correrá para suas casas nos Estados Unidos ao primeiro tiro, e deixará aos pobres coitados investidos de soldados a missão de massacrar civis desarmados. Isso pode acontecer e, pior, os massacres são muito recentes na culturas da vizinha Nicarágua, aliada de Chávez, não sendo impossível uma generalização do conflito. Culpa do Brasil ter hospedado Zelaya? Não, culpa dos militares que romperam a ordem constitucional, expulsaram o presidente e botaram um fantoche no governo.
A hipótese de Zelaya voltar ao governo incondicionalmente, botar em cana toda a corja que se locupletou com a sua ausência, fazer novo plebiscito e se reeleger é praticamente impossível, porque o movimento social que o apoia é inorgânico e dificilmente terá a energia revolucionária para derrotar a ordem golpista vigente. Algo terá que ser negociado. Anistias, prosseguimento das eleições gerais, em um mandato tampão meramente simbólico de Zelaya, tudo isso pode acontecer, afinal, a politica não conhece vergonha na cara. Se Michêletti entrega o poder a Zelaya, a justiça o enquadra e pode acontecer o "impeachment". Se Zelaya assume, pode ir à justiça para enquadrar os golpistas e anular seus atos na interinidade. Uma solução pacífica seria uma grande pizza de bananas.
E o Brasil, o que ganha com isso? Se a coisa descamba para a violência, ficaremos no lugar de vítimas, com poder de exigir dos organismos multilaterais mais energia contra o regime e a solidariedade mundial. Se acontecer a pizza de banana, ficará para a história nosso papel corajoso para forçar o retorno à democracia. De qualquer modo, não haverá "dinheirim" para o Brasil. Apenas a afirmação do compromisso com a democracia e a radical condenação aos golpes, fundamental à afirmação de uma cultura de resistência a qualquer aventura da direita tupiniquim. Isso é o que incomoda a um grupo de pessoas que querem nos tirar de lá, jogar pedras na nossa diplomacia e manter o Brasil submisso, serviçal dos interesses estrangeiros, sem espaço para ser potência mundial.
e
Nenhum comentário:
Postar um comentário