quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Como fazer política na aba dos VIPs



A esperteza e o oportunismo político criam imagens constrangedoras para algumas pessoas alçadas à condição de famosos, seja por mérito ou pelos 15 minutos de fama a que todos nós temos direito, segundo o artista plástico americano Andy Warhol, aquele que ficou famoso porque empilhou latinhas de sopa que chamaram de "pop art". Usar políticos e famosos para limpar barras ou projetar ambições é uma coisa muito antiga. É como se as pessoas de projeção tivesse um "toque de Midas", capaz de transformar o papagaio de pirata em uma coisa valiosa.

VIP quer dizer "very important person", ou "pessoa muito importante" e é usado para distinguir a casta de ricos, poderosos e famosos dos demais mortais. Todo mundo é igual perante a lei, mas VIP é mais igual que os outros, tendo direito a mordomias como prisão especial, embarque antes dos outros nos aviões, não pegar filas, passaporte diplomático e ser convidado para bocas livres promovidas por emergentes ("new riches") para servirem de enfeite nas fotos destes que irão para as colunas sociais para mostrar "prestígio".

Nos jornais de hoje aparece a foto do craque Ronaldinho, agora carioca, recebido por uma multidão de 20 mil torcedores na sede do Flamengo, na Gávea (Rio). E ao seu lado, quase como uma gêmea siamesa, estava a vereadora Patrícia Amorim (PSDB), ocasionalmente e infelizmente presidente do clube. Na TV praticamente inexiste imagem apenas do jogador. Patrícia, que anda mal das pernas no Mengão porque o time nada conquistou no ano passado e correu o risco de rebaixamento, aposta todas as fichas em Ronadinho para se redimir perante a galera e, quem sabe, se o time voltar a brilhar, pensar até em ser a candidata tucana à prefeitura em 2012, acreditando que a torcida do Flamengo votará nela em reconhecimento.

Outra cena interessante vi no jornal Folha Universal, disposto na porta de uma Igreja Universal do Reino de Deus por onde passei. A foto era de Dilma, tomando posse, apertando a mão do bispo Edir Macedo, dono da igreja. Por contra do aperto de mãos, fizeram uma matéria realçando a dignidade de Dilma e que ter recebido Edir Macedo significava a redenção de todos os seus pecados, das prisões, de tudo. Diz o jornal, que na primeira página mostra, ao lado da foto com Dilma, a cores, a foto de Macedo na cadeia, em preto e branco, dando a idéia de passado longínquo:

"POSSE DA HONRA

Dezenove anos após ser preso, o bispo Edir Macedo é cumprimentado juntamente com chefes de Estado e outras autoridades na posse da primeira mulher presidente do Brasil. Veja como o preconceito e a injustiça foram derrotados neste dia histórico"

Quem lê isso sem ver a foto de cima tem a impressão que lá encontraria a foto de Dilma na prisão da ditadura. A mensagem que se tenta passar é a do aperto de mão significar a anistia por tudo que Macedo passou. Quem lê não sabe que o cerimonial presidencial chama todos os VIPs, desde diplomatas, militares de alta patente, empresários, ministros, representantes de religiões, donos de meios de comunicação, burocratas de projeção, juízes, parlamentares, prefeitos, etc. E que VIP aperta a mão de qualquer um e ainda posa para foto. Faz parte.

Um comentário:

  1. O que devemos interpretar e qual significado deve ser atribuído ao último dos fatos? Entro no mérito do segundo caso, por um pais ser maior que uma cidade e pela limitação das pessoas se aterem no máximo a 140 caracteres ao ler um texto.

    1) Bispo Macedo representa e tem o voto de confiança de uma parcela significativa do povo brasileiro independentemente de qualquer ato criminoso ou não que tenha cometido. Na democracía a vontade do povo é a vontade suprema independentemente que qualquer questão ética ou moral... Ela estabelece o que é moral ou imoral; cria leis; muda a constituição se necessário for.

    2) A Sra. Presidente Dilma carrega consigo os interesses desse senhor e das ideias (ou mais importante, dos valores) que ele representa.

    3) Hoje há uma convergência de conveniências que sustenta essa conjuntura, mas que a médio prazo, quando os oponentes comuns forem superados, as polaridades entre o que ambos representam quebrará essa união.

    Por fim, e mais importante, que medidas são tomadas hoje para quando isso acontecer, não seja a aurora de uma nova idade média?

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