Ontem onde andei e conversei havia consenso na necessidade das autoridades encararem os bandidos e derrotá-los, mesmo com os custos e baixas de uma guerra. As imagens da TV ao vivo, agora há pouco, corroboram com essa sensibilidade: as pessoas estão oferecendo água, comida e apoio aos policiais. Isso é inédito. O Disque-Denúncia também teve acessos 30% acima do normal, com denúncias de crimes ou suspeitas. Isso cria um momento político que pode culminar com uma grande batalha com centenas de mortos. Tudo na conta do tráfico.
As UPPs seguem uma estratégia inteligente. Ocupa territórios expulsando os bandidos armados, fazendo vista grossa ao tráfico, que corre à boca miúda. Os "desempregados" recuam com as armas para locais como o Complexo do Alemão, a Vila Cruzeiro e o Complexo da Maré. Isso está trazendo conflitos dentro das facções, e a ordem para "mandar recados" às autoridades e a unificação de facções veio para tentar freiar a perda de territórios rentáveis. A Secretaria de Segurança sempre disse que não teria como ocupar esses três territórios extremamente armados, a não ser com pelo menos mil homens somente para o Complexo do Alemão.
Além dessa realidade de recursos, há o problema do preço político a pagar com a operação. Nenhuma autoridade queria bancar uma chacina, antes das eleições, apenas mostrar os resultados positivos da "comida pelas beiradas" das UPPs. As vitrines foram eficientes: quem é do asfalto aplaudiu a paz, e quem é do morro também sentiu o alívio com o fim da opressão do tráfico. Como a polícia vem dando aviso prévio da implantação das UPPs, praticamente não houve confrontos nas ocupações. A população não viu a guerra de perto.
Agora a coisa é diferente. Passaram-se as eleições. Ontem o Secretário de Segurança, Beltrame, disse que os bandidos acharam que as UPPs seriam uma política eleitoreira, mas elas vieram para ficar, daí o desepero das ações de terror. Com os ataques, a população carioca, que votou em Sérgio Cabral pela continuidade do desmonte do tráfico, vê como única alternativa o esmagamento dos focos criminosos.
Exemplo: ontem uma menina morreu baleada em meio aos confrontos. Noutros tempos, haveri
a escandalosas manifestações de repúdio à polícia, provocadas primeiro pelos movimentos sociais comandados pelo tráfico, por políticos corruptos e até por juízes a soldo do crime. Nada disso aconteceu. A menina morreu, e ficou por isso mesmo. Ficou por conta das perdas de guerra.
Até a Globo, que vinha atacando as autoridades para fazer desgaste político, rendeu-se aos fatos e à vontade popular. Desde as 12:30h vem passando ao vivo as imagens do cerco ao Morro do Cruzeiro e ao Complexo do Alemão. Para não ter os pneus dos Caveirões furados por manzuás, o BOPE está operando com veículos blindados anfíbios da Marinha, movidos por esteiras, que passam facilmente pelos pregos e barreiras de fogo. Bandos de mais de 30 homens armados aparecem nas imagens, andando de um lado para outro, com fuzis nas mãos, são mostrados como num filme policial ou de guerra. Os helicópteros estão a 8km do local, com teleobjetivas poderosas, mostrando imagens que fazem a invasão pela polícia parecer videogame.
Os bandidos perderam, e não contavam com a rebordosa. Gente mandada para Catanduvas, outros para Rondônia, paióis certamente serão perdidos, bem como toneladas de drogas. A esta hora, na iminência do massacre, as autoridades ligadas ao tráfico devem estar sendo acionadas para freiar a ocupação. Vão tentar um novo acordo para evitar a derrota pesada, como um "cessar-fogo" do terrorismo em troca da manutenção dos territórios. Não creio que terão sucesso.
A polícia está com carta-branca da população, e vai ocupar as áreas para a imediata implantação das novas UPPs, antecipadas diante dos fatos, porque a população parece disposta a pagar o preço das mortes para resolver os problemas. Agora a TV mostra mais de 200 homens armados batendo em retirada do Cruzeiro para o Alemão, onde também está tudo cercado. O carioca está de saco cheio, e quer ver bandidos mortos. Vai rolar um "apagão" de direitos humanos em nome dos fins justificarem os meios. É a lógica do linchamento, onde não cabem julgamento, defesa e processo, apenas os que caírem serão automaticamente considerados "bandidos" e, assim, "justamente mortos".
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