domingo, 16 de janeiro de 2011

RJ : Solidariedade na tragédia serrana

Fica difícil falar em outra coisa que não seja a dor das pessoas pela fatalidade que está acontecendo em Petrópolis, Teresópolis e Friburgo. Os jornais do Rio, até os especializados em esportes, têm em suas capas destaques para o problema. Até os mais críticos aos governos estadual e federal já baixaram a bola, porque diziam que era um caso previsível, mas não foi, porque houve ruptura da série histórica. Choveu 184 mm em três horas em Friburgo, o equivalente a 20 dias da média de janeiro, o que fez dissolver algumas montanhas causando o tsunami pelos vales a mais de 100 km /h, sendo inviável qualquer prevenção. Áreas que não eram consideradas de risco foram atingidas pela fúria das águas.

Quando comecei a ler sobre os impactos do desastre, que é tido como o maior da história do Brasil, com mais de 600 mortos podendo chegar a mil, lembrei-me de 1967, que para mim foi a maior que testemunhei. Naquele ano, a cidade do Rio de Janeiro teve que racionar energia, porque o fornecimento da hidrelétrica de Ribeirão das Lajes foi quase todo comprometido porque a lama invadiu as turbinas e suas instalações. Para não ficarmos totalmente no escuro, meu pai passou uma fiação da casa até a bateria do carro, e instalou lâmpadas de 12 volts em alguns lugares. Nada podia ser colocado em geladeira. Isso ficou por meses, até a limpeza da hidrelétrica.

A cidade ficou coberta por uma camada de lama que também levou muito tempo para ser retirada. Flagelados aos montes. Não havia a facilidade de comunicação de hoje, e o antigo Estado do Rio, que depois se fundiu com a Guanabara para formar o atual estado, era praticamente rural, com telefonia rudimentar, sem emissoras de TV, rádios de baixo alcance. A totalização das vítimas foi impossível de ser feita. Somente na Serra das Araras, no município de Piraí, estima-se que houve 1400 mortos, com a dissolução das montanhas, que gerou um cenário desértico por alguns anos. Carros, ônibus, caminhões, tudo ficou soterrado e muita coisa não foi achada até hoje. Seria essa a maior tragédia do Brasil em todos os tempos, superando a de Caraguatatuba do mesmo ano.

Naquele verão, como nos demais, estávamos na casa da família em Correias, bairro de Petrópolis entre o centro e Itaipava, às margens do Rio Piabanha. Nossa casa ficava bem elevada em relação á rua, encravada numa pequena encosta. A via, por sua vez, ficava num nível uns 2m acima da linha do trem, que ficava um pouco acima do gramado do Esporte Clube Correias, que estava uns 4 m acima do nível normal do rio. Do outro lado do rio, também cerca de 4m acima do seu nível, fica a Rodovia União Indústria, que era o acesso a Correias, seja vindo do centro de Petrópolis ou por Itaipava. Naquela chuvarada de 1967, a água chegou aos jardins da casa, fazendo desaparecer a estrada e tudo mais, inclusive casas ribeirinhas.

Dezenas de barreiras cairam na Rio-Petrópolis, que era uma das poucas opções de transporte entre o sul e o norte-nordeste. Quando as águas baixaram, fome e desespero atingiram milhares de pessoas. A antiga estação ferroviária, no Centro, virou abrigo e centro de coleta de donativos. Não havia recursos para buscar gente enterrada pelos morros que vieram abaixo. Como aconteceu na cidade do Rio, na Serra das Araras, na região serrana de Petrópolis, Vale do Paraíba, Campos, etc, e não havia registros confiáveis, possivelmente houve mais mortos que agora.

Com o prolongamento das chuvas, outros municípios próximos começam a encarar os deslizamentos mais normais, que acontecem por encharcamento das encostas, causando novas vítimas. Os números de vítimas numa mesma família surpreendem porque há sítios onde há séculos os grupamentos familiares se juntam em comunidades numerosas.

A mobilização está intensa, mas não está suficiente para atender ao quadro terrível de destruição, como mostra o balanço mais recente da Defesa Civil:

"Dom, 16 de Janeiro de 2011 00:00

A secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil informa balanço parcial do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil estadual em relação às vítimas fatais, desabrigados e desalojados na Região Serrana, em função das chuvas. A Secretaria esclarece que militares da corporação permanecem em campo, ajudando os municípios mais afetados a socorrem as vítimas.

Vítimas fatais:

Teresópolis: total de 263 vítimas

Sumidouro: total de 19 vítimas

Petrópolis: total de 55 vítimas

Nova Friburgo: 274 vítimas

TOTAL DE 611 MORTOS

Desalojados e Desabrigados

Petrópolis: desalojados 3.600, desabrigados 2.800

Teresópolis: desalojados 960, desabrigados 1.280

Nova Friburgo: desalojados 3.220, desabrigados 1.970"

Por todo o mundo há esforços de doações de pessoas e governos. Pela cidade do Rio de Janeiro há postos de coletas em pontos de grande concentração, igrejas, clubes de futebol, shoppings. Os postos de coleta de sangue também estão espalhados, e as doações estão batendo recordes históricos. Água mineral e alimentos não perecíveis são as maiores necessidades.



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