terça-feira, 20 de abril de 2010

Usina de Belo Monte : divisor de águas do desenvolvimento

Passamos quase 30 anos com o Brasil andando de lado, como cobaia de governos incompetentes, corruptos e principalmente focados na especulação financeira. Ainda somos o paraíso do ganho fácil para os rentistas, mas no governo Lula II o país começou a se organizar para um projeto de desenvolvimento. O aparelho estatal foi recomposto, após a devastação neoliberal de Collor e FHC, seja com a contratação de pessoal, reorganização administrativa, revisão das carreiras e principalmente vontade política de mudar o modelo anterior, baseado no servilismo do estado ao mercado.

Mesmo com suas metas ainda lentamente cumpridas, o PAC I foi um passo para a volta do planejamento estatal. O país não estava preparado, principalmente por falta de forças produtivas, e faltaram projetos, principalmente, para usar os recursos destinados à infra-estrutura necessária a um projeto sustentável de crescimento econômico. O PAC II, lançado em março, lança as diretrizes para metas de médio prazo que poderão ser melhor planejadas e executadas com mais efetividade.

Belo Monte é um projeto de usina hidrelétrica que poderá manter o Brasil na vanguarda do uso de energia limpa. Será a terceira maior usina do mundo, e permitirá que o pais cresça por mais alguns anos sem riscos de apagões. A energia passou a ser um limitador importante para a velocidade do crescimento, e o reforço das fontes de fornecimento é estratégico, pensando em novas instalações industriais, comerciais e agrícolas.

Toda a discussão, que chegou a liminares na justiça tentando barrar o leilão da construção da usina, e passa por diversos interesses de ambientalistas, indígenas, oposicionistas oportunistas, ONGs, lobistas, banqueiros, fundos de pensão, empreiteiras e pelo governo, não chega ao cerne do problema, que é : que tipo de desenvolvimento queremos para o Brasil?

A depender de alguns grupos ambientalistas, ONGS e setores da esquerda mais ortodoxos, desenvolvimento seria a drástica redução dos padrões atuais de consumo, redundando na diminuição da demanda energética. Pela visão da oposição oportunista, desenvolvimento só é desenvolvimento quando são eles que fazem as coisas, e mesmo assim com ampla entrega do processo e de rios de dinheiro à iniciativa privada. Os banqueiros, fundos de pensão e empreiteiras pensam que desenvolvimento é ganhar dinheiro, não importa fazendo o que. Para o atual governo, parece que desenvolvimento é crescer a produção, e com ela os empregos e a renda, nem que para isso se tenha que passar por cima de questões ambientais, de processos atabalhoados de construção a toque de caixa, de restrições de órgãos fiscalizadores, enfim, os fins justificam os meios.

Se a nossa sociedade tivesse o nível de organização e a malha de interesses de hoje, possivelmente não teria existido a Petrobrás nem as demais estatais, Brasília não seria construída, não haveria nenhuma hidrelétrica de maior porte, nem termelétricas, nem usinas nucleares. Enfim, estaríamos num estágio de desenvolvimento parecido com o de muitos países da África, comprometidos pela indisponibilidade de energia.

Belo Monte é uma espécie de mãe de todas as batalhas por qual modelo de desenvolvimento teremos adiante. O governo tem a responsabilidade de prover energia para qualquer das soluções, exceto de pararmos no tempo num patamar de desenvolvimento estagnado defendido por muita gente boa e inteligente que conheço. Olhando-se as opções energéticas disponíveis, a não construção de Belo Monte e a substituição da sua capacidade energética por termelétricas, por exemplo, nos colocaria como novos vilões nas emissões de carbono. Energia solar, nem se fala, porque seria necessária uma área com painéis solares várias vezes maior que a alagada por Belo Monte para a mesma energia gerada, a um preço muito maior. Eólica, é muito limitada, inconstante e cara.

Restaria a energia nuclear de terceira geração, que está crescendo em utilização no mundo, e creio que, dadas as opções, seria a menos ruim para substituir Belo Monte. São muito mais seguras que todas as anteriores. Temos a tecnologia completa, desde a construção dos vasos de contenção, reatores, processamento dos insumos, deposição dos resíduos. Podem ser construídas em qualquer lugar, ocupando pequenas áreas, evitando extensas linhas de transmissão e os apagões que os problemas climáticos acarretam sobre elas. O investimento por MWh está entre os menos caros, acima do gerado por hidrelétricas. Isso, claro, pensando em sermos um país para todos, com produção que atenda às necessidades básicas de consumo da população. Se é para ficarmos na desigualdade, e voltarmos ao século XIX, basta não construir nada e esperar pelo colapso.


o.
foto: usinas nucleares de Angra II (em primeiro plano, cúpula) e Angra I (ao fundo, cilíndrica)




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