Enquanto o Exame Nacional do Ensino Médio não servia de prova para acesso a universidades, os erros nos seus processos não pareciam ter maior gravidade. O que se fazia com os seus resultados era a aferição no nível de ensino das escolas do ensino médio em todo o país, comparando a qualidade das instituições e permitindo ações para corrigir desigualdades, especialmente na área pública.
Recentemente foram divulgados os números do ENEM de 2009, que mostraram que 97% das escolas da rede estadual foram reprovadas porque tiveram média abaixo de 500 pontos. Das mil melhores, 887 são particulares, 85 federais, 26 estaduais e duas municipais. No Rio, o Instituto de Aplicação da UERJ, onde estudei (na época era Colégio de Aplicação), ficou em quarto lugar, atrás de três grandes escolas privadas. O Aplicação está a anos-luz dessas três em termos de qualidade de instalações, equipamentos, informática, mas consegue manter-se pela qualidade de professores e alunos, apesar de ser uma instituição estadual.
Agora o ENEM serve de base para acesso às universidades, e o rigor na segurança dos processos deveria ser outro. No ano passado, houve vazamento de provas, causando um enorme prejuízo de imagem ao exame, além de material. Agora, vazam os dados dos alunos de exames anteriores. Nada tão grave quanto o desvio de provas, mas que tira a credibilidade no processo de unificação dos vestibulares em todo o país.
Vou fazer o ENEM deste ano, para incentivar um filho que também fará vestibular. Mudou muita coisa desde os antigos vestibulares, pois a prova tem alcance nacional, não cabendo regionalidades, que pegavam principalmente em literatura, história e geografia. A inscrição não é para um determinado curso ou universidade: é uma espécie de certificação, onde através da pontuação se escolhe uma vaga em qualquer curso ou instituição. Um aluno pode pretender fazer medicina, que é a mais difícil, e não obter escores suficientes para esse curso, mas bastantes para fazer farmácia, e tenta se encaixar numa instituição com esse curso.
O preocupante da gente fazer essas provas é aferir que o ensino médio vem caindo muito com o passar do tempo. Fiz vestibular unificado e para o IME em 74, novamente o unificado em 79, e para a UFC em 1999. Neste último, que também foi para incentivar um filho e um enteado, fiz as provas com muita paciência, trabalhando logicamente as opções da múltipla escolha, e consegui coisas surpreendentes, como acertar 12 das 15 em química sem abrir um livro. Terminei a primeira fase em 6° lugar para Administração, e achei aquilo um absurdo. Na segunda fase, com provas de matemática, história e redação, fiquei mais surpreso ainda ao conseguir o 1° lugar. Vamos ver neste ano o que vai dar. Se conseguir pontuação para algum curso importante, mesmo sem estudar, será mais uma constatação da falência do atual nivel médio.
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