Acredito que a última pesquisa Ibope tenha sido o tiro no galinheiro que faltava na campanha de José Serra à presidência. Serra atraiu para o seu campo a tradicional direita representada pelo DEM, os tucanos, os anti-petistas, os anti-lulistas, os anti-esquerdistas, o PPS , entre outros. O PV saiu com candidatura própria à presidência que encontra dissintonia com os interesses regionais, mas tem no Rio a candidatura de Gabeira a favor de Serra.
Pesquisas que davam a Serra ampla vantagem sobre Dilma Roussef em março consolidava esse campo político, e dava ao PSDB o poder de escolher o vice. Tentaram Aécio Neves, que enrolou mas não aceitou, ainda quando Serra estava no auge. A partir daí, Dilma subiu e passou Serra até nas pesquisas que seus aliados sabem que puxa mais brasa para a sua candidatura, que é a do IBOPE, e com tendência de cair mais. A tendência de Dilma tem viés de crescimento, e Lula nem entrou para valer ainda na campanha, o que será intensificado com os programas eleitorais. Há um potencial de vitória no primeiro turno para a candidata da situação, e isso atrai apoios de empresários, instituições e com eles vêm os recursos que entram em campanhas aos governos estaduais e para deputados e senadores.
Esse cenário já está fazendo estragos nos estados, havendo casos onde atuais senadores já estão deixando de tentar a reeleição para disputar vagas como deputados, por falta de chances diante do rolo-compressor governista. E velhas raposas sem ideologia, que habitualmente frequentam o espectro político da direita, em tese aliados potenciais de Serra, começam a aderir ao mais descarado fisiologismo, do tipo "Dilma lá, eu cá". É a força desse voto que impede, por exemplo, uma candidatura majoritária se expressar em percentuais similares de votos entre os candidatos proporcionais no mesmo território em disputa. Nas eleições de 2006, por exemplo, Lula teve quase 50% de votos no primeiro turno, mas a sua coligação não conseguiu obter 50% das cadeiras na Cãmara dos Deputados.
A gente vê muita aberração em eleição. Em 2002, no Ceará, a gente via ferrenhos direitistas distribuindo "santinhos" com Lula. Seus comitês não tinham qualquer alusão a Serra. Até o candidato do PSDB ao governo, Lúcio Alcântara, criou um comitê eleitoral "Lu-lu", ou seja, Lúcio-Lula. Esses políticos não se preocupam com as contradições porque o eleitor é muito despolitizado, e por isso mesmo acha mais simpático que o velho coronel do interior apoie o seu candidato mais popular. Até nos grotões Lula tem penetração agora, ameaçando currais das velhas oligarquias. Em 2002 não tinha isso.
A péssima administração da campanha Serra é a responsável pelo atolamento das possibilidades de vitória. A arrogância do PSDB em querer cobrar caro mesmo enquanto a mercadoria apodrece na prateleira pode trazer aos tucanos uma derrota que abale sua atual bancada no congresso, porque aos seus candidatos não será tão fácil fazer a campanha "Dilma lá, fulano cá". Isso somado à derrocada do DEM, que deve enxugar suas bancadas, abre-se o espaço para uma expansão forte das bancadas do PT, PMDB e demais apoiadores de Dilma. Esse risco é sensível, e pode acontecer um "salve-se quem puder" desavergonhado nas hostes da oposição.
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